Apesar de exibir largo favoritismo para ocupar uma vaga no Senado pelo Paraná, que pode ser aberta por eventual cassação de Sergio Moro (União Brasil), uma possível candidatura da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) no estado esbarra em dúvidas e impasses. Além da indefinição sobre processos na Justiça Eleitoral contra Moro, um dos quais movidos pelo próprio Partido Liberal, há prazos curtos para cumprir os requisitos legais da candidatura dela, começando pelo domicílio no estado, que também pode ser questionado.
O favoritismo de Michelle no Paraná foi revelado no fim de outubro por pesquisa com eleitores. Levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisas apontou Michelle na liderança de todos os cenários que tenham o seu nome incluído, à frente de outros potenciais candidatos, como o ex-senador Álvaro Dias (Podemos) e a deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, além de outros do PL, PP e MDB. Com os cenários estimulados, nos quais nomes de candidatos são apresentados aos entrevistados, Michelle chegou a atingir 44,3% das intenções de voto (veja abaixo a metodologia da pesquisa).
Mas para complicar a situação de Michelle, além dos prazos curtos há também um posicionamento prévio do PL paranaense em favor do nome do ex-deputado Paulo Martins, que foi o candidato da legenda derrotado em 2022. O ex-juiz Sergio Moro (União) conquistou a vaga no Senado no ano passado com 33,82% dos votos, após disputa acirrada com Martins, aliado de Bolsonaro e apoiado pelo governador Ratinho Júnior (PSD), fazendo 29,12% dos votos.
Nos bastidores, há informações de que Jair Bolsonaro comemorou o resultado da pesquisa e o fez circular entre aliados próximos. Fontes ouvidas pela Gazeta do Povo confirmam o interesse do ex-presidente nessa questão. Bolsonaro já tem um representante da família no Senado, seu filho Flávio (PL-RJ). Especula-se que ele ainda poderá lançar candidato a senador em 2026 outro filho, o vereador Carlos (Republicanos-RJ).
Presidente do PL paranaense descarta candidatura de Michelle
“A recente pesquisa divulgada pelo Instituto Paraná, mostrando a condição extraordinariamente positiva da querida Michelle Bolsonaro numa eventual disputa por uma vaga reservada ao estado no Senado, não foi encomendada pelo diretório estadual”, assegurou o presidente do PL paranaense, deputado Fernando Giacobo, à Gazeta do Povo. Ele acrescentou que só soube pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, que a ex-primeira-dama ficou “extremamente feliz” com o levantamento, “mas bate na tecla de que não será candidata a cargo eletivo” no Paraná.
O dirigente estadual acrescentou que Michelle “mostrou a disposição de seguir fazendo o seu belo trabalho à frente do PL Mulher em todo o Brasil”, destacando que a campanha dela por novas filiadas para o partido “está de vento em popa”, tendo já superado a marca de 50 mil afiliadas. De toda forma, ele lembra que a questão do domicílio eleitoral é desafiadora, pois precisa estar consolidada ao menos seis meses antes do anúncio do pleito suplementar.
Além disso, o prazo legal pode, segundo o parlamentar, ficar ainda mais apertado, se for considerado que uma eventual nova eleição para o Senado deve ocorrer também seis meses antes das eleições municipais de 2024. Pelos seus cálculos, se na melhor das hipóteses houver julgamento que leve a cassação de Moro até dezembro, a disputa teria de ocorrer até março de 2024. Com isso, o tempo de domicílio acumulado eventualmente por Michelle, por exemplo, seria por volta de apenas três meses, a metade do mínimo necessário. O mesmo problema pode ocorrer se a ex-primeira-dama disputar uma vaga ao Senado em outros estados que podem ter eleições suplementares para o Senado, como é o caso de Santa Catarina, onde há um processo de cassação contra o senador Jorge Seif, do PL. A ex-primeira-dama tem domicílio eleitoral em Brasília.
Giacobo frisou que, para o PL do Paraná, a questão em torno de nova eleição motivada pela possível cassação de senador em exercício já tem “definição bem clara”. “Nosso candidato sacramentado é o jornalista e ex-deputado Paulo Martins”, disse. Ele procurou mostra ainda prudência, aconselhando os políticos a “esperarem o desfecho da decisão judicial” em relação ao futuro de Moro, que ainda poderá ser decidido no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para se avançar no tema das candidaturas.
Paulo Martins tem afirmado estar à disposição do partido. “Por enquanto, essa eleição é mera especulação ou expectativa. Se for a vontade do partido, serei candidato a senador pelo PL quando houver disputa, seja em 2026 ou em qualquer oportunidade extraordinária antes disso”, disse.
Julgamento da eleição de Moro avançará nas próximas semanas
Parlamentares próximos de Michelle procurados pela Gazeta do Povo evitaram tratar do assunto que afeta interesses cruzados do PL e do clã Bolsonaro. A senadora Damares Alvares (Republicanos-DF), amiga próxima da ex-primeira-dama e paranaense de Paranaguá, não conjectura sobre a candidatura Michelle. “No momento, a minha torcida é para que o juiz que enfrentou o maior esquema de corrupção do mundo não tenha o mandato cassado”, disse.
O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) marcou para a tarde de 16 de novembro o depoimento do senador paranaense nas duas ações que podem levar à cassação de seu mandato, uma do PL e outra da coligação encabeçada pelo PT. As ações tramitam juntas desde junho. Moro e os dois suplentes são acusados de abuso de poder econômico e político, e de uso indevido de meio de comunicação durante as eleições.
Metodologia da pesquisa citada
A pesquisa foi realizada com 1.556 eleitores de 72 municípios paranaenses entre os dias 19 e 23 de outubro. Segundo a Paraná Pesquisas, o levantamento tem um nível de confiança de 95% e uma margem de erro de 2,5 pontos percentuais.
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