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Requerimento

Filho de Lula vira alvo da CPMI do INSS após suspeita de ligação com esquema bilionário

CPMI DO INSS
Presidente da CPMI do INSS, Carlos Viana, falou sobre as suspeitas que recaem sobre o filho do Lula (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

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A CPMI do INSS aumentou a pressão para uma convocação de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após membros do colegiado terem tido acesso ao depoimento de uma testemunha que relaciona o empresário ao esquema bilionário de fraude contra aposentados.

Mas a comissão rejeitou, nesta quinta-feira (4), a convocação de Lulinha, mesmo após relatos que envolvem a suspeita de recebimento de valores mensais, abertura de empresas no exterior e suposta atuação em negócios ligados ao grupo investigado. As revelações foram divulgadas inicialmente pelo portal Poder360. 

Em entrevistas aos jornalistas, o presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), informou que documentos analisados pela comissão sugerem que o filho do presidente Lula teria recebido, em conjunto com uma publicitária ligada ao partido, cerca de R$ 8 milhões.

Os documentos se baseiam, principalmente, em relatos apresentados por uma testemunha à CPMI. Segundo ela, o total movimentado no esquema pode chegar a aproximadamente R$ 25 milhões e os recursos teriam sido usados para abertura de empresas no exterior, em paraísos fiscais, além de viagens internacionais, com foco na estruturação de um novo negócio voltado à comercialização de canabidiol.

Apesar dos indícios e relatos, ainda não há prova documental direta divulgada sobre o envolvimento de Lulinha na fraude do INSS. "Nós não podemos dizer se isso se confirma em documentos. Por isso, eu coloquei o requerimento de convocação e vou submeter aos parlamentares e cada um votará de acordo com a sua consciência", disse Viana.

Ainda segundo a testemunha, empresas no exterior teriam sido montadas para disputar contratos no Ministério da Saúde, em processos que teriam sido fraudados, com suposta atuação de lobby atribuído ao filho do presidente. As informações seguem sob apuração da comissão.

A reportagem da Gazeta do Povo tentou contato com Fábio Luís Lula da Silva, que se mudou para a Espanha em julho deste ano, mas não teve sucesso. Também foi solicitado comentário oficial ao ex-advogado e amigo de Lulinha, bem como ao Palácio do Planalto. Até o fechamento desta edição, não houve resposta, mas o espaço segue aberto para atualização.

Em defesa do filho de Lula, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), membro do colegiado, afirmou que "acusações sem provas de um delator sem credibilidade, usadas pela oposição para criar factoides, serão rejeitadas".

Testemunha é ex-funcionário do Careca do INSS

As novas suspeitas contra Lulinha baseiam-se no depoimento de Edson Claro, ex-funcionário de Antônio Carlos Camilo Antunes — o "Careca do INSS", preso desde setembro de 2025. A oposição tentou convocá-lo para prestar depoimento à CPMI, mas governistas barraram a aprovação do requerimento.

Segundo documentos obtidos pelo Poder360, Claro disse à Polícia Federal (PF) que Lulinha teria recebido uma "mesada" de cerca de R$ 300 mil. O valor total repassado ao longo do esquema poderia atingir a cifra de R$ 25 milhões.

O ex-funcionário, segundo o portal, indicou ainda que Lulinha e o "Careca do INSS" teriam realizado, juntos, viagens à Europa, incluindo Portugal, e que o filho do presidente pode ter tido participação em uma sociedade com a empresa World Cannabis (razão social: Camilo Comércio e Serviços S/A), com sede em Brasília. A Polícia Federal e a CPMI suspeitam que esta empresa foi utilizada para lavagem de dinheiro proveniente das fraudes do INSS.

Fontes da investigação ouvidas pelo Poder360 indicam que, até o momento, existem indícios – como depoimentos, relatórios financeiros e registros de viagens – mas não há provas definitivas do envolvimento direto de Lulinha nas fraudes.

Requerimento de Lulinha na pauta para votação

O pedido de convocação do Lulinha foi apresentado pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), em conjunto com o senador Eduardo Girão (Novo-CE) e os deputados Adriana Ventura (Novo-SP) e Luiz Lima (Novo-RJ). Os parlamentares afirmam que a convocação se tornou “indispensável” diante de informações reveladas no curso da investigação e de reportagens da imprensa. 

No requerimento, os parlamentares apontam que, durante depoimento à CPMI, o advogado Eli Cohen descreveu a existência de uma estrutura criminosa organizada há mais de 15 anos, voltada ao desvio sistemático de recursos de aposentadorias, com envolvimento de agentes públicos e operadores privados especializados em fraudes .

O requerimento cita reportagem do portal Metrópoles, de novembro de 2025, que aponta possíveis vínculos entre operadores do esquema e pessoas próximas ao presidente Lula.

De acordo com as informações, Ricardo Bimbo — dirigente nacional do PT e coordenador do setor de Tecnologia da Informação do partido — teria recebido R$ 120 mil em sua conta pessoal e R$ 8,29 milhões por meio de sua empresa Datacore, valores oriundos da ADS Soluções e Marketing, empresa que, segundo relatórios de inteligência financeira enviados à CPMI, movimentou dezenas de milhões de reais ligados às entidades envolvidas na chamada “Farra do INSS” .

O documento ainda destaca que, no mesmo período dessas movimentações financeiras, Bimbo teria feito o pagamento de um boleto no valor de R$ 10.354,60 ao contador João Muniz Leite — profissional que, segundo o requerimento, atendia também o Lulinha. O contador é investigado pelo Ministério Público de São Paulo na Operação Fim da Linha, sob suspeita de lavar dinheiro para o PCC .

Para os autores do pedido, a coincidência temporal entre os repasses milionários da ADS, os pagamentos feitos por Bimbo e o vínculo direto do contador com Lulinha é “grave” e exige esclarecimentos imediatos. O requerimento sustenta que a CPMI tem o dever de investigar todos os beneficiários, intermediários e eventuais partícipes do esquema, independentemente de vínculos políticos ou familiares .

Os parlamentares querem que Lulinha esclareça se tinha conhecimento das relações financeiras de seu contador com agentes ligados à ADS, se houve qualquer contato direto ou indireto com integrantes do esquema, e se seu nome, CPF, empresas ou estrutura contábil foram utilizados em operações suspeitas .

“A convocação é necessária, proporcional e urgente para o completo esclarecimento dos fatos”, afirmam os autores do pedido, que classificam o caso como a maior fraude contra aposentados da história do país .

Se aprovado, Lulinha será convocado a comparecer oficialmente à CPMI do INSS para prestar esclarecimentos.

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