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A recente cirurgia de emergência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reabriu dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) uma discussão sobre a viabilidade de o petista disputar a reeleição em 2026 e quais serão os caminhos do partido para os próximos anos. A preocupação de uma ala dos petistas acontece justamente pela avaliação de que atualmente não existe outro nome do partido com viabilidade política para concorrer ao Palácio do Planalto.
A ausência de Lula inclusive tem provocado um apagão na articulação política do governo dentro do Congresso Nacional nesta reta final do ano. Existe um temor entre as lideranças do Planalto de que pautas como o pacote de corte de gastos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não sejam aprovadas diante das dificuldades dos ministros escalados para interlocução com os parlamentares.
Líderes do PT admitem problemas de renovação do partido e a necessidade de uma discussão mais profunda dentro da sigla sobre o pós-Lula. Apesar disso, diferentes petistas e governistas ouvidos pela reportagem acreditam que a decisão sobre uma candidatura à reeleição caberá ao próprio Lula.
Além do quadro de saúde do petista, outro ponto apontado pelos parlamentares diz respeito a como estará a avaliação do governo e a situação econômica do país no momento de definição das candidaturas. Lula está atualmente com 79 anos e terá 81 em 2026.
O presidente apareceu como o candidato com melhores chances de vencer as eleições em 2026, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta (12) e realizada entre 4 e 9 de dezembro, antes da internação de emergência de Lula para tratar uma hemorragia intracraniana decorrente da queda que sofreu em outubro. O levantamento diz que, se a eleição ocorresse agora, ele seria reeleito em segundo turno com 51% dos votos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e também venceria outros nomes da direita, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Apesar da preferência por Lula, a mesma pesquisa registrou que a desaprovação do governo subiu de 45% em outubro para 47% neste mês e que 52% dos eleitores acham que Lula não deveria disputar a reeleição em 2026. A Quaest ouviu 8.598 pessoas entre os dias 4 e 9 de dezembro. A pesquisa tem margem de erro de um ponto percentual e nível de confiança de 95%.
O nome mais citado para concorrer em 2026 caso Lula não seja candidato foi o do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que tinha 27% da preferência na pesquisa Genial Quaest. A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foram citados por apenas 2% dos eleitores consultados sobre quem poderia assumir a candidatura governista. Políticos de outros partidos, como Ciro Gomes (PDT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), apareciam em melhores posições do que os dois petistas, com 17%, 14% e 4% respectivamente.
Publicamente o presidente tem dado diferentes versões sobre seu futuro político. Em junho, ele disse que quer concorrer a um novo mandato para evitar que “trogloditas” voltem a governar o país. No mês passado, porém, ele afirmou esperar que não seja necessário entrar na disputa. “Eu não preciso ser o candidato”, desconversou.
Gleisi afirmou recentemente que Lula é fundamental para o futuro do partido. "Ele (Lula) é fundamental para ganharmos as eleições (de 2026). Não vejo um outro nome com capacidade de disputa na sociedade brasileira”, afirmou em entrevista concedida ao jornal O Globo nesta segunda-feira (9).
PT vai manter discurso público sobre a viabilidade de Lula para 2026
Apesar das discussões internas no PT, uma das estratégias defendidas por petistas mais próximos ao presidente é de que ele precisa se manter publicamente como um nome viável. As lideranças do governo rechaçam, por exemplo, qualquer comparação de Lula com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que desistiu de concorrer à reeleição depois da iminente possibilidade de derrota para Donald Trump.
“Quem conhece o Lula sabe que não tem nenhuma semelhança com o Biden. Nem pode trazer aquela avaliação para cá", rechaçou a presidente do PT.
Antes disso, o próprio Lula já havia tentado rebater a comparação com o atual presidente norte-americano. Ao afirmar que está bem de saúde e com disposição, o presidente tentou reforçar o discurso de virilidade.
"Quem acha que o Lulinha está cansado, pergunta pra Janja. Ela é testemunha ocular", disse Lula durante agenda em Osasco, São Paulo.
A ideia dos integrantes do PT é justamente evitar uma disputa interna pela cadeira de Lula com mais de dois anos de antecedência para o fim do seu mandato. O petista, por exemplo, não pediu licença da presidência e o vice-presidente cumpriu apenas agendas formais do governo enquanto os ministros palacianos estão conduzindo a articulação política.
A legislação prevê a substituição do presidente da República "no caso de impedimento ou vaga". Ou seja, Lula só precisaria ser oficialmente substituído na cadeira de presidente se ele estivesse inconsciente, por exemplo.
A expectativa dos médicos é de que Lula retorne a Brasília no começo da semana que vem. O petista, no entanto, precisou ser submetido a um novo procedimento cirúrgico nesta quinta-feira (12) para interromper o fluxo de sangue em uma região de seu cérebro e impedir novos sangramentos.
"Tudo depende dessa evolução, um dia a mais ou um dia a menos, mas a previsão é que o presidente esteja em Brasília na semana que vem", afirmou o médico Roberto Kalil.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que Lula está “absolutamente consciente e disponível” e em contato com ministros, apesar de estar em repouso. "O presidente voltou à consciência logo depois do procedimento. Está absolutamente consciente e disponível, contatando, inclusive, com ministros. Não tem, do ponto de vista médico, qualquer orientação para afastamento das atividades como presidente da República, apenas repouso”, explicou Padilha.
Futuro do PT passa por sucessão de Gleisi na presidência do partido
Antes de uma definição sobre a candidatura de Lula em 2026, petistas avaliam que a sucessão de Gleisi será fundamental para definir quais caminhos o PT vai adotar a partir do ano que vem. Internamente, opositores da petista admitem que a escolha de um nome mais "moderado" será primordial para reduzir o discurso "estridente" da atual presidente.
Lula, por exemplo, é entusiasta da candidatura de Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara e apontado como uma liderança mais afeita ao diálogo com setores hoje refratários à sigla, incluindo os mais alinhados ao centro e à direita. A avaliação desse grupo é de que, além de bons resultados na economia, a viabilidade da reeleição de Lula será desenhada a partir das alianças que o PT conseguir fazer com outras siglas fora do campo da esquerda.
Por outro lado, Gleisi trabalha para fazer o seu sucessor e tem encampado a candidatura do deputado José Guimarães (CE), atual líder do governo na Câmara. A eleição para a escolha do próximo presidente está marcada para julho do ano que vem.
"Vamos ter seis meses para fazer uma grande discussão dentro do PT. O mais importante desse processo sucessório é a construção de um programa para o PT e com ênfase grande na eleição presidencial de 2026 vamos preparar o partido para essa disputa", disse Gleisi Hoffmann.