Após o Partido Liberal anunciar o apoio ao candidato Davi Alcolumbre, do União Brasil, para substituir Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência do Senado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que está articulando um acordo para emplacar um nome na vice-presidência da Casa, e assim buscar mais espaço e avanço de pautas da direita. A estratégia é semelhante à adotada pela legenda na Câmara dos Deputados, quando o apoio à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) foi costurado com o propósito de conquistar mais espaço e cargos, inclusive com a possível indicação de um nome do PL para a vice-presidência da Casa.
Em entrevista recente concedida à Rádio Auriverde, de Bauru, Bolsonaro rebateu as críticas de alguns parlamentares, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), de que a direita não pode se distanciar de suas origens ao apoiar candidatos de outras legendas. O ex-presidente afirmou que, ao lado do líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), tem conversado com o candidato Alcolumbre, favorito para voltar à presidência do Senado Federal no ano que vem.
"Nós conversamos sim, eu e Rogério Marinho, conversamos com Alcolumbre. Alguns acham que não pode conversar com ele. Nós vamos conversar com quem? (...) 'Tá' quase certo a gente ter a 1ª vice-presidência, que também ajuda a definir pauta na ausência do presidente", explicou Bolsonaro.
O ex-presidente defendeu ainda a composição com outras legendas para que o Partido Liberal garanta mais espaço em comissões do Senado, alegando que hoje, em minoria, a direita não controla nenhuma comissão, o que a impossibilita, inclusive, de convocar ministros para dar explicações sobre determinados temas.
Alianças buscam alavancar pautas como anistia e mais poder de decisão na Câmara e Senado
Outro motivo que levou o PL de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro a se aproximar de partidos do Centrão tanto no Senado quanto na Câmara foi a vontade do partido de avançar na discussão da anistia aos presos do 8 de janeiro. Em uma manobra recente para impedir a votação iminente do tema na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde a direita tinha força para aprovar a proposta, o presidente Arthur Lira (PP-AL) decidiu criar uma comissão especial para tratar do tema – que ainda não foi instalada.
Mesmo com prazos apertados, já que o recesso parlamentar se inicia em 22 de dezembro, Lira prometeu a aliados, em troca de apoio ao seu candidato na Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que colocaria a anistia em votação.
O próprio Bolsonaro, após conversar com Lira, disse que acreditava na possibilidade e que de nada adiantava aprovar a matéria na Câmara, se depois a tramitação ficasse parada no Senado. E é por isso que Bolsonaro e o comando do PL tentam também garantir que o possível futuro presidente da Câmara Alta paute a anistia aos presos do 8 de janeiro.
Ainda na semana passada, o ex-presidente afirmou que confia que o Senado possa aprovar um anistia que reverta sua inelegibilidade. “O Congresso é o caminho para quase tudo. É o Poder mais importante”, afirmou Bolsonaro.
Ainda sobre a aliança do PL com o Centrão nas disputas das presidências da Câmara e do Senado, Bolsonaro disse que na política é preciso escolher "o melhor ou o menos ruim", e lembrou de 2023, quando o PL optou por uma candidatura própria no Senado, com o senador Rogério Marinho, e que, ao perder, ficou sem espaço tanto na Mesa Diretora quanto nas comissões permanentes da Casa.
"Com isso [o apoio a Davi Alcolumbre], vamos ter a primeira vice-presidência do Senado ou a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). São dois postos-chave importantíssimos. Vamos deixar de ser zumbis dentro do Senado", pontuou o ex-presidente da República.
O senador Eduardo Gomes (PL-TO), ex-líder do governo Bolsonaro no Congresso, é hoje o nome mais cotado para a vice-presidência. Entretanto, alguns interlocutores do partido têm dito que o objetivo é garantir que a eventual presidência de Davi Alcolumbre no Senado respeite a proporcionalidade das bancadas para ocupar os espaços na Casa Alta.
As eleições ocorrem no começo do próximo ano legislativo, em fevereiro, e os mandatos são de dois anos.
Parlamentares conservadores adaptam estratégia para garantir espaço
A deputada Caroline de Toni (PL-SC), que preside a CCJ na Câmara, compartilha da opinião de Bolsonaro, e disse ao programa Entrelinhas, da Gazeta do Povo, que as alianças são necessárias neste momento em que a direita não tem maioria em nenhuma das casas do Congresso Nacional. "Não adianta se iludir", enfatizou, ao comentar sobre os motivos de o PL não apresentar uma candidatura própria para comandar a Câmara e o Senado.
"Alcolumbre não é ideal, poderia ser outro [candidato da direita], mas não tem maioria de votos. Mal ou bem, é melhor amarrar a votação da anistia do que não ter nada", completou a deputada. "Enquanto não tivermos a maioria a gente tem que fazer não o ideal, mas o possível de ser feito".
De Toni lembrou ainda que o PL obteve a presidência da CCJ em 2024 graças a um acordo firmado com Lira, o que, segundo ela, garantiu o avanço de temas importantes para a direita, como o pacote antiativismo judicial, que busca diminuir a interferência do Supremo Tribunal Federal (STF) no Legislativo, ao limitar decisões monocráticas e permitir a revisão de entendimentos da Corte – propostas que ainda não passaram em votação no plenário da Câmara.
Alcolumbre e Motta reúnem do PT ao PL em torno de suas candidaturas
Apontados como favoritos à sucessão no Senado e na Câmara, Alcolumbre e Motta têm reunido apoio de diversos partidos às suas campanhas, mesmo ainda faltando três meses para as eleições.
Até agora, o senador Alcolumbre, que também teve a candidatura avalizada por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), conta com o apoio do PT, PL, PP, PDT, PSB e do seu partido, o União Brasil, o que deve lhe render ao menos 44 votos – para ser eleito presidente são necessários 41 votos dos 81 senadores. O senador Marcos Pontes (PL-SP) também lançou sua candidatura à presidência do Senado, embora o PL tenha aderido à campanha de Alcolumbre.
Já na Câmara, o deputado Hugo Motta conta com a adesão de 15 partidos, da esquerda à direita, além do endosso de Arthur Lira, que buscava uma candidatura de consenso para eleger um sucessor. Motta ainda espera que o União Brasil, com quem já conversa, se some à coligação, mas aguarda a desistência oficial de Elmar Nascimento (União-BA), que, ao lado de Antônio Brito (PSD-BA), tenta levar a disputa para um 2º turno.
Apoios a Alcolumbre e Motta fortalecem direita no Congresso, avalia analista
Ao avalizar as candidaturas de figuras de maior peso político no Congresso Nacional, Bolsonaro tenta retomar o protagonismo político dos conservadores, ao mesmo tempo em que pode criar uma base de poder mais alinhada aos interesses da direita, como as pautas de costumes e na área de segurança, por exemplo.
Na opinião do diretor do Ranking dos Políticos, Juan Carlos Gonçalves, ao mesmo tempo, o apoio de Bolsonaro a Davi Alcolumbre e Hugo Motta está relacionado a interesses estratégicos na composição da Mesa Diretora e na distribuição de cargos nas comissões.
"Esses cargos são fundamentais para a influência política, pois permitem maior controle sobre a pauta legislativa e decisões importantes para o Congresso. Além disso, consolidar alianças nesses espaços ajuda a reforçar a base de apoio e garantir uma presença mais sólida nas discussões de temas prioritários para o grupo político de Bolsonaro", destaca Juan Carlos.
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