
Ouça este conteúdo
Parlamentares de oposição da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS vão se concentrar em tentar convocar Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente, e o senador governista Weverton Rocha (PDT-MA) para prestar depoimento nos primeiros dias da retomada dos trabalhos prevista para fevereiro de 2026. Ambos foram arrastados para o centro do escândalo após a deflagração da mais recente fase da Operação Sem Desconto no último dia 18.
O senador é apontado pela PF como um dos beneficiários finais dos desvios de dinheiro. Lulinha não é investigado oficialmente, mas seu nome vem sendo mencionado pela proximidade com a empresária Roberta Luchsinger, acusada de receber pagamentos de R$ 1,5 milhão de Antônio Camilo, o "Careca do INSS", descrito até agora pela PF como um dos principais articuladores do escândalo que desviou bilhões das folhas de pagamento dos aposentados. Weverton nega envolvimento com o escândalo e nem Lulinha nem sua defesa se pronunciaram depois das novas denúncias.
Ambos foram alvo de pedidos de convocação por parlamentares da oposição na CPMI do INSS, mas as solicitações foram barradas por uma maioria governista que passou a controlar as votações da comissão. Com as novas informações, parlamentares oposicionistas esperam reverter o cenário e viabilizar as convocações.
PF suspeita que senador governista era pilar de núcleo político da quadrilha do INSS
Weverton é vice-líder do governo no Senado e foi alvo de buscas e apreensões. Ele chegou a ter um mandado de prisão solicitado pela Polícia Federal. O pedido, no entanto, foi negado pelo ministro André Mendonça, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).
O senador, que é membro da CPMI, foi descrito pela Polícia Federal como o "núcleo político que viabilizaria as atividades de Antônio Camilo", o "Careca do INSS". O fato de ele ser vice-líder do governo no Senado mostra que a investigação do esquema criminoso caminha para contaminar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Weverton negou envolvimento com corrupção. “Ressalto que a decisão da Corte é clara ao reconhecer a ausência de provas que me vinculem a práticas ilícitas ou ao recebimento de recursos irregulares. Relações profissionais de terceiros não podem ser usadas para me imputar responsabilidade sem fatos concretos”, afirmou, em nota à imprensa.
As principais evidências contra o senador são conversas de assessores do "Careca do INSS" sobre pagamentos de valores desviados das contas dos aposentados do INSS que envolveriam Weverton. A PF suspeita que o político seja um dos beneficiários finais dos desvios de recursos. Ele também é investigado por utilizar um avião particular que pertence a um grupo do qual o "Careca do INSS" é sócio.
Lulinha não é investigado formalmente, mas tem relação próxima com suspeita
O filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é formalmente investigado pela operação. Ainda assim, as ligações dele com a empresária Roberta Luchsinger, neta do ex-banqueiro suíço Peter Paul Arnold Luchsinger, despertaram o interesse de parlamentares que defendem uma nova tentativa de convocação.
A Polícia Federal investiga cinco pagamentos de R$ 300 mil feitos pelo empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, a uma empresa de Roberta. Nos diálogos analisados pelos investigadores, o empresário afirma que o destinatário dos valores seria “o filho do rapaz”, sem especificar a quem se referia.
Em uma das mensagens trocadas entre Roberta e Antunes, a empresária tenta tranquilizar o Careca do INSS ao mencionar episódios anteriores envolvendo o referido Fábio. “Na época do Fábio falaram de Friboi, de um monte de coisa, o (sic) maior… igual agora com você”, escreveu. Opositores levantaram a hipótese do referido Fábio ser Lulinha, que processou políticos e comunicadores em 2015 por ter seu nome relacionado com a Friboi.
Outro indício é que uma agenda apreendida pela PF durante a operação em abril trazia a anotação "Fábio (filho Lula)" ao lado de informações sobre credenciais para acesso a um camarote em Brasília.
Segundo a defesa de Lulinha, em declaração à reportagem feita em outubro, ele e Roberta são amigos. Os advogados, no entanto, negam qualquer envolvimento do filho do presidente com o escândalo do INSS.
Relator protocolou novos requerimentos de convocação para Lulinha e Weverton
As novas revelações da investigação aceleraram a movimentação no Congresso. O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), protocolou no dia 19 de dezembro um novo requerimento pedindo a convocação de Lulinha.
No início do mês, um pedido semelhante havia sido rejeitado após articulação da base do governo para garantir maioria no colegiado. Desta vez, além de Lulinha, Alfredo também solicitou a convocação de Roberta Luchsinger.
“O senhor Fábio Luís Lula da Silva é pessoa de interesse para os trabalhos desta CPMI, em razão de informações que demandam esclarecimentos no contexto das investigações sobre o esquema de descontos fraudulentos em benefícios previdenciários”, sustentou o deputado no requerimento.
O relator também pediu a convocação do senador Weverton Rocha (PDT-MA), de seu ex-assessor Gustavo Gaspar e do agora ex-secretário-executivo do Ministério da Previdência Social, Adroaldo Portal.
Na justificativa, Alfredo afirmou que a convocação de Weverton é necessária diante dos vínculos pessoais atribuídos ao senador com o principal articulador do esquema. “As apurações da CPMI buscam revelar a existência de possíveis conexões políticas que asseguraram a sobrevivência e a blindagem de um esquema criminoso que envolvia descontos associativos fraudulentos em benefícios do INSS”, escreveu.
Operação dá novo fôlego para oposição convocar investigados
Para o deputado Kim Kataguiri (União-SP), as revelações da Polícia Federal são “escandalosas e revoltantes” e expõem um problema estrutural. “Quando o filho do presidente da República surge como possível beneficiário de repasses ilegais e um senador é apontado como sócio oculto de uma operação ligada a uma organização criminosa que roubava aposentados, fica claro que o problema não é pontual, é sistêmico”, afirmou o deputado sem apresentar provas adicionais para sustentar a informação sobre repasses ilegais a Lulinha.
Kataguiri afirmou que os indícios contra o senador Weverton Rocha seriam “ainda mais graves”. Segundo ele, há sinais de “benefício direto, relação próxima com integrantes do esquema e até assessores recebendo recursos”.
O deputado também criticou a tentativa de Weverton de silenciá-lo no STF após reportagem revelar a visita do “Careca do INSS” ao gabinete do senador. “Isso não pode passar despercebido pelo Congresso. É justamente por isso que a CPMI precisa avançar, ampliar seus trabalhos e entregar à sociedade as informações que alguns integrantes do governo tentam esconder”, completou.
Já o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) afirmou que as mensagens trocadas entre Roberta Luchsinger e o “Careca do INSS”, que mencionam Fábio Luís Lula da Silva como “o filho do rapaz”, vão além de meros indícios. “São provas de que o filho de Lula está implicado neste escândalo”, disse. Para Van Hattem, a convocação de Lulinha é inevitável. “Faremos, novamente, o requerimento para apreciação da CPMI”, declarou.
O parlamentar também cobrou coerência de Lula. O presidente declarou que investigaria qualquer familiar envolvido. “Veremos agora se o que o presidente disse será seguido pela base na comissão ou se é apenas mais uma bravata para jogar para a torcida enquanto blinda todos os suspeitos por corrupção em seu governo, inclusive seus familiares”, concluiu.
Oposição consegue assinaturas para prorrogar CPMI
Além das novas convocações, a oposição avançou para ampliar o tempo de funcionamento da CPMI. Parlamentares reuniram as assinaturas necessárias para prorrogar os trabalhos até 26 de julho do ano que vem.
O requerimento, apresentado pela bancada do Partido Novo, conta com o apoio de 175 deputados federais e 29 senadores, número suficiente para atender às exigências regimentais de prorrogação automática. Sem a extensão, os trabalhos seriam encerrados em 28 de março.
A solicitação tem como base o artigo 152 do Regimento Interno do Senado Federal, que autoriza a prorrogação de uma CPI mediante requerimento subscrito por, no mínimo, um terço dos senadores, com comunicação formal à Mesa Diretora.
Na justificativa, os parlamentares destacam que a CPMI ainda analisa um volume expressivo de provas, incluindo mais de 1.500 quebras de sigilo bancário e fiscal, além de centenas de requerimentos de oitivas pendentes.
“Diante do volume de evidências reunidas, da necessidade de conclusão de oitivas e da análise documental pendente, da complexidade técnica da matéria e da relevância institucional de se esgotar a investigação com profundidade, a prorrogação do prazo de funcionamento da CPMI do INSS se impõe como medida indispensável para assegurar a elaboração de um relatório final consistente”, diz o requerimento.
Com a prorrogação, a comissão entra em 2026 com escopo ampliado e espaço político para aprofundar investigações que atingem nomes próximos ao governo, mantendo o tema no centro do debate no Congresso.




