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Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

Delação vazada de Mauro Cid sobre suposto plano de golpe fala em duas frentes de ação

PF diz a Moraes que Mauro Cid descumpriu termos de delação
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. (Foto: Pedro França/Agência Senado.)

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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou em sua primeira delação à Polícia Federal que a equipe do ex-presidente tinha dois planos para supostamente reverter o resultado da eleição presidencial que deu a Lula um terceiro mandato. Os depoimentos seguem sob sigilo por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, mas o primeiro deles foi publicado neste sábado (25) pelo colunista Elio Gaspari, da Folha de S. Paulo.

Uma das hipóteses defendidas por um grupo próximo a Bolsonaro envolveria a identificação de fraude eleitoral, o que não foi constatado pelos investigados. Outra possibilidade seria a de convencer as Forças Armadas a aderirem a um golpe de Estado, segundo detalhes da colaboração premiada de Cid.

Ao todo, foram prestados mais de dez depoimentos no conjunto de delações. Em um deles, de 28 de agosto de 2023, Mauro Cid mencionou supostos detalhes de como diferentes grupos ligados ao ex-presidente teriam desenvolvido teses para lidar com a derrota eleitoral.

Segundo o tenente-coronel, três grupos próximos ao ex-presidente do Brasil apresentavam visões diferentes para acompanhar o momento político. O primeiro, segundo Cid, teria uma opinião mais "conservadora" da situação - neste primeiro grupo é citado um dos filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro. Essas figuras queriam, segundo o delator, que Bolsonaro "mandasse as pessoas para suas casas" e se tornasse o líder majoritário da oposição ao governo petista. Eles defendiam que o ex-presidente deveria apenas dar um "direcionamento" para a nação.

Outros nomes mencionados por Cid como pertencentes a este grupo eram o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP); o advogado-geral da União, Bruno Bianco; e o comandante da Força Aérea, o brigadeiro Baptista Júnior.

Uma segunda frente próxima de Bolsonaro seria formada por "figuras moderadas", que defendiam que "nada poderia ser feito diante do resultado das eleições". O documento da delação diz que "uma virada de mesa representaria um regime militar por mais 20, 30 anos", o que eles não concordavam.

Essas pessoas consideravam "uma doideira" assinar qualquer documento de golpe de Estado. De acordo com Mauro Cid, nessa categoria estariam o comandante do Exército, o general Freire Gomes; Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, e o general Júlio César de Arruda.

Esse grupo, segundo o tenente-coronel, não concordava com o caminho que o Brasil estava indo, "com abusos jurídicos, prisões e com a condução das relações institucionais que ocorriam no país". Apesar disso, entendiam que "nada poderia ser feito diante do resultado das eleições". 

Segundo os documentos obtidos pela Folha de S. Paulo, outra parte desse grupo defendia que o ex-presidente deixasse o país. Entre eles, segundo o delator, estava o empresário do agronegócio Paulo Junqueira.

Um terceiro grupo próximo a Bolsonaro é citado como uma ala que teria apoiado maior pressão sobre o resultado eleitoral. De acordo com o ex-ajudante de ordens, este grupo se compunha por duas frentes.

Um dos braços apoiaria o discurso de identificar fraude nas eleições e contava, por exemplo, com a posição afirmativa do major da reserva Angelo Denicoli e o senador Carlos Heinze (PP), de acordo com a delação de Cid. Outra frente desse grupo "era favorável à criação de um braço armado", segundo depoimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que não mencionou nomes nem detalhes das pessoas que estariam nessa categoria, mas classificou o suposto plano como uma "doideira".

O tenente-coronel citou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como uma pessoa próxima de Bolsonaro que "constantemente conversava com o ex-presidente, instigando-o a dar um golpe de Estado".

Outro nome citado na "ala mais radical", segundo Mauro Cid, era o do senador Jorge Seif (PL-SC). Em nota, o parlamentar disse que sua menção como "participe da ala mais radical que incentiva um suposto golpe é informação falaciosa, absurda e mentirosa".

Segundo ele, "jamais houve abordagem ou insinuação sobre um suposto golpe com o presidente da República ou com qualquer um dos citados na delação vazada".

"O conteúdo do depoimento ilegalmente vazado é apenas uma opinião de 'classificação' que me inclui de forma criminosa como parte de um grupo fictício, e não contém nenhum relato de fato específico sobre participação minha que jamais existiu", acrescentou o senador.

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