O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) minimizou a crítica recente do ministro José Múcio Monteiro, da Defesa, de que a licitação para a compra de blindados para a artilharia do Exército, vencida por uma empresa israelense, foi barrada pelo governo por “questões ideológicas”.
Múcio afirmou, na última terça (8), que a concorrência foi vencida pelos “judeus, o povo de Israel”, mas que não foi possível aprová-la pela reação israelense ao Hamas na Faixa de Gaza. O conflito é alvo constante de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já o comparou a “genocídio” e até mesmo ao “holocausto nazista”, o que o levou a ser considerado persona non grata pelo governo de Israel.
“Não existe no PT nem no governo nada contra judeus. A nossa divergência é em relação à forma como o governo de Israel enfrenta o Hamas, aniquilando 40 mil pessoas. Não temos problemas ideológicos com o povo judeu, não se pode fazer uma mistura dessas”, disse Zaratini em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta sexta (11).
A licitação para a compra de blindados para a artilharia do Exército foi vencida pela Elbit Systems por quase R$ 1 bilhão, pelos critérios técnico e de menor preço à frente de concorrentes da França, China e Eslováquia.
Fontes próximas à presidência apontam que a proibição foi orientada pelo embaixador Celso Amorim, que assessora Lula em assuntos internacionais. A compra poderia soar contraditória para a política externa brasileira e financiar indiretamente a reação israelense ao Hamas e ao Hezbollah, alvo atual do conflito no Líbano.
“Com todo respeito, as pessoas que estão contra são por motivos políticos, ideológicos. Eu estou defendendo o Exército e que a gente tenha oportunidade de dotar o Exército Brasileiro de equipamentos mais modernos”, disse Múcio em uma entrevista à Folha em setembro, em que defendeu, ainda, que a compra de dois obuseiros – a categoria dos blindados – “não movimentam absolutamente nada” em questões financeiras.
A compra também não é vista como contraditória pelo TCU, que afirmou que as leis brasileiras não impedem que o país adquira material militar de empresas situadas em nações em guerra, e que não há tratados internacionais que coloquem barreiras para essas compras.
“Não existem tratados internacionais internalizados pelo Brasil ou embargos do Conselho de Segurança das Nações Unidas que criem algum empecilho a esse respeito. [...] Não há restrição relativa a fornecedor que tenha sua sede em país em situação de conflito armado, seja quanto à sua participação em licitação, seja quanto à celebração ou a manutenção de contrato”, disse a Corte em meados de setembro após consulta.
Múcio informou que o TCU também não autorizou que o contrato fosse repassado à segunda colocada, a empresa tcheca Excalibur. A KNDS France, que ficou em terceiro lugar, questionou o processo no TCU, pedindo a suspensão da compra até que sua representação seja analisada.
Governo barra compra de Israel, mas aumenta importações da Rússia
Apesar de travar a compra dos blindados israelenses por causa da reação ao Hamas na Faixa de Gaza, o governo Lula aumentou em 75% as importações da Rússia também em meio a um conflito – contra a Ucrânia no Leste europeu. O presidente já chegou a adotar uma posição dúbia sobre a guerra e, somente após críticas, fez algumas condenações ao regime de Vladimir Putin, mas sem responsabilizá-lo diretamente.
Levantamento feito pela Gazeta do Povo a partir de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram um salto nas importações brasileiras provenientes da Rússia de 2021 a 2023. O valor passou de R$ 5,6 bilhões em produtos russos para mais de R$ 10 bilhões, um aumento de cerca de 75%, o que ajudou Moscou a financiar a máquina de guerra contra os ucranianos.
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