Representantes de partidos de centro e centro-direita, e da chamada direita não bolsonarista articulam a convocação de uma manifestação de rua contra o presidente Jair Bolsonaro sem a participação de movimentos de esquerda. A organização conta com a adesão do Movimento Brasil Livre (MBL), do Vem Pra Rua e de integrantes de legendas como Novo, Cidadania e PSL.
O grupo se reúne nesta quinta-feira (8) para definir data e locais dos atos contra Bolsonaro. Senadores que integram a CPI da Covid como Simone Tebet (MDB-MT) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também ensaiam conversas com os organizadores.
“Precisamos falar com aquele eleitor que votou no Bolsonaro e se sentiu traído. Sabemos que esse governo hoje só se sustenta por conta do Centrão”, avalia o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), integrante do MBL. O PSDB, cuja militância participou da manifestação do último sábado (2) promovida por movimentos de esquerda, também tenta estreitar laços com os grupos de centro-direita.
Já partidos como DEM e MDB, que trabalham para viabilizar uma candidatura de terceira via para o Planalto em 2022, ao lado de nomes como o presidente do Novo, João Amoêdo, e o presidente do Cidadania, Roberto Freire, ainda preferem observar a distância a organização dos atos da direita.
Pré-candidato à Presidência da República pelo DEM, Luiz Henrique Mandetta já havia se manifestado contrário às manifestações de ruas neste momento por causa da pandemia do novo coronavírus. O entorno de Mandetta acredita, no entanto, que a articulação dos movimentos de centro-direita pode acabar atraindo eleitores e grupos que até então não aderiram às manifestações por causa dos organizadores de esquerda.
Segundo aliados do ex-ministro da Saúde, se o movimento crescer e pressionar a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro, os próprios partidos de centro seriam os beneficiados na disputa eleitoral de 2022.
Na semana passada, lideranças de direita, centro e esquerda protocolaram um “superpedido” de impeachment de Bolsonaro, mas não chegaram a um consenso sobre unificar as estratégias de mobilização. "Ficou claro que não tem como unificar com a esquerda. Queremos fazer manifestações contra o Bolsonaro, mas sem levantar a bandeira do Lula", admitiu o coordenador nacional do MBL, Renato Battista, ao jornal O Estado de S. Paulo.
Para a porta-voz do Vem Pra Rua, Luciana Alberto, o “extremismo” adotado por parte da esquerda nas manifestações recentes acaba afastando parte do eleitorado. “O que nós temos observado é que existe por parte dos movimentos de esquerda algum radicalismo e uma atuação incompatível com a democracia, como a depredação do patrimônio público. É preciso que aqueles que representam os movimentos de esquerda se atentem para esses fatos, pois parte da sociedade não se sente representada por isso. Isso acaba sendo prejudicial para a própria causa”, argumenta.
Militância do PSDB deve aderir a manifestação da direita contra Bolsonaro
Depois de serem hostilizados por integrantes do PCO na manifestação contra Bolsonaro do último sábado (2), militantes do PSDB avaliam aderir às manifestações da centro-direita. Apesar de ainda haver resistências por parte de caciques tucanos, representantes da militância do partido, como da juventude e da diversidade, já conversam com representantes do MBL e do Vem Pra Rua.
"Nosso líder Bruno Covas [ex-prefeito de São Paulo] disse que restariam poucos dias para o obscurantismo e o negacionismo e, para que isso se concretize, é necessário que todos os que são a favor da democracia e principalmente da vida se unam contra um governo que coloca o brasileiro a venda por 1 dólar", diz nota assinada pelo presidente do diretório municipal do PSDB da capital paulista, Fernando Alfredo.
Segundo Alfredo, os ataques sofridos por parte dos manifestantes de esquerda na última manifestação não abalou a militância tucana. Aliados de João Doria dentro do PSDB acreditam que a adesão da militância tucana pode acabar beneficiando o governador tucano, que busca o direito dentro do partido de concorrer à presidência no ano que vem.
“A nossa pauta é o impeachment de Bolsonaro. O PSDB de São Paulo se posicionou contra esse governo”, afirma Fernando Alfredo. Apesar disso, integrantes da Executiva tucana, como o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, não sinalizaram intenção de aderir aos protestos contra o governo Bolsonaro.
PSL busca protagonismo da terceira via
Apesar de ter aderido à última manifestação contra Bolsonaro, uma parte do PSL que rompeu com o presidente acredita que pode virar protagonista da construção de uma candidatura de terceira via para 2022 com a adesão aos protestos dos movimentos da direita. O partido que abrigou as candidaturas bolsonaristas em 2018 pretende agora atrair nomes do MBL e lançar o nome do apresentador de TV José Luiz Datena.
“Mataram mais de meio milhão de brasileiros, mas a voz do país inteiro nas ruas mostrou que os que estão vivos não permitirão que isso fique impune”, afirma o deputado Júnior Bozzella, presidente estadual do PSL em São Paulo. O parlamentar é um dos principais articuladores para que a legenda não receba de volta Bolsonaro para a disputa eleitoral de 2022.
“A cada pesquisa vê-se um governo falido, desesperado e disposto a vender o Brasil e a alma pela reeleição. A consolidação da terceira via urge”, afirma o deputado. O partido de Bozzella filiou nesta semana o apresentador Datena, e segundo integrantes do PSL, “existe uma grande possibilidade de ele sair como candidato à Presidência em 2022”.
O apresentador tem dito que prefere concorrer a uma cadeira ao Senado por São Paulo, mas negociou com o PSL que será pré-candidato à Presidência pelo menos até janeiro de 2022. Se não decolar nas pesquisas de intenção de voto, poderá se candidatar ao Senado ou ainda ao governo paulista.
Datena já foi cotado como pré-candidato em 2016 e 2020, para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PP e pelo MDB, respectivamente, e lançado para o Senado em 2018 pelo DEM. Nas três eleições, desistiu de concorrer na última hora. Agora, no entanto, diz que sua disposição é diferente.
Paralelas às essas negociações, integrantes do MBL também devem migrar para o PSL, entre eles Kim Kataguiri e o deputado estadual por São Paulo Arthur do Val. Como a Gazeta do Povo mostrou, parte do MBL que está filiada ao Patriota sinalizou a intenção de deixar a legenda depois que o presidente Bolsonaro abriu negociações para se filiar ao partido.
“A vinda do MBL é importante para construir palanques regionais e fortalecer a candidatura do Datena, do projeto desse campo do centro, da centro-direta para a terceira via”, admite Bozzella.
Bolsonaro minimiza atos contrários ao seu governo
Até o momento, o presidente Jair Bolsonaro tem minimizado os atos contra si e participado de atos pró-governo, como demonstração de força. Em sua live mais recente, em 1° de julho, ele ironizou o "superimpeachment". "Quem não tem o que fazer fica tentando atrapalhar a vida de quem produz", declarou.
O chefe do Palácio do Planalto já realizou “motociatas” em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, além do Distrito Federal. Bolsonaro já confirmou aos seus apoiadores que estará no ato marcado para o próximo dia 10 em Porto Alegre. No final de semana seguinte, 17 de julho, será a vez de Manaus receber manifestação em apoio ao presidente.
Em comunicado divulgado à imprensa, a prefeitura de Manaus diz que são aguardados mais de 50 mil participantes, inclusive de estados vizinhos “como Roraima e Rondônia, que devem comparecer, por meio de seus representantes”.
“A prefeitura de Manaus ficará responsável pela logística da ‘motociata’. Durante este percurso será necessário o apoio com água, banheiro e mobilidade, por meio de toda a estrutura municipal. A prefeitura irá atuar de forma que o evento seja realizado da melhor maneira possível”, afirmou o secretário municipal e chefe da Casa Militar, tenente William Dias.
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