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O tenente-coronel Mauro Cid relatou em uma conversa que não teria falado a palavra “golpe” na delação premiada que fechou com as autoridades dentro da investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado durante o último ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com uma apuração da revista Veja publicada nesta quarta (29), Cid relatou em uma conversa com um interlocutor desconhecido que a palavra “golpe” teria sido inserida nos autos da delação pela Polícia Federal. A reportagem traz o trecho do áudio em que ele teria negado a citação e que teria ocorrido no ano passado.
“Vou te dizer… Esse troço tá entalado, cara. Tá entalado. Você viu que o cara botou a palavra golpe, cara? Eu não falei uma vez a palavra golpe, eu não falei uma vez a palavra golpe! Então, quer dizer… Foi furo, foi erro, sei lá, acho até a condição psicológica que eu tava na hora ali [do depoimento]. P… Eu não falei golpe uma vez. Não falei golpe uma vez”, diz Cid na gravação.
A Gazeta do Povo procurou a Polícia Federal para se pronunciar sobre o áudio vazado e as afirmações de Cid e aguarda retorno.
Há a suspeita de que o áudio seja de uma conversa que ele teve no ano passado em que apontou uma suposta pressão pela Polícia Federal para colaborar em uma narrativa já pronta, e que quase lhe custou o acordo.
"Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa dele. É isso que eles queriam, e toda vez eles falavam ‘olha, a sua colaboração tá muito boa’", disse na época.
Cid ainda citou que o ministro Alexandre de Moras, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), já tem uma "sentença pronta", e que estaria esperando o momento certo para prender "todo mundo". "Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação", completou.
Pouco depois, Moraes determinou a volta de Cid à prisão, enquanto que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirmou que foi apenas um desabafo em uma conversa "informal, privada, particular, sem intuito de ser exposta em revista de grande circulação".
No último final de semana, uma parte da delação foi vazada pelo jornalista Élio Gaspari, da Folha de S. Paulo, em que Cid relatou que Bolsonaro trabalhava com duas hipóteses para se manter no poder após as eleições presidenciais de 2022 que perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma delas a partir de fraudes na votação e outra por meio da adesão das Forças Armadas ao suposto golpe.
Este trecho da delação também aponta a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) apoiavam a iniciativa.
A delação de Mauro Cid foi homologada em setembro de 2023 e segue sob sigilo, e incluiu acusações contra nove dos 40 investigados pela Polícia Federal. Ao todo, Cid cita pelo menos duas dezenas de nomes, mas a maioria não está entre os investigados.