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A aprovação do projeto de lei que estabelece uma nova dosimetria para reduzir as penas dos condenados pelo 8 de janeiro de 2023 manteve o apoio da direita para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disputar a Presidência em 2026. Ainda assim, não foi suficiente para atrair apoio dos partidos do Centrão, ainda reticentes em relação à capacidade de Flávio para derrotar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições e que expressam preferência pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Nesta quinta-feira (11), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse considerar Tarcísio, que é do Republicanos, a melhor opção para o país e que terá o apoio do seu partido. Desejou boa sorte a Flávio. “Eu ainda entendo que o Tarcísio é o melhor candidato para o Brasil. Isso se ele for candidato, porque as coisas estão se aquecendo ainda, né? Se ele for candidato, ele terá o apoio do PSD”, afirmou.
A declaração de Kassab ocorre na esteira da movimentação do Centrão para convencer Flávio a desistir da candidatura. Na última segunda (8), o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, e o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, disseram ao senador que preferem Tarcísio e que a dosimetria, neste momento, era a medida possível em favor de Jair Bolsonaro e de seus aliados e apoiadores presos.
Inicialmente, especulava-se que, com a dosimetria aprovada na Câmara — o que ocorreu na madrugada de quarta-feira (10) — o filho do ex-presidente desistiria do pleito. Deputados do PL, por outro lado, repetiam que isso só ocorreria se a anistia, com perdão total dos crimes, fosse aprovada., o que recolocaria Jair Bolsonaro nas urnas.
Ainda na quinta-feira, o líder do PP, deputado Dr. Luizinho (RJ), afirmou que seu partido deve apoiar uma candidatura alternativa de centro-direita, afastando-se assim de uma eventual aliança com Flávio. “Neste momento, a federação [com o União Brasil] se sente liberada para fazer o movimento que quiser, porque o PL fez o movimento dele isolado”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo.
Direita diz que candidatura de Flávio continua após dosimetria
Parlamentares do PL afirmaram que a candidatura de Flávio está mantida e negam que houve acordo em troca da aprovação do PL da dosimetria. O projeto foi aprovado por 291 votos contra 148 e, caso passe no Senado, reduzirá as penas de Bolsonaro — condenado a 27 anos e 4 meses — e dos presos do 8/1.
O deputado Sanderson (PL-RS) reforçou que a discussão sobre retirada da candidatura “só poderia ocorrer se a anistia defendida pela oposição fosse aprovada”.
No domingo (7), Flávio sugeriu que o “preço” para desistir seria o pai solto e anistiado. Depois, comemorou o avanço do PL da dosimetria na Câmara, ainda que a proposta não atendesse à demanda original da direita. “Fico feliz com a decisão e espero que os deputados tomem a melhor escolha sobre essa pauta”, afirmou.
Após a votação, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) saiu em defesa da candidatura de Flávio. “O ‘preço’ para Flávio recuar na candidatura era a anistia, e não a dosimetria. Está mantida a candidatura à Presidência. Agora, mais do que nunca, é Flávio Bolsonaro 2026”, escreveu no X.
Centrão vai avaliar pesquisas e acordos locais antes de decisão oficial sobre Flávio
Apesar das declarações dos caciques, o Centrão evita externar uma posição que constranja Flávio e os eleitores de Jair. Uma importante liderança do PP afirmou à Gazeta do Povo que o partido vai aguardar até fevereiro para uma avaliação final da pré-candidatura. Entram na conta o desempenho do senador nas pesquisas e as alianças regionais dos partidos que integram o Centrão.
Interlocutores do União Brasil afirmam que o partido, assim como seus aliados, vai agir com cautela quanto à candidatura de Flávio. Qualquer definição deve ocorrer apenas em abril do ano que vem, após a janela para políticos trocarem de partido.
O prazo coincide com a data-limite para Tarcísio ou Ratinho Jr. (PSD), governador do Paraná e plano B do Centrão para a Presidência, deixarem seus cargos caso queiram disputar o Palácio do Planalto.
O presidente do União Brasil, Antônio Rueda, já afirmou que o senador tem legitimidade, mas que a sigla deve apoiar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), para a Presidência.
“Flávio tem legitimidade, mas ainda não temos nada fechado. Ele representa a direita, mas o partido segue tendo um nome colocado para a Presidência, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado”, disse Rueda a O Globo.
O desempenho de Flávio nas pesquisas é visto como o principal termômetro para qualquer decisão do Centrão. Levantamento do instituto Ipsos-Ipec apontou que o senador registra 19% das intenções de voto contra 38% de Lula. O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, aparece com 17%. A preocupação do grupo é que a taxa de rejeição de Flávio — 35%, segundo a mesma pesquisa — acabe comprometendo a viabilidade da candidatura.
Por enquanto, apesar da falta de apoio a Flávio, os partidos do Centrão vão aguardar até o fim do primeiro trimestre para reavaliar a viabilidade da candidatura. Os caciques observarão, de perto, até lá, não apenas as intenções de voto, mas principalmente a rejeição. Hoje, o diagnóstico é que, por causa de uma rejeição maior ao sobrenome Bolsonaro, principalmente no Norte e Nordeste, Flávio corre mais risco de ser derrotado por Lula que Tarcísio.
Os acordos nos estados também são vistos como um entrave a um eventual apoio. No caso do União Brasil, há o risco de a sigla liberar os diretórios locais para escolherem quem apoiar, já que parte do partido se alinha a Bolsonaro e foi eleita pela direita.






