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“Não tenho que prestar conta a banqueiro, mas ao povo pobre”, diz Lula
Falatório de Lula nas últimas semanas, com ataques a juros e críticas à taxação das carnes, parece ter repercutido bemno público, sobretudo de baixa renda.| Foto: André Borges/EFE.

Adotar uma postura intransigente na defesa de programas sociais e do consumo das camadas mais pobres da população, ao mesmo tempo em que se posiciona como um forte crítico da “ganância do sistema financeiro” e dos juros altos estabelecidos pelo Banco Central (BC), parece ter rendido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) os resultados desejados. Além disso, criticar decisões polêmicas de seu próprio governo, como a taxação das blusinhas importadas e a exclusão da carne da cesta básica sem impostos na reforma tributária também faz parte dessa estratégia.

Preocupado com a queda de popularidade neste ano, Lula intensificou o discurso populista nas últimas semanas, caracterizado por declarações agressivas todos os dias. Analistas consultados pela Gazeta do Povo avaliam que essa tática pode ter sido eficaz, conforme demonstraram a pesquisa mais recente, que indica uma melhora na aprovação popular do presidente da República.

A mais nova rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quarta-feira (10), mostra que 54% dos eleitores aprovam o trabalho do presidente, especialmente entre o público de menor renda e escolaridade. Esse resultado representa um aumento de quatro pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, realizada em maio, sendo o melhor desempenho nos últimos sete meses.

Entre 5 e 8 de julho, a pesquisa registrou que a desaprovação ao trabalho de Lula caiu de 47% para 43%, o menor índice desde dezembro de 2023. As melhorias foram observadas em quase todas as segmentações, destacando-se entre mulheres (de 54% para 57%), pardos (de 54% para 59%) e pretos (de 56% para 59%), eleitores de 35 a 59 anos (de 50% para 56%), com escolaridade até o Ensino Fundamental (de 60% para 65%) e renda familiar mensal de até dois salários-mínimos (de 62% para 69%).

Mais pobres percebem uma melhora na economia e fazem coro às falas de Lula

A pesquisa também revelou uma melhoria significativa na percepção da economia entre os eleitores de menor renda. Para aqueles com renda familiar mensal de até dois salários-mínimos, a avaliação positiva subiu de 33% para 37%, o melhor resultado desde dezembro (39%). A porcentagem dos que percebem uma piora caiu de 28% para 24%.

O levantamento avaliou ainda o conhecimento e aprovação de seis programas do governo. O Farmácia Popular lidera com 86% de aprovação, seguido pelo Bolsa Família, que subiu quatro pontos percentuais, para 80%. O Desenrola, que facilita a renegociação de dívidas, tem o apoio de 73%. O Pé de Meia, que incentiva financeiramente estudantes do Ensino Médio público, foi o programa que mais cresceu, aumentando seis pontos percentuais, para 60%. A propaganda oficial e os discursos de Lula em torno desses programas também se intensificou nos ultimos meses.

A Genial/Quaest ouviu 2 mil pessoas entre 5 e 8 de julho, em 120 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível confiança é de 95%.

Na pesquisa anterior, de maio, foram ouvidas 2.045 pessoas, em 120 municípios brasileiros, entre os dias 02 e 06 daquele mês. A margem erro foi de 2.2 pontos percentuais. O nível de confiança era de 95%.

Especialistas mostram ceticismo em relação à recuperação da popularidade de Lula

Para o cientista político Leonardo Barreto, diretor da consultoria I3P, o dado mais expressivo é que Lula interrompeu uma sequência de quedas e recuperou o patamar de aprovação de dezembro de 2023 (54%). Barreto destaca que, apesar das variações, não houve uma mudança drástica no sentimento da população, indicando uma constância nas condições econômicas e sociais percebidas pela população.

Barreto ressalta que Lula enfrentou desafios importantes, como o desastre climático no Rio Grande do Sul, mas conseguiu melhorar sua aprovação entre públicos já considerados como parte importante de seu eleitorado, como mulheres e pessoas de baixa renda.

A melhora de imagem entre os evangélicos também é notável, com a desaprovação caindo 10 pontos, de 62% para 52%, após o presidente adotar uma postura mais conservadora e criar uma campanha de comunicação voltada para esse público.

O falatório populista do presidente, ignorando sua responsabilidade por aquilo que critica, parece ter chegado aos ouvidos certos.

A pesquisa Genial/Quaest de julho também questionou se os entrevistados concordam com as opiniões de Lula em diversos assuntos. A maioria, 84%, concorda que as carnes consumidas pelos mais pobres devem ser isentas de impostos. Além disso, 87% consideram que os juros no Brasil são muito altos, alinhando-se ao discurso de Lula. A necessidade de revisar o Cadastro Único para identificar irregularidades também tem amplo apoio (83%).

Leandro Gabiati, da Dominium Consultoria, aponta que muitos entrevistados desconhecem as recentes declarações de Lula, e, por isso, expressa dúvidas sobre as razões da recuperação de popularidade. Ele acredita que a questão da carne na cesta básica desonerada é mais perceptível para a população do que críticas ao Banco Central, por exemplo.

Investidas junto ao público evangélico surtiram efeitos em setores do segmento

A tentativa de aproximação com os evangélicos parece estar surtindo efeito, com a desaprovação caindo de 58% para 52% em julho em comparação com o levantamento de maio. A aprovação entre esse grupo, tradicionalmente apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), variou de 39% para 42%. O governo tem trabalhado para reduzir o desgaste com os evangélicos, enviando cartas de apoio e promovendo diálogos por meio de ministros e de líderes religiosos aliados ao Palácio do Planalto.

A melhora na aprovação de Lula entre os evangélicos é atribuída a vários fatores, incluindo a aproximação com pastores e líderes religiosos, influências nos discursos de ministros e articulações com setores evangélicos mais abertos ao diálogo.

Para os especialistas, é importante notar que os "evangélicos" representam um grupo diverso, não coeso, e a abordagem do governo precisa considerar essa diversidade.

Para o cientista político Ismael Almeida, Lula ainda enfrenta dificuldades para acessar a maioria representativa do público evangélico, ressaltando que "o presidente não deveria se animar muito" com os resultados positivos das últimas pesquisas. Ele diz ser necessário uma análise mais precisa sobre a variação de opinião dos entrevistados classificados como "evangélicos" na mais recente edição da pesquisa Quaest.

Na sua opinião, Lula ainda enfrenta dificuldades para acessar a maioria representativa do público evangélico. "Em geral, pastores e líderes mais dispostos a dialogar com o governo representam uma parcela ínfima do segmento", afirmou. Por essa razão, Almeida acredita que o presidente não deveria se animar excessivamente com os resultados recém-divulgados.

Ele lembra recente entrevista para o jornal Folha de S. Paulo da vereadora de Goiânia Aava Santiago (PSDB), evangélica e apoiadora da eleição de Lula nos dois turnos de 2022, na qual afirma que o governo está patinando por não alcançar a maioria dos fiéis.

Apontada como nova líder nacional da esquerda evangélica, ela, que é filha de pastores, chegou a emocionar o petista em evento religioso que o apoiou, em São Paulo, em outubro de 2022. “Lula não está chegando à base [dos evangélicos]”, afirmou ela. “Ele está conversando com os magnatas da fé.”

Outra pesquisa mostra recuperação gradual de popularidade em julho

A recente pesquisa Ipec também mostra uma melhora na avaliação do governo de Lula, com a aprovação subindo para 37% e a desaprovação caindo para 31%. A confiança no presidente também aumentou, indicando uma recuperação gradual de sua popularidade.

Com uma margem de erro de dois pontos percentuais, a pesquisa do Ipec entrevistou 2 mil pessoas entre os dias 4 e 8 de julho, em 129 municípios, refletindo um cenário de ligeira recuperação para o governo do petista. O nível de confiança do levantamento é de 95%.

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