Na costura de candidaturas de aliados para o ano que vem, o presidente Jair Bolsonaro (PL) aposta no nome do ministro Tarcísio Gomes de Freitas para a disputa pelo governo de São Paulo. Comandando o Ministério da Infraestrutura desde o início da gestão Bolsonaro, Tarcísio é considerado um dos ministros mais populares do governo e mais próximos do presidente. É, ainda, um dos nomes técnicos da Esplanada dos Ministérios.
Para aliados do Planalto, ele tem boas chances de sair vitorioso na disputa pelo estado que é governado pelo PSDB há quase três décadas. Para se filiar ao PL, o presidente Jair Bolsonaro colocou como condicionante o rompimento do partido comandado por Valdemar Costa Neto com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que pretende lançar o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) para sua sucessão.
"Eu conversei com o Tarcísio. Primeira mão pra vocês: o Tarcísio aceita discutir uma possível candidatura dele ao governo do estado de São Paulo", sinalizou Bolsonaro.
Ainda sem partido, Tarcísio pode se filiar ao PL ou ao PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Junto com o Republicanos, os dois partidos irão formar a coligação de apoio ao projeto de reeleição do presidente Bolsonaro.
Ministro ainda tem dúvidas sobre candidatura
Mesmo sinalizando que pode entrar na disputa para garantir palanque para Bolsonaro no maior colégio eleitoral do país, o entorno do ministro da Infraestrutura admite que ele não tem demonstrado empolgação em concorrer ao governo de São Paulo.
Recentemente, durante participação em um debate da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, disse que está dedicando pouca energia para a possível candidatura ao governo paulista.
"Dedico pouca energia nisso. Mas estamos conversando com Bolsonaro sobre essa possibilidade", disse. Uma das alternativas ventiladas por Tarcísio seria concorrer a uma cadeira ao Senado pelo estado de Goiás ou ainda pelo Distrito Federal.
Essas opções, contudo, não contam com sinalizações de apoio de Bolsonaro. Pelo acordo, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, vai concorrer ao Senado pelo Distrito Federal. Ela é filiada ao PL e foi uma das principais articuladoras da filiação do presidente ao partido. Em Goiás, o deputado Major Vitor Hugo é cotado como pré-candidato ao governo estadual. No entanto, pode se lançar na disputa pelo Senado caso tenha mais viabilidade.
Pesquisas empolgam aliados de Bolsonaro em São Paulo
Para tentar acabar com a resistência, aliados do presidente Bolsonaro em São Paulo apontam para o desempenho de Tarcísio nas pesquisas eleitorais. Antes mesmo de oficializar a pré-candidatura, o ministro registra, em alguns cenários, pontos à frente de Rodrigo Garcia, o que na avaliação do entusiastas pode atrair uma fatia do eleitorado tucano que desaprova o governo Doria.
Levantamento do instituto Paraná Pesquisas desta quarta-feira (22) traz o ministro da Infraestrutura em quarto lugar com 6,3% das intenções de voto no cenário em que o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) são testados. Alckmin negocia integrar como vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Haddad negocia a candidatura com Márcio França (PSB) na mesma coligação.
Já no levantamento Ipespe, encomendado pelo jornal Valor Econômico, de dezembro, as intenções de voto em Tarcísio variam de 8% a 13% dependendo do cenário. No primeiro cenário, o ministro aparece em quarto lugar com 8%, atrás de nomes como Alckmin, com 23%; Haddad, com 19%; e de Guilherme Boulos (Psol), com 11%.
No segundo cenário, Tarcísio aparece com 10% dos votos, atrás de Boulos (23%) e Márcio França (PSB), que somou 19%. Na simulação em que Tarcísio vai melhor, Haddad lidera com 27%. O ministro de Bolsonaro aparece em segundo com 13%, empatado com Guilherme Boulos. O vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) marca 6%.
Programa de concessões será pilar de possível candidatura de Tarcísio
Bolsonaro pretende usar o programa de concessões promovido pelo Ministério da Infraestrutura para cacifar a candidatura de Tarcísio ao Palácio dos Bandeirantes. Recentemente, por exemplo, a pasta realizou a Super Infra, uma temporada de leilões que pretende atrair cerca de R$ 23,5 bilhões em investimentos privados ao setor de transportes.
Em outro programa, batizado de Pro Trilhos, que concede à iniciativa privada a autorização para planejar, construir e operar novas ferrovias ou ampliar as que já existem, a pasta recebeu mais de 20 requerimentos feitos por empresas privadas interessadas em construir ferrovias em 14 estados. Se forem aprovados, esses projetos devem injetar mais de R$ 81,5 bilhões na implantação de cerca de 5,5 mil quilômetros de novos trilhos pela iniciativa privada.
“Mesmo com o período eleitoral, vamos ver as concessões acontecendo”, disse Tarcísio, durante o evento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base.
Para 2022, a agenda do ministro vai envolver uma série de leilões no estado de São Paulo, entre eles o de concessão dos portos de Santos e São Sebastião, e do aeroporto de Congonhas.
Candidatura de ex-ministro pode dividir votos em São Paulo
Apesar da ofensiva de Bolsonaro em lançar o nome de Tarcísio Freitas para o governo paulista, aliados do Planalto temem que a candidatura do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub divida votos no estado. Weintraub conta com popularidade entre os militantes bolsonaristas e tem uma atuação mais próxima da base ideológica do governo.
A expectativa é de que Weintraub se filie ao PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, para entrar na disputa. Contudo, aliados do Planalto tentam demovê-lo da ideia para que não haja uma divisão dos eleitores bolsonaristas no estado. Uma possibilidade ventilada pelo governo é de que o ex-ministro entre na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Espera-se que Weintraub desembarque em São Paulo ainda neste mês de dezembro para começar a turnê pelo estado. Ele mora atualmente em Washington, onde tem um cargo de diretor no Banco Mundial.
Para aproximar Tarcísio da base conservadora, um encontro dele com militantes e representantes de movimentos de direita no estado já está sendo organizado. De acordo com integrantes do Planalto, o evento poderá acontecer ainda este ano.
Metodologia das pesquisas citadas
O Paraná Pesquisas ouviu 1.818 eleitores do estado de São Paulo entre os dias 13 e 17 de dezembro. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro estimada é de 2,5 pontos percentuais, para ou mais ou para menos.
O Ipespe ouviu 1.000 eleitores do estado de São Paulo entre os dias 29 de novembro e 1º de dezembro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.
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