O empresário Marcos Tolentino, que depõe nesta terça-feira (14) à CPI da Covid do Senado, negou ser proprietário do FIB Bank. Ele foi chamado para falar à comissão por ser visto como um "sócio oculto" da empresa, que atuou como garantidora do contrato entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde. O contrato foi cancelado, após suspeitas de corrupção, e o FIB Bank está sob investigação da CPI, pelo fato de que, na opinião de senadores, a empresa não ter a solidez necessária para atuar em uma negociação deste porte.
Tolentino negou ter conexão com o FIB Bank em sua fala inicial à comissão, antes de ser interrogado pelos senadores. Ele disse não ter participação societária na empresa. O empresário, porém, não respondeu aos parlamentares quem é o verdadeiro dono do FIB Bank. Ele também optou pelo silêncio quando perguntado se o telefone da empresa Benetti Prestadora de Serviços é o mesmo da FIB Bank - a Benetti é uma empresa que atua em diversos segmentos cujo fundador, já falecido, foi amigo e sócio de Tolentino.
Senadores que fazem oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro buscam ouvir de Tolentino mais informações sobre a atuação do FIB Bank e apresentam documentos que contestam a versão do empresário de completa separação entre ele e a empresa. O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), mostrou à comissão uma procuração emitida pela Benetti Prestadora de Serviços a Tolentino, concedendo a ele o direito de representar a empresa Pico do Juazeiro, que é sócia da FIB Bank.
Tolentino fala à CPI nesta terça após ter evitado seu primeiro depoimento, agendado para o início de setembro. Na ocasião, ele alegou razões médicas e disse estar internado no Hospital Sírio Libanês, como consequência de sequelas da Covid-19. A justificativa não foi bem digerida, na ocasião, pelos membros da CPI. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), chegou a acionar a perícia médica do Senado para verificar as reais condições de saúde de Tolentino. No depoimento desta terça, o empresário foi ao Senado acompanhado de profissionais de saúde, que estão à sua disposição para prestar atendimentos em caso de necessidade.
A CPI chegou a considerar recorrer ao mecanismo de condução coercitiva para assegurar a presença de Tolentino no colegiado. Ele não faltou na oitiva desta terça, mas tem recorrido ao direito ao silêncio em questões que considera que podem incriminá-lo.
Bolsonaro não, Barros sim
O empresário falou à comissão que não tem proximidade com o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. Ele disse que conversou com Bolsonaro por diversas ocasiões, muitas delas quando o atual chefe do Executivo ainda era deputado federal, mas os diálogos não foram suficientes para que eles estabelecessem qualquer tipo de vínculo de amizade ou de outro perfil.
Quanto ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), o quadro é oposto. Tolentino disse à CPI que tem "vínculo de amizade e respeito" com o parlamentar. Ele disse que mantém conversas regulares com Barros e confirmou que esteve na CPI quando o líder do governo foi ouvido pelo colegiado, em 12 de agosto.
Tolentino chegou a pedir desculpas à CPI por sua ida à comissão na ocasião do depoimento de Barros, mas reiterou que a presença se deu apenas por "questões de amizade".
Barros é formalmente investigado pela CPI por ter sido citado como um dos articuladores de um esquema de corrupção que existiria no Ministério da Saúde para privilegiar empresas fabricantes de vacinas e redirecionar licitações. O líder do governo entrou no radar da comissão após ter sido mencionado pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF). O parlamentar de Brasília é irmão de um servidor concursado do Ministério que disse ter tomado conhecimento de um sistema de corrupção na pasta. Miranda e seu irmão dizem que se reuniram diretamente com o presidente Jair Bolsonaro para apresentar a ele a denúncia - e que ouviram do chefe do Executivo como resposta que o esquema era "coisa do Ricardo Barros". Tanto Bolsonaro quanto Barros negam o episódio.
Calendário
O depoimento da CPI da quarta-feira (15) deve manter o mesmo tema no foco. A comissão espera ouvir o advogado Marconny Faria, que é apontado como um lobista que atuou a favor da Precisa no Ministério da Saúde. Assim como Tolentino, Faria também teve seu depoimento agendado para o início de setembro e se esquivou da oitiva alegando motivos de saúde.
A cúpula da CPI anunciou que pode recorrer a uma condução coercitiva caso Faria se recuse a depor.
Outra informação relacionada a calendário foi o anúncio feito por Calheiros de que seu relatório final da comissão deverá ser entregue entre os dias 23 e 24. O vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que o colegiado votará o texto de Calheiros na semana seguinte à apresentação.
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