O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retornou ao Brasil com o compromisso de contribuir ativamente para o sucesso da direita nas eleições municipais de 2024. Em reunião com parlamentares na manhã desta quinta-feira (30), ele manifestou não apenas a intenção de que os partidos da oposição elejam 60% de todas as prefeituras nas 5.568 cidades do país, como também reforçou seu desejo em eleger 1 mil prefeitos do Partido Liberal.
Bolsonaro sinalizou, contudo, que vai atuar não apenas pelo PL. Ele também manifestou o interesse de apoiar candidatos do PP e Republicanos, partidos apoiaram a candidatura à reeleição em 2022, e também do partido Novo, que integra a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A meta de eleger 1 mil chefes para o Executivo municipal já havia sido mencionada por Bolsonaro em outras reuniões internas do partido, e foi destacada novamente nesta quinta, afirmou o deputado federal Filipe Barros (PL-PR), que esteve com o ex-presidente em uma reunião fechada após o discurso de Bolsonaro na chegada ao encontro com aliados.
"Temos o desafio nas eleições municipais em que o próprio presidente disse que nossa meta é eleger 1 mil prefeitos. Então, estamos trabalhando em várias frentes e o nosso presidente é, claro, a pessoa que vai coordenar tudo isso junto com o presidente [nacional do PL] Valdemar [Costa Neto]", destacou Barros.
A hipótese de o PL eleger 1 mil prefeitos significaria que o partido teria o comando de cerca de 18% das prefeituras do país. A meta foi traçada tendo como base os 99 deputados federais eleitos nas eleições do ano passado, que representam quase 20% das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados.
"Ele mostrou a preocupação [de eleger prefeitos] para toda a direita, não só ao PL. Falou do PP, do Republicanos e do Novo", sustenta o ex-deputado federal Vitor Hugo (PL-GO), que disputou o governo de Goiás nas últimas eleições. "A meta é conquistar pelo menos uns 60% dos prefeitos, a direita como um todo. E isso nos fortalece para 2026 em todo e qualquer projeto da direita", complementou.
Aos aliados, Bolsonaro disse ser um "soldado do PL e da direita", afirma o deputado federal Sanderson (PL-RS), presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara. "Ele disse que trabalhar para eleger o maior número de vereadores e prefeitos em 2024", comenta. "Se ele falou em política foi isso: 'vamos nos preparar para a eleição do ano que vem'", endossa o deputado Joaquim Passarinho (PL-PA).
Bolsonaro mostra desejo em contribuir com aliados e não atacar poderes
Na reunião com os parlamentares, Bolsonaro manifestou seu interesse em trabalhar de forma "contributiva", afirma o deputado Sanderson. "Ele não retorna para atacar ninguém, ele deixou isso bem claro, que não vem para atacar o STF [Supremo Tribunal Federal], a classe política, nem nada. Ele vem para contribuir e sabe da sua importância", destaca.
O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara afirma que Bolsonaro deixou claro, porém, que os deputados federais e senadores, com seus mandatos, terão a obrigação de promover as ideias da direita no Brasil dentro do Congresso.
"O [ex-]presidente Bolsonaro será um ator importante, claro, mas, em não tendo mandato, ele fica com uma limitação até de [espaço para] falas. Isso ficará a cargo dos deputados e senadores, mas o fato é que a participação do [ex-]presidente, hoje, no cenário político, será uma participação contributiva", sustenta Sanderson.
Mesmo prestes a assumir a presidência de honra do PL, cargo que exercerá a partir da próxima semana, Bolsonaro manifestou aos aliados que Valdemar Costa Neto é o presidente do partido e terá a palavra final. "O chefe é o Valdemar e ele deixou isso bem claro, para ninguém dizer que ele está vindo tomar o lugar de alguém", comenta o deputado Joaquim Passarinho.
O deputado Filipe Barros reforça a disposição contributiva de Bolsonaro em auxiliar no processo de organização da oposição. "Estamos trabalhando em várias frentes e o nosso [ex-]presidente é a pessoa que vai coordenar tudo isso junto com o presidente Valdemar", destaca.
Bolsonaro vai despachar de uma sala montada para ele na sede do PL. "Já está tudo preparado, inclusive, há um grande espaço para ele", destaca Barros. "Ele disse que vai começar a despachar no partido e a atender politicamente [os aliados em seu gabinete] e construir uma agenda", complementa Passarinho.
Definição estratégica da organização da oposição não foi discutida
Mesmo em reunião reservada com os aliados, Bolsonaro não chegou a tratar a fundo do aspecto operacional da organização da oposição. Barros disse que a agenda desta quinta foi para "recepcionar e confraternizar. Passarinho ressaltou que o clima era de festividade e boas-vindas por seu retorno, não uma agenda política para definição de estratégias.
Líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN) reforçou o aspecto de celebração do encontro. "Fui dar um abraço nele, foi mais um processo de recepcioná-lo, de abraçá-lo e de dizer que ele é muito bem-vindo. Durante a semana, a gente vai conversar a respeito [do processo de organização da bancada opositora]", destaca.
Marinho diz Bolsonaro retornou "bem disposto" e "animado". "Acho que ele tem uma responsabilidade muito grande, teve 50% dos votos do país, o país precisa muito da presença do [ex-]presidente, é um dos maiores líderes políticos que o Brasil já teve. A hora, agora, é de termos tranquilidade, de recepcionarmos o [ex-]presidente, de fazer o que tem que ser feito e fazer a resistência necessária para evitar os retrocessos que estão sendo anunciados por esse governo", destaca.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), líder da minoria no Senado e ex-ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, reforça que as discussões sobre a condução da oposição ainda serão feitas. "Vamos organizar com o Valdemar isso tudo, hoje é descansar, ele vai estar com a dona Michelle [Bolsonaro, presidente do PL Mulher], vai voltar para casa, ter uma vida tranquila agora, mais calma", comenta.
Líder do PL no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ) diz que o secretário de Relações Institucionais do PL, general Braga Netto, ainda "vem desenhando o modelo de estratégia e de planejamento", no qual Bolsonaro será inserido no processo de coordenação da oposição. Ele enfatiza as eleições municipais como principal aspecto traçado. "Agora mais ainda com a presença do [ex-]presidente, o partido vai estar mobilizado em todo o país", afirma.
Agenda de viagens de Bolsonaro será definida em breve, dizem aliados
Embora ainda não exista um planejamento estratégico e operacional definido sobre como Bolsonaro vai ser inserido na condução da oposição, aliados reforçam a expectativa por uma agenda de viagens. "É inevitável fazer alguma agenda de viagens, o próprio presidente já disse publicamente que deve retomar", afirma Barros.
O deputado diz que a ideia é que Bolsonaro vá a cada estado brasileiro. "Irá fortalecer o partido, falar com as lideranças políticas, com a população, isso é inevitável e vai acontecer até já visando as eleições municipais. Se queremos que nosso partido tenha um papel fundamental, o [ex-]presidente tem esse entendimento e vai contribuir através de sua presença física nos estados", destaca.
Nogueira reforça que "percorrer" o país será um processo "natural". "Eu acho que é o certo, vai começar agora as eleições municipais, o processo de escolha dos candidatos dele. A força eleitoral do [ex-]presidente Bolsonaro vai ser uma coisa sem precedentes no país", comenta.
Passarinho diz que as viagens acontecerão em breve e avalia que, em qualquer estado que Bolsonaro comparecer, ele irá provocar uma "ferida" política "muita grande" por onde passar. "Talvez não em todos os estados, mas tem tem regiões no meu estado [Pará], no sul e sudeste, onde Bolsonaro ganhou em quase todas as cidades. Uma viagem dele numa cidade dessas no ano que vem faz um estrago. Isso ainda vai ser programado", afirma.
Apesar disso, a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, esclarece que o assunto não entrou em discussão na reunião com os parlamentares. "Hoje ele só chegou de viagem, não tem nada assim. Ele vai ser o presidente de honra do PL, então, vamos trabalhar", comenta.
Bolsonaro esclarece ida aos EUA, fala sobre CPMI e critica o governo Lula
Em conversa com os aliados, Bolsonaro justificou sua ida aos Estados Unidos e, segundo o deputado Sanderson, disse que saiu "voluntariamente" do Brasil para "ajudar no arrefecimento" do clima político, mas que está disposto a contribuir com o enfrentamento à esquerda e ao governo Lula. "O clima era de muita pressão e, agora, ele já está participando [do processo de oposição] à medida em que ele tem aconselhado e, querendo a esquerda ou não, é uma liderança forte", destaca.
Nogueira destaca o retorno de Bolsonaro e o apelo popular que ele tem junto aos eleitores. "Lula, hoje, está encarcerado. Ou vai para o Nordeste ou para algum cercadinho, ele não sai para o meio do povo. Vê se ele sai aqui, se vai à porta. O [ex-] presidente Bolsonaro, não, ele vai para o meio do povo", opina.
Para Portinho, Bolsonaro retomou seu "semblante de felicidade" na chegada ao Brasil. Ele afirma que o retorno do ex-presidente reforça o papel da oposição. "O governo [Lula] tem errado muito, e, agora, [Bolsonaro] é mais uma voz e uma voz de liderança que se soma a nós que resistimos aqui", destaca.
O senador diz que Bolsonaro sabe de seu papel na oposição e celebra que o momento é importante. "É um momento em que o país já experimenta os resultados de um desgoverno, está pesando sobre o cidadão, só se fala em imposto, em encargo, em reforma do arcabouço fiscal, que, sem dúvida, deve beneficiar a máquina do Estado", critica Portinho.
O líder do PL no Senado avalia que a classe média vai "sofrer muito" com uma reforma tributária "da maneira que o governo está encaminhando" e considera importante a união entre os partidos de oposição, não apenas o PL. "Agora, com o [ex-]presidente Bolsonaro presente, de corpo e alma, é um grande reforço nos argumentos e nessa discussão", reforça.
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