Um acidente doméstico forçou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a cancelar sua viagem à Rússia nesta semana, adiando a possibilidade de uma nova foto ao lado do ditador russo Vladimir Putin, com quem se encontraria na 16ª Cúpula dos Brics – a participação do petista no evento está mantida, porém será por videoconferência. Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem feito diversos acenos ao líder russo, mesmo em meio à guerra na Ucrânia e ao mandado de prisão emitido contra Putin pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). O presidente brasileiro frequentemente defende o diálogo com Putin, destacando sua importância no cenário geopolítico, o que tem gerado polêmicas.
Lula tem adotado uma postura que abandona a imparcialidade da diplomacia brasileira, quando em diversas ocasiões defende ou minimiza o papel do Putin na guerra em curso no leste europeu. Em abril de 2023, Lula afirmou que tanto a Ucrânia quanto o Ocidente tinham responsabilidade pela continuidade do conflito, dizendo que “os Estados Unidos e a União Europeia incentivam a guerra” ao fornecerem armas para Kyiv.
Essa declaração foi vista como uma forma de desviar a responsabilidade direta de Putin pela invasão e agravou as críticas ao presidente brasileiro por sua postura ambígua. O apoio ficou evidente quando em abril deste ano, quando o Brasil assinou um tratado com a China para promover um plano de paz que é totalmente favorável a Moscou.
Nesta cúpula dos Brics, mesmo participando remotamente, o presidente brasileiro pode se tornar protagonista de uma polêmica mundial se repetir o convite que fez ao ditador em setembro de 2023, quando o chamou para visitar o Brasil para participar da cúpula do G20 em novembro deste ano. Isso porque se Putin pisar em solo brasileiro, teria que ser preso de acordo com um mandato de prisão do Tribunal Penal Internacional.
Putin é considerado um criminoso de guerra por sua participação no sequestro de ao menos 19 mil crianças ucranianas, que foram tiradas à força de suas famílias em território temporariamente ocupado pelas tropas do Kremlin na Ucrânia, levadas para a Rússia e adotadas por famílias russas.
O Brics é um bloco diplomático formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia. Ele foi criando inicialmente nos anos de 2010 com um caráter puramente de debate econômico, mas desde 2023 tem se transformado em um bloco político antiamericano por influência da China e da Rússia.
Relembre, a seguir, cinco vezes em que Lula defendeu ou fez acenos a Putin.
1. "Putin pode visitar o Brasil sem medo de ser preso"
Em setembro de 2023, durante a Cúpula do G20, na Índia, durante entrevista ao canal Firstpost, Lula declarou que caso viesse ao Brasil em 2024, para a Cúpula do Rio de Janeiro, Putin não seria preso no Brasil. “Se eu for o presidente do Brasil e ele for ao Brasil, não há por que ele ser preso", afirmou na ocasião.
A declaração gerou desconforto entre países e autoridades, em virtude do mandado de prisão internacional expedido contra o ditador russo pelo Tribunal Penal Internacional. Lula depois voltou atrás e disse que a decisão sobre prender ou não Putin numa eventual visita ao Brasil dependeria da Justiça. O ditador afirmou que não faria a viagem pois o debate sobre sua prisão poderia tirar o foco das discussões diplomáticas.
2. "A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra"
Em mais uma afirmação que causou constrangimento na comunidade internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a minimizar a participação da Rússia na guerra contra a Ucrânia, que começou em fevereiro de 2022 com a invasão dos russos naquele país. Lula disse que a Europa e os Estados Unidos contribuíam para a continuidade da guerra ao doar armas e recursos para a Ucrânia. Contudo, o armamento e as verbas foram usados pela Ucrânia para defender seu território e população.
Durante entrevista coletiva de imprensa numa viagem aos Emirados Árabes, em abril de 2023, Lula também acusou a Ucrânia, que foi atacada pelos russos, de participação no início do conflito. "A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países", disse o presidente brasileiro.
Lula nunca disse se baseia sua opinião em algum argumento ou raciocínio. A Rússia já deu diversas diferentes justificativas para a invasão da Ucrânia, desde a falsa afirmação de que se trataria de um país neonazista até a expansão da Otan (aliança militar ocidental) para o leste. A Ucrânia tem em sua Constituição desde 2014 a intenção de fazer parte da Otan. A determinação interna foi aprovada desde que a Rússia invadiu os territórios ucranianos da Crimeia e parte de Donetsk e Luhansk.
3. "Eu vou tentar construir um caminho para a paz"
Numa entrevista concedida a TV CNN, em julho do ano passado, Lula voltou a falar da guerra da Ucrânia e afirmou que sua prioridade era ser um "mediador da paz" entre os países. Na época, o presidente brasileiro evitou fazer acusações diretas contra o ditador Vladimir Putin, tentando adotar uma postura neutra em relação ao conflito.
Lula disse ainda que se autorizasse o envio de munições para a guerra "seria o mesmo que entrar nela", se referindo a um pedido de munição de defesa antiaérea feito pelo governo da Alemanha ao Brasil para apoiar a Ucrânia. Kyiv afirmou que as munições de blindado Guepard seriam usadas para defender suas cidades contra ataques de drones.
"Eu não quis mandar [munição para Ucrânia], porque se eu mandar, eu entrei na guerra. E eu não quero entrar na guerra, eu quero acabar com a guerra", afirmou Lula.
Em 2023, o petista tentou emplacar em diversas de suas agendas internacionais a ideia de criar um “clube da paz” para tentar obter um cessar-fogo na Ucrânia. Ao ser entrevistado por uma TV chinesa disse que não tinha um plano para acabar com o conflito propriamente, só desejava reunir países para discutir. A afirmação foi comparada a uma declaração que Lula fez antes de assumir a presidência de que conseguiria acabar com a guerra chamando Putin e o presidente Volodymyr Zelensky para tomar uma cerveja.
Atualmente há dois planos de paz para a Ucrânia em discussão. Um é apoiado pelos Estados Unidos e pela União Europeia e outro pela China e pelo Brasil. A diferença básica entre eles é que o plano do Ocidente prevê que a Rússia devolva o território que invadiu na Ucrânia e o sino-brasileiro apoia Moscou na anexação dos territórios.
4. "A ONU deve negociar e não tomar partido"
Durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2023, Lula chegou a defender que o organismo deveria atuar como mediadora imparcial e evitar tomar partido no conflito, algo que foi interpretado como uma crítica à posição de apoio à Ucrânia.
Na tribuna da ONU, Lula voltou a defender que a paz será apenas alcançada por meio de negociações, mas evitou fazer um julgamento sobre as causas do conflito.
"A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações”, disse Lula.
Na edição deste ano da Assembleia da ONU, Lula defendeu o plano de paz sino-brasileiro que dá vantagem para a Rússia em um cessar-fogo. O plano foi criticado pelo presidente Volodymyr Zelensky e Lula respondeu à imprensa: "Se ele [Zelensky] fosse esperto, ele diria que a resolução [para a guerra] é diplomática, não é militar", disse.
5. "Estão gostando da guerra"
Em junho deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que tanto Vladimir Putin, da Rússia, quanto o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, “estão gostando da guerra” que começou em fevereiro de 2022 com a invasão dos russos ao território ucraniano.
Na ocasião, Lula negou que faça defesa de Putin, e disse que trabalha pela paz. "Acho que tem que ter um acordo, agora se o Zelensky diz que não tem conversa com o Putin e o Putin diz diz que não tem conversa com o Zelensky, ou seja, é porque eles estão gostando da guerra, porque senão já tinham sentado para conversar e tentar encontrar uma solução pacífica", completou.
Lula já recebeu o chanceler russo Sergey Lavrov no Brasil ao menos duas vezes desde que assumiu o poder. Ele vem negando uma audiência com o embaixador ucraniano e uma visita de Zelensky ao Brasil desde agosto de 2023.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião