O vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina, Sayid Marcos Tenório – que foi demitido de um cargo comissionado na Câmara dos Deputados após fazer comentários ofensivos sobre uma mulher israelense sequestrada pelo grupo Hamas – atuava como lobista do Irã no Congresso e teria facilitado o acesso de autoridades do país persa a políticos brasileiros.
O extremista teve, ainda, contato com um sheik em São Paulo suspeito de ligações com o grupo paramilitar Hezbollah, de acordo com a apuração do jornal O Globo publicada nesta segunda-feira (30).
Até a demissão em 11 de outubro, Tenório ocupava um cargo na Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara por indicação do deputado federal Márcio Jerry (PCdoB-MA). O parlamentar demitiu o assessor e considerou “extremamente grave a manifestação”, repudiando os ataques tanto do Hamas como de Israel (veja na íntegra).
O desligamento ocorreu após comentários ofensivos em uma postagem na rede social X, na qual Sayid zombou de uma mulher israelense sequestrada pelo Hamas. “Isso é marca de merda. Se achou nas calças”, disse. O comentário gerou péssima repercussão, levando-o a desativar as redes sociais. Ele retornou à internet alguns dias depois com um novo perfil em que retomou ataques a Israel e elogios ao Hamas.
Ligações com Irã e polêmica com sheik ligado ao Hezbollah
A ligação de Tenório com o Irã é citada por Leonardo Coutinho, autor do livro “Hugo Chávez, O Espectro: Como o presidente venezuelano alimentou o narcotráfico, financiou o terrorismo e promoveu a desordem global” (veja na íntegra). Um dos trechos da obra revela a atuação dele no Ministério dos Esportes e na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
“José Marcos Tenório [o extremista tem o nome de José Marcos Tenório, anterior à conversão ao Islamismo], um funcionário com passagem em uma série de órgãos da administração federal e pelo Parlamento. Tenório trabalhou no Ministério dos Esportes, foi chefe de gabinete de uma das seções da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, durante o governo de Dilma Rousseff, e trabalhou para o governo do Distrito Federal”, relata Coutinho no livro a que a Gazeta do Povo teve acesso a trechos.
Em 2015, quando estava lotado no gabinete de Wadson Ribeiro (PCdoB), Tenório articulou a criação do Grupo de Amizade Brasil-Irã na Câmara dos Deputados, que estava desativado. Naquele mesmo ano, organizou um encontro entre o embaixador iraniano em Brasília, Mohammad Ali Ghanezadeh, e a presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Jô Moraes (MG), ambos ligados ao PCdoB.
“Como embaixador informal do Irã, Tenório pavimentou o acesso do embaixador oficial aos gabinetes do Parlamento e do Poder Executivo”, retrata outro trecho do livro.
Em 2015, Tenório também reuniu lideranças do PCdoB, incluindo o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), com Bilal Mohsen Wehbe, sheik de uma mesquita em São Paulo com supostas ligações com o Hezbollah. Wehbe é alvo de sanções dos Estados Unidos desde 2010 e é apontado pelas autoridades americanas como representante do grupo na América do Sul.
Sayid Tenório alega que a presença de Wehbe no encontro foi uma coincidência e que desconhecia as sanções dos EUA ou qualquer vínculo do sheik com o Hezbollah. Orlando Silva também corroborou a versão de Tenório, afirmando que Wehbe é apenas um líder religioso.
Tenório, por sua vez, afirma que sua intenção era promover as relações entre o Brasil e o Irã e que não recebeu nenhum benefício financeiro por suas atividades. Segundo ele, tudo que fez estava dentro da legalidade.
“Tudo que fiz foi dentro da inteira legalidade, desde o trabalho que exerci na Câmara até minha relação com iranianos e pessoas de outras nacionalidades que eventualmente tenha encontrado. Foram encontros públicos”, disse.
Além do PCdoB, extremista já assessorou vários parlamentares, de partidos como PT, PP e Solidariedade
Sayid Tenório ocupou várias posições na Câmara dos Deputados e no governo federal na última década. A Gazeta do Povo consultou os dados de transparência da casa e constatou que ele assessorou seis parlamentares: Márcio Jerry (PCdoB-MA), último a contratá-lo; Gastão Vieira (Pros-MA); Simplício Araújo (Solidariedade-MA); Odair Cunha (PT-MG); Fernando Monteiro (PP-PE) e Mauro Lopes (PP-MG).
Além desses, no nome anterior à conversão ao Islamismo, há registros em atividades parlamentares dos deputados Wadson Ribeiro (PCdoB-MG) e Assis Melo (PCdoB-RS).
Tenório teria, ainda, desempenhado funções no Palácio do Planalto e no Ministério dos Esportes durante o governo de Dilma Rousseff (PT), segundo aponta o jornalista Leonardo Coutinho em um livro que revelou a rede de influência do líder venezuelano Hugo Chávez, com ramificações no Brasil.
Ao jornal O Globo, Tenório negou ter feito lobby a partir dos cargos que ocupou e alegou que a aproximação com líderes iranianos foi motivada pela fé muçulmana xiita.
À Gazeta do Povo, o PCdoB não comentou a relação com Tenório e apenas repudiou a ofensiva contra civis em Gaza. "Voltamos a salientar nosso mais profundo pesar pelas vítimas do conflito, sejam israelenses ou palestinas, ao mesmo tempo em que repudiamos a tentativa de tergiversar sobre a causa principal de toda tragédia e violência: a opressão colonial que impede a existência do Estado Palestino, existência reconhecida pelo direito internacional e reiteradamente exigida por inúmeras resoluções da ONU", disse em nota.
Já o Palácio do Planalto informou à reportagem que não localizou o nome de Tenório na base de dados de Gestão de Pessoas do Executivo Federal como servidor ou ex-servidor do Governo Federal.
Veja, clicando nos nomes, as prestações de contas e períodos em que Sayid Marcos Tenório trabalhou como assessor de cada deputado na última década: Márcio Jerry, Mauro Lopes, Odair Cunha, Simplício Araújo, Gastão Vieira, Fernando Monteiro, Wadson Ribeiro e Assis Melo.
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