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Arthur Lira, atual presidente da Câmara dos Deputados
Arthur Lira, atual presidente da Câmara dos Deputados, deixará o comando da Casa em 2025| Foto: Mário Agra / Câmara dos Deputados

Em mais uma semana de intensas articulações políticas em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), voltou a manobrar de olho no seu futuro político. Ele fez acenos tanto para a direita quanto para a esquerda, já que em fevereiro de 2025 terá que passar o comando da Casa e quer que o sucessor seja um aliado político, segundo informaram fontes ouvidas pela Gazeta do Povo.

Lira também não quer correr o risco de cair no "vale dos esquecidos". Para ele, além de ser fundamental fazer um sucessor que conduza os trabalhos do Parlamento, é importante garantir um lugar de destaque no cenário político após o fim de sua presidência. Depois de tanto prestígio e poder à frente da Câmara dos Deputados, articulando e conduzindo a pauta de acordo com os interesses tanto do governo quanto dos partidos do Centrão, que ele mesmo lidera, Lira não pode e nem quer voltar a ser um deputado sem influência e poder.

Para isso, o parlamentar alagoano tem se movimentado mirando todas as frentes possíveis. Lira tem afirmado ser "de direita", mas ponderado. Isso porque, como presidente da Câmara, precisa ser imparcial. Nos últimos dias, ele jantou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - com quem já tinha tomado um café da manhã no início de 2024, em Alagoas -, e com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).

Mas, em paralelo, o presidente da Câmara também esteve na badalada e concorrida festa de aniversário de um dos nomes até hoje mais influentes do Partido dos Trabalhadores de Lula: o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que teve muito poder nos governo petistas anteriores.

Arthur Lira quer emplacar sucessor na presidência da Câmara e busca apoio

Embora ainda faltem dez meses para a eleição da presidência da Câmara dos Deputados, Lira - que está há dois mandatos no comando do Parlamento - não esconde a intenção de colocar alguém de mesmo perfil para sucedê-lo.

O preferido de Lira, segundo dizem interlocutores e deputados mais próximos a ele, é o atual líder do União Brasil, Elmar Nascimento, da Bahia. Os dois são amigos, até estiveram juntos de férias no recesso parlamentar do meio do ano passado, quando embarcaram num cruzeiro marítimo com shows do cantor Wesley Safadão. Também curtiram juntos o bloco de Bel Marques no carnaval de Salvador, no mês passado.

Elmar teria como concorrente principal à sucessão de Lira o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, de São Paulo, que é vice-presidente da Casa e tem se aproximado do Planalto em algumas oportunidades em que substituiu Lira. Pereira ainda contaria com o possível apoio de um grande número de parlamentares da bancada evangélica, da qual faz parte.

Também correm por fora os nomes de Antônio Brito (PSD-BA), Isnaldo Bulhões (MDB-BA), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), entre outros.

É nesse cenário que Arthur Lira tenta se manter na superfície do poder. Por isso, segundo disse à reportagem da Gazeta do Povo um deputado ligado a Lira, sob anonimato, ele tem se mostrado tão "eclético", se referindo aos recentes encontros do presidente da Câmara com integrantes tanto do PL quanto do PT.

Sobre as recentes agendas, Lira disse que foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, pela segunda vez em 2023, com votos de todos os partidos, e que por isso é natural que ele converse com todos. Ao mesmo tempo, depois de uma relação entre "tapas e beijos" com o Planalto, com duras críticas - principalmente à articulação política feita por Alexandre Padilha, das Relações Institucionais -, Lira tem evitado confrontos diretos com Lula, o qual alfinetou no retorno do ano legislativo, cobrando cumprimento de acordos. Foi uma referência direta aos vetos do presidente Lula às emendas parlamentares.

Deputados próximos a Lira cogitam que ele poderia ser convidado a assumir um ministério na Esplanada ao deixar a presidência da Câmara, ou mesmo tentar trilhar um caminho rumo ao Senado Federal, onde em 2026 enfrentaria o rival político Renan Calheiros (MDB-AL).

Analistas afirmam que Lira faz movimentos para garantir permanência no poder

O CEO do Ranking dos Políticos, Juan Carlos Arruda, diz que é natural que neste momento Arthur Lira trabalhe para evitar a estagnação política, após o fim de dois mandatos como presidente da Câmara dos Deputados. Segundo o analista, ao que tudo indica, Lira poderá mesmo apostar numa cadeira no Senado em 2026, mas até lá terá que garantir um lugar ao sol.

"Até chegarmos a 2026, ainda há um caminho a percorrer. Dada a aproximação notável entre o presidente da Câmara e o governo federal, existe a possibilidade de que Lira seja nomeado ministro na gestão do presidente Lula", pontuou Arruda.

Já o professor de Ciências Políticas Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, acredita que, além de Brasília, Lira está atento à influência política que tem no seu estado natal, Alagoas, onde disputa poder e prestígio diretamente com o senador Renan Calheiros (MDB), e contra quem poderá concorrer à vaga no Senado nas eleições gerais de 2026.

A atuação política de Lira em Brasília também mira diretamente a situação de aliados e rivais em Alagoas, de acordo com Cerqueira, já que o atual presidente da Câmara poderá optar por concorrer ao governo de Alagoas em 2026 - outra possibilidade que se abre além do Senado.

Por isso, o analista avalia que não seria qualquer ministério no governo Lula que encheria os olhos de Arthur Lira. Para o professor do Ibmec, seria mais interessante para Lira fazer o sucessor à presidência da Câmara e tentar garantir um posto na Mesa Diretora. Dessa forma, ele se fortaleceria e poderia despontar como futuro candidato a governador de Alagoas.

"Se ele conseguir fazer o seu sucessor, e tudo indica que sim, a chance de ter uma candidatura vencedora que não esteja alinhada com a esquerda é muito grande", afirmou o cientista político.

Além disso, Cerqueira diz que o futuro político de Lira também depende das eleições municipais de 2024 e do resultado do Progressistas nas urnas.

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