A comunicação com o eleitor do Nordeste foi avaliada por políticos de direita como fundamental para o avanço na região. Sendo um reduto eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entendem que parte da estratégia para ganhar terreno é defender o legado do ex-mandatário, como obras e recursos aportados.
Planejando eleger mil prefeitos no próximo ano, o PL busca lançar ex-integrantes da gestão Bolsonaro na disputa pelo Executivo municipal para relembrar os feitos de pastas importantes. O ex-ministro da Cidadania João Roma, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado e o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga já foram apontados pela sigla comandada por Valdemar Costa Neto como pré-candidatos em Salvador, Recife e João Pessoa, respectivamente. Atualmente, a sigla conta com 343 prefeitos.
A inelegibilidade de Bolsonaro, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho deste ano, fez com que a sigla investisse na figura de Michelle Bolsonaro como alternativa para captar novas filiações pelo país, com destaque para Norte e Nordeste. Só neste ano, ela já visitou Rondônia, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Pará. Nesses dois últimos estados, ela esteve acompanhada de Bolsonaro.
Legado de Bolsonaro precisa ser defendido pelos aliados
Como estratégia para alavancar a direita na região, Marcelo Queiroga destaca que a Transposição do Rio São Francisco precisa ser lembrada pela direita nordestina nas próximas campanhas. Em fevereiro de 2022, a obra foi finalizada pelo ex-presidente após 14 anos entre avanços e interrupções.
“A transposição do Rio São Francisco, um projeto importante para a região, foi realizada durante o governo de Bolsonaro. Portanto, é crucial fortalecer a comunicação e destacar as conquistas. Para isso, o presidente nomeou vários ministros nordestinos, como Ciro Nogueira, do Piauí, Rogério Marinho, hoje senador e líder do PL no Senado, Gilson Machado, na Paraíba, e João Roma, todos sob a liderança forte do [ex-]presidente Bolsonaro”, disse o ex-ministro.
Seguindo a mesma linha de Queiroga, Gilson Machado ressaltou os números dos programas sociais apresentados pelo governo anterior, como o Bolsa Família, que na gestão anterior chamava-se Auxílio Brasil. Para o ex-ministro do Turismo, é preciso fazer a comparação da situação econômica do governo petista com o governo anterior.
“É importante destacar o nosso legado. Anteriormente, tínhamos 23 ministérios, mas agora temos 39, o que implica em mais despesas para o cidadão. Além disso, a taxa de desemprego é uma preocupação. Observamos que quase 2,5 milhões de pessoas saíram do programa Bolsa Família no governo anterior. Usaremos o tempo de rádio e televisão para fazer com que o povo sinta um pouco de saudades do [ex-]presidente Bolsonaro e do nosso time de ministros”, disse Machado.
Por outro lado, ele admitiu que a gestão Bolsonaro falhou em comunicar com eficiência as conquistas do governo na região Nordeste.
“Cometemos erros significativos, erros dos quais aprendemos muito e que não repetiremos em um eventual próximo governo. Um desses erros foi não ter cargos estratégicos nas mãos de aliados do Nordeste, ao invés disso, esses aliados estavam apoiando Lula e as oposições”, acrescentou o ex-ministro.
Direita precisa focar nas dificuldades do Nordeste
Representando 13,6% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), a região Nordeste apresenta dados desafiadores que precisam ser discutidos pelos candidatos de direita. Um exemplo é o levantamento feito pela empresa alemã Statista sobre as 50 cidades mais perigosas do mundo: dos dez municípios brasileiras presentes, nove são nordestinos. Segundo
As cidades citadas são Mossoró (RN, 11ª colocação); Salvador (BA, 19ª); Feira de Santana (BA, 22ª); Vitória da Conquista (BA, 26ª); Natal (RN, 28ª); Fortaleza (CE, 31ª): Recife (PE, 35ª); Maceió (AL, 36ª); e Teresina (PI - 40ª). O único dos dez municípios brasileiros mencionados que não faz parte do Nordeste é Manaus (AM), na região Norte, que ocupa a 21ª posição no levantamento.
Para o deputado federal Rodrigo Valadares (União-SE), a direita teve grande avanço na região desde 2018. Das 99 cadeiras ocupadas pelo PL nas eleições de 2022, 23 são do Nordeste. Entretanto, ele reconheceu que os candidatos precisam conversar mais com o eleitorado local para entender as dificuldades municipais.
“Com exceção do Piauí, todos os estados elegeram pelo menos um deputado federal identificado com o Bolsonaro e eleitos com os votos desta base. Mas ainda temos muito o que melhorar, sobretudo no que tange à comunicação, de conversar com o eleitor e a forma de fazer política na região, onde os governos estaduais e municipais ainda tem seu peso. Culturalmente, a figura de Lula e do petismo é forte no Nordeste, embora venha decaindo, principalmente com o estelionato eleitoral cometido pela sua gestão”, opinou o deputado.
Na avaliação de João Roma, é preciso discutir as necessidades locais com a população para que haja maior compreensão entre o que o eleitor que e o discurso que o partido, no caso o PL, precisa adotar.
“O PL vai ter cerca de 20% do tempo de rádio e TV na próxima eleição. Temos que ressaltar e traduzir as nossas propostas de políticas públicas para esse eleitor. Por exemplo: nós somos adeptos à diminuição de impostos. Precisa estar claro que a política do PT é de aumentar impostos e a nossa, de diminuir. Esse é um desafio da nossa comunicação. O cidadão não tá satisfeito de pagar tanto imposto”, disse o ex-ministro.
Comunicação da direita precisa ser clara
O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), explica que a comunicação política, assim como para outras áreas, depende de uma clareza entre o público e o político. Ela também pede que o candidato, ou político, esteja alinhado com as necessidades do público.
“A comunicação política depende de três grandes elementos. Ela depende da construção de imagem, do que você está querendo promover no livre mercado de ideias. Ela depende da segmentação, ou seja, para quem você quer dirigir a sua mensagem, e dentro desse público, para quem você quer dirigir sua mensagem, é preciso que você identifique os elementos de raça, gênero e renda. E uma vez feito isso, você precisa ter um terceiro elemento muito importante, que é a produção de uma mensagem clara e eficiente”, disse o professor.
Comentando a estratégia da direita para o Nordeste, Gomes avaliou que os agentes desse espectro político ainda não conseguiram, até o momento, alinhar um discurso sólido que traga maior ganho eleitoral para 2024.
“Ao que parece, principalmente depois que o Bolsonaro foi tornado inelegível, a direita ainda não tem um discurso que consiga efetivamente levar a termo esses três patamares possibilitadores da boa comunicação política. Não tem uma mensagem clara e afinada com os anseios da população dessa região (Nordeste)”, acrescentou.
Ele pontuou que a direita precisa ter maior clareza na própria definição para o eleitorado.
“O que é a direita? A direita é o PL? Não diria. A direita é uma frente unificada, antilulista? Isso também não existe. Existe hoje alguma coisa que seja identificável como direita no Brasil e que possa ser vendida no mercado de ideias políticas dessa maneira? Essa é uma grande questão”, salientou.
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