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Entenda a briga no governo que opôs Ricardo Salles a Luiz Eduardo Ramos
Da esq. para a dir.: Braga Netto (ministro da Casa Civil), Jair Bolsonaro, Ricardo Salles e Luiz Eduardo Ramos na solenidade pelo Dia do Aviador.| Foto: Isac Nóbrega/PR

De um lado, a ala ideológica – apoiada por parte dos ministros civis e pela bancada tradicional de apoio ao Planalto no Congresso. Do outro, os militares – que hoje são aliados do Centrão. A mais nova disputa interna no governo do presidente Jair Bolsonaro deixou os bastidores e levou os dois lados trocarem farpas públicas nos últimos dias e a expor a fissura que ocorre no Planalto, na Esplanada e na base de apoio a Bolsonaro no Congresso.

O atrito envolve diretamente dois ministros: Ricardo Salles (Meio Ambiente) e o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Tudo começou na última quinta-feira (22), quando Salles usou as redes sociais para expor o atrito com Ramos. Em publicação que logo foi apagada, Salles chamou o general de "banana de pijama". Depois, em outra postagem, criticou a postura de "maria fofoca" de Ramos.

As publicações foram feitas porque Salles acredita que Ramos, articulador político do governo com o Congresso, atua para minar sua atuação na pasta do Meio Ambiente – principalmente na destinação de recursos. Ramos estaria articulando com o Ministério da Economia a destinação de mais recursos para os ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional, em detrimento do Meio Ambiente – que estaria ameaçado de sofrer cortes.

Na quarta-feira (24), Salles determinou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) paralisasse todas as ações de combate a incêndios florestais no Pantanal e na Amazônia. Oficialmente, a medida foi tomada por responsabilidade orçamentária. Mas foi interpretada como uma pressão para que a pasta conseguisse mais dinheiro.

Outros ministros civis, que também temem perder dinheiro na divisão do bolo orçamentário, teriam ficado ao lado de Salles reservadamente. Além disso, integrantes da chamada ala ideológica no Planalto também apoiam Salles. Haveria inclusive uma pressão deles para que Bolsonaro demita Ramos.

Como foi a "operação abafa" para acabar com a briga entre Salles e Ramos

Para evitar que a briga interna se acirrasse ainda mais, entraram em ação os "bombeiros" do Planalto para tentar selar a paz. Na quinta-feira (22) à noite, Salles e Ramos chegaram a se falar brevemente.

Na sexta-feira (23), os ministros estiveram um ao lado do outro numa solenidade na base da Força Aérea Brasileira (FAB), em Brasília, para comemorar o Dia do Aviador. O próprio presidente Jair Bolsonaro estava nessa cerimônia, e atuou como mediador de seus dois ministros. Bolsonaro e os ministros almoçaram juntos, acompanhados de outros membros do governo. De lá, Ramos e Salles saíram com a intenção de conversar pessoalmente, mas em outro momento.

Ainda na sexta-feira (23) o Ministério da Economia liberou R$ 60 milhões para o Meio Ambiente, em mais uma medida para apaziguar os ânimos.

Mas a briga chegou ao Congresso, e mostrou a divisão na base do governo

Mas a briga, a essa altura, já havia ultrapassado os limites do governo e chegado ao Congresso, mostrando que existe uma divisão entre os apoiadores do governo mais antigos e os "neobolsonaristas" do Centrão. Quando passou a integrar oficialmente a base governista, o Centrão tomou os principais cargos de liderança que até então estavam sendo ocupados principalmente por integrantes do PSL.

Os deputados bolsonaristas de primeira hora, que têm uma atuação mais fortemente alinhada com a ideologia de Bolsonaro, ficaram ao lado do ministro do Meio Ambiente. Filho do presidente , Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se manifestou a favor de Salles em suas redes sociais: “Força, ministro. O Brasil está contigo e apoiando seu trabalho". O mesmo foi feito por Bia Kicis (PSL-DF) e Caroline De Toni (PSL-SC).

Do outro lado, o Centrão se manifestou a favor de Ramos – que foi o principal articulador do ingresso desse bloco de partidos na base aliada de Bolsonaro.

Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) usou as para dizer que Ramos é quem está garantindo a governabilidade a Bolsonaro: "Ministro Ramos, competente na articulação política. Ainda ontem, em solenidade no Palácio do Planalto, tratamos do tema da articulação com o presidente Bolsonaro. Entrosado com os líderes do governo e dos partidos na Câmara e no Senado , Ramos está assegurando governabilidade".

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) seguiu na mesma linha e escreveu no Twitter. “O Progressistas [PP] manifesta total apoio ao trabalho do ministro-chefe da secretaria de Governo da Presidência da República, ministro Luiz Ramos. Sua atuação tem sido fundamental na construção e estabilidade de uma base sólida no Congresso Nacional.”

Cúpula do Congresso fica com Ramos...

Neste sábado (24), foi a vez de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tomar partido no conflito político entre os ministros Ricardo Salles e Luiz Eduardo Ramos. Em suas redes sociais, o deputado atacou Salles dizendo que o ministro, depois de "destruir o meio ambiente, agora resolveu destruir o próprio governo".

Logo depois, foi o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), defender Ramos e criticar Salles. Alcolumbre publicou, em suas redes sociais, "não é saudável que um ministro ofenda publicamente outro ministro", em referência às publicações de Salles chamando Ramos de "maria fofoca". O presidente do Senado também elogiou a "importância" da atuação de Ramos "na relação institucional [do governo] com o Congresso".

... e Salles diz que o assunto está encerrado

Após as declarações de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre a favor de Ramos, o ministro Ricardo Salles optou por não confrontar os dirigentes da Câmara e do Senado. Procurado pelo jornal O Estado de S.Paulo na tarde de sábado (24) para comentar as declarações de Maia e Alcolumbre, ele disse: "Para mim, este assunto está encerrado".

A decisão de Salles de não alimentar o confronto segue a orientação dada por Bolsonaro, que não reprovou publicamente o gesto do titular do Meio Ambiente, mas não tem interesse em prolongar a exposição pública das disputas internas no governo – que, neste caso, poderiam ter impactos em votações de interesse do Planalto no Congresso.

Mas o assunto não foi encerrado para o deputado Eduardo Bolsonaro, que reagiu no Twitter à manifestação de Rodrigo Maia a favor de Ramos: "Perguntar não ofende: como seriam as reações se o Presidente Bolsonaro resolvesse criticar publicamente membros do Congresso ou do STF? Seria acusado de interferir em outros poderes e causar crise institucional, certo? Pois é".

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