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Eleições 2026

Desaprovação de Lula e inelegibilidade de Bolsonaro abrem espaços e outros nomes despontam na direita

Bolsonaro e Tarcísio
O ex-presidente Jair Bolsonaro com o governador de SP, Tarcísio de Freitas (Foto: Alan Santos/ Secom / Arquivo)

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A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira (18), não inicia só uma batalha jurídica. Associada à crise de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ela também impacta os rumos da corrida presidencial de 2026.

Ao enfrentar o processo que pode resultar em condenação por suposta tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro se vê desafiado a se defender numa Corte que considera política e hostil. Mas ele também terá de articular uma frente unida na direita, dedicada a vencer o projeto de reeleição de Lula, tendo como tarefa essencial construir essa candidatura.

A perspectiva da eventual manutenção da inelegibilidade de Bolsonaro abre espaço para nomes alternativos no campo conservador. Na fila para substituí-lo estão a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, dois filhos do ex-presidente – o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio (PL-RJ) –, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Este último ganhou impulso com pesquisas mais recentes, embora venha dizendo que não tem a intenção de se lançar candidato ao Palácio do Planalto.

A oposição ao presidente Lula ainda coloca como opções os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), de Goiás; Romeu Zema (novo-MG), de Minas Gerais; e Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD-PR), do Paraná.

Correndo por fora, candidaturas avulsas já foram postas, sob a marca da antipolítica, com Pablo Marçal (PRTB) e o cantor sertanejo Gusttavo Lima (sem partido).

Flávio Bolsonaro diz que o pai apoiará nome da direita, caso continue inelegível

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) reafirmou que o pai se mantém como pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2026, algo sublinhado pelo próprio ex-presidente e pelo seu partido, mas admite que a direita já especula outros nomes viáveis para concorrer.

Segundo o parlamentar, embora siga inelegível até 2030, a ideia é registrar a sua candidatura e, “lá na frente”, se for necessário, poderá apoiar outra opção da direita. Nesse sentido, ele informou que presidentes de partidos do Centrão já trabalham com o cenário sem Bolsonaro nas urnas, tendo conversado com Michelle Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e o próprio senador.

“Há diversos nomes que têm viabilidade de concorrer. Bolsonaro tem a humildade de apoiar qualquer um desses que tenha maior potencial”, garantiu o senador ao jornal O Globo. “Presidentes de partidos falam para mim, para Tarcísio, para Michelle, para Ratinho, para o Zema, para todo mundo: mantenha a linha que pode ser que seja você”, revelou.

De toda forma, Flávio Bolsonaro considera “desrespeito” ao pai falar agora em candidatura alternativa. O resgate dos direitos políticos do ex-presidente continuará sendo buscado com recursos da defesa à Justiça Eleitoral e, paralelamente, com a eventual aprovação de projeto para reduzir prazo de punição a políticos previsto na Lei da Ficha Limpa.

Para especialista, alternativas a Bolsonaro aguardam desfecho jurídico

Ao se distanciar da dependência exclusiva da figura de Jair Bolsonaro, os candidatos alternativos a ele na direita poderão sair pelo país para tentar atrair partidos e outros segmentos do eleitorado, mas sem abdicar do foco no movimento conservador.

O cientista político Ismael Almeida afirma que ainda é cedo para avaliar se a denúncia contra Bolsonaro no STF impulsionará mais candidaturas da direita. “Em maior ou menor grau, os possíveis nomes já são conhecidos. Creio que haverá cautela deles em defender suas candidaturas, até que [se tenha] certeza do desfecho jurídico [de Bolsonaro]”, observa.

A exceção a essa regra parece ser Caiado, que tem o lançamento da pré-candidatura ao Planalto programada para 4 de abril, na Bahia. Além disso, Marçal e Gusttavo Lima também já se manifestaram no mesmo sentido.

Com a atenção e os debates jurídicos centrados na figura de Bolsonaro, a pressão que recai sobre Lula - em razão da impopularidade recorde - pode sair do foco momentaneamente, o que beneficia o petista.

Almeida aposta que a sequência de avaliações negativas de Lula pela população seguirá adiante, tirando popularidade dele. “Passado o impacto inicial da denúncia contra Bolsonaro, Lula voltará a ser cobrado por resultados, sobretudo quando não houver mais novidades sobre o ex-presidente que sirvam de cortina de fumaça para problemas do governo”, explica.

Desafio para Bolsonaro ou eventual opção conservadora está em manter a direita unida

No ambiente marcado pela fragmentação de alternativas, a denúncia contra Bolsonaro serve como alerta para a importância de uma articulação coesa entre os diversos atores da direita. Segundo especialistas e líderes partidários, a união não apenas amplia a capacidade de mobilização e comunicação, mas também permite construir uma plataforma conservadora eficaz.

As primeiras reações da direita após a denúncia da PGR indicam que ela ajudou a unir o espectro político, incluindo personagens mais ao centro, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), apontando fragilidades jurídicas e viés político.

Luiz Filipe Freitas, cientista político e assessor legislativo do escritório Malta Advogados, entende que está na hora de a direita se organizar para efetivamente pensar em alternativas. Nesse sentido, ele avalia que é importante que Bolsonaro acene para uma abertura maior, para além de nomes de sua família. De toda forma, não se sabe quem será o candidato da direita em 2026 se o ex-presidente permanecer inelegível.

Na sua avaliação, uma candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas depende do presidente do PSD e principal secretário do governo paulista, Gilberto Kassab, com quem Bolsonaro se encontrou recentemente, para tratar do projeto de anistia a condenados pelo 8 de janeiro de 2023.

“A candidatura de Tarcísio à Presidência pode depender ainda de como estará a popularidade de Lula até lá", afirma Freitas. Para ele, uma dúvida é se o governador de São Paulo irá "abdicar de uma eleição praticamente definida no estado mais importante do país para uma duvidosa campanha ao Planalto".

Nesta terça-feira (18), Tarcísio afirmou que prioriza a gestão estadual e rechaçou qualquer articulação sobre uma eventual candidatura. "Não tenho falado com ninguém, não sou candidato, não tenho interesse, e as pessoas próximas devem falar pelo seus próprios interesses. Não serei candidato", disse ao jornal Folha de S. Paulo, em resposta a reportagens sobre a possibilidade de candidatura à Presidência da República.

Ele também negou que tenha discutido o tema com aliados e ressaltou que especulações são baseadas em interesses de terceiros. "Ninguém fala por mim", complementou.

Capital político de Bolsonaro dá mostras de resistência apesar da crise

Diante da pressão jurídica e política, Bolsonaro precisa manejar cuidadosamente seu legado e seu capital político. Manter a lealdade de sua base conservadora, ao mesmo tempo em que se adapta a um contexto que exige concessões e ajustes estratégicos, torna-se uma tarefa delicada. Esse equilíbrio é fundamental para evitar um desgaste maior e, ao mesmo tempo, preservar a influência necessária para orientar a agenda da direita.

Com o avanço do cerco do STF a Bolsonaro, ganha ainda mais respaldo o projeto do PL e do ex-presidente de eleger o maior número possível de senadores em 2026, para dar perfil conservador à Casa a partir do ano seguinte. Com o desequilíbrio entre os poderes e as negociações legislativas ganhando destaque, o Senado assume papel central, à medida que ele é o único capaz de afastar ministros da Suprema Corte.

Ismael Almeida confirma esse papel estratégico, inclusive para o discurso eleitoral de 2026, e opina que o capital político de Bolsonaro parece intacto por enquanto. “Quem o apoia, enxerga nessa denúncia da PGR a materialização de uma perseguição política implacável, um jogo de cartas marcadas que será decidido por um STF que, para esse público, não goza de nenhuma credibilidade e não é imparcial”, explica.

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