O ex-secretário executivo do Ministério da Justiça e atual presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Ricardo Cappelli, pretende contratar uma empresa nacional de mensageria privada para gerenciar um sistema de troca de mensagens inicialmente dentro da autarquia que comanda.
Há dias Cappelli, que era considerado o “número 2” do ministro Flávio Dino na pasta, vem defendendo a substituição do WhatsApp na comunicação corporativa do governo, principalmente após o vazamento das mensagens trocadas entre assessores do gabinete de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com analistas do órgão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de combate à desinformação.
O vazamento das mensagens do gabinete do magistrado levou a uma série de reportagens publicadas pela Folha de S. Paulo desde a semana passada que apontam o uso do TSE fora do rito processual para a geração de relatórios sobre investigados pela Corte – principalmente aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O mesmo jornal publicou, recentemente, que Cappelli fará uma licitação para contratar uma empresa nacional de mensageria e que deve dar o ponta-pé inicial para todo o governo fazer o mesmo. “Alguém tem de ser o primeiro”, disse.
A ABDI confirmou à Gazeta do Povo que está elaborando o edital e que o objetivo é usar a nova ferramenta "nas atividades de seus colaboradores". "A iniciativa é da ABDI, que cumpre seu papel no Governo Federal em promover o desenvolvimento do país com inovação, zelando pelo sigilo de informação, segurança de dados e soberania", completou.
A reportagem também procurou a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) para questionar se há algum planejamento semelhante para o restante do governo e aguarda retorno.
Cappelli explica que a contratação de uma empresa nacional de mensageria privada seria, no entanto, apenas para atender ao governo, e não para banir o WhatsApp do Brasil.
“O que faremos é proteger as informações da nossa agência, comunicação corporativa. Alguém acha que o governo alemão ou francês se comunica pelo whatsapp? Não queremos banir ninguém, apenas proteger a nossa soberania”, frisou em uma publicação nas redes sociais.
O presidente da ABDI reforçou a justificativa para a contratação afirmando que até mesmo as Forças Armadas já utilizam um serviço próprio de mensageria desenvolvido por uma empresa nacional estratégica de defesa. “Nossos mais graduados oficiais não se comunicam através de uma empresa privada estrangeira”, pontuou.
Detalhes sobre a licitação, como prazos e preços, ainda não foram divulgados. No entanto, as críticas a serviços estrangeiros encontra eco dentro do próprio governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – ele próprio um forte crítico às chamadas “big techs” internacionais.
Inteligência artificial nacional
Mais recentemente, Lula disparou contra as empresas que operam a tecnologia de inteligência artificial (IA), afirmando que elas coletam e tratam uma grande quantidade de dados públicos e privados – alguns sensíveis e estratégicos – e ainda cobram por isso.
“Nós temos as big techs que fazem isso sem pedir licença e sem pagar imposto, e ainda cobram dinheiro e ficam ricas por conta de divulgar coisas que não deveriam ser divulgadas”, disse em um discurso no final do mês de julho.
Na ocasião, ele lançou o “Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA)” para desenvolver uma tecnologia nacional de IA que permita ao governo, entidades parceiras privadas e empresas a não precisarem depender de serviços estrangeiros. A proposta prevê R$ 23 bilhões em investimentos, entre eles a construção de um dos cinco supercomputadores do mundo para processamento de dados.
A proposta também prevê a implementação de uma infraestrutura de IA baseada em energias renováveis, o desenvolvimento de modelos de linguagem em português e de processadores de inteligência artificial de alto desempenho e a criação de uma rede nacional de centros de excelência da tecnologia.
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