Apesar dos anseios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se posicionar como uma das principais lideranças no cenário internacional, o primeiro semestre de mandato do petista foi marcado por uma série de erros por parte de sua diplomacia. Além da tentativa fracassada de criar um clube da paz para intermediar a pacificação na guerra da Ucrânia, as declarações de Lula ao longo deste período ampliaram seu isolamento em relação aos países do Ocidente.
No episódio mais recente, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou em entrevista a veículos de imprensa latino-americanos que imagina que Lula tivesse uma "visão mais ampla sobre o mundo". Além disso, o ucraniano acusou Lula de concordar com as "narrativas" do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
"Para ser honesto, pensei que ele [Lula] tinha uma compreensão maior do mundo. Só acho que ele tem uma opinião própria. Parece-me que não é necessário que seus pensamentos coincidam com os pensamentos do presidente Putin", disparou.
A fala de Zelensky foi uma reação sobre as declarações de Lula e de seu assessor especial para política externa, Celso Amorim, sobre a necessidade de negociar uma solução diplomática para a guerra da Ucrânia. Na quarta-feira (2), o petista disse a jornalistas estrangeiros que nem Zelensky nem Putin têm declarado que querem negociar para acabar com a guerra.
No mesmo evento, Amorim voltou a dizer que as preocupações de Moscou com segurança precisam ser consideradas. "Você não pode deixar de fora as preocupações de segurança da Rússia, elas são reais", disse o ex-chanceler na ocasião.
“É estranho falar sobre a segurança da Federação Russa. Só a Rússia, Putin e Lula falam sobre a segurança da Rússia, sobre as garantias que precisam ser dadas para a segurança da Rússia”, disse Zelensky, mostrando ter ficado surpreso com as declarações de Lula.
Alinhamento com a Rússia amplia o isolamento de Lula com o Ocidente
A reação de Zelensky é mais um revés para Lula diante da tentativa de se posicionar como um dos interlocutores de negociação por um acordo de paz. O petista chegou a defender a criação de um clube da paz, mas a proposta acabou sendo rejeitada pelos países do Ocidente diante do alinhamento do brasileiro com Putin.
Inicialmente, Lula chegou a enviar Celso Amorim à Rússia para intermediar um acordo com Putin. Meses depois, em abril, o brasileiro recebeu em Brasília o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, que disse que seu país e o Brasil têm visões similares sobre questões globais.
Após a visita de Lavrov ao Brasil, o Kremlin disse que a proposta do líder brasileiro de criar um clube de mediação neutro para a guerra da Ucrânia merecia atenção porque leva em conta os interesses russos. "Qualquer ideia que leve em conta os interesses da Rússia merece atenção e certamente precisa ser ouvida", disse o porta-voz Dmitri Peskov.
Pressionado pelos países do Ocidente, Lula chegou a enviar Amorim para a Ucrânia. Desde então, Zelensky chegou a defender um encontro com Lula no Brasil ou uma visita do petista à Ucrânia. A agenda, no entanto, não foi viabilizada pelo Itamaraty.
Como a Gazeta do Povo mostrou, o alinhamento de Lula com Putin acabou provocando uma mudança de rota na estratégia do petista, que agora tenta se posicionar internacionalmente por meio da agenda ambiental. Recentemente, por exemplo, o petista indicou que não ''quer se meter'' no conflito.
"E é por isso que não quero me meter na questão da guerra da Rússia e da Ucrânia. Porque a minha guerra é aqui: é contra a fome, é contra a pobreza, é contra o desemprego, é contra a desindustrialização. Por que vou me preocupar com a briga dos outros? Eu vou me preocupar com a minha briga", disse o petista durante um evento no Planalto.
Plano da China apoiado por Lula foi rejeitado pelos aliados da Ucrânia
A rejeição ao clube de paz proposto por Lula foi ampliada pelos países do Ocidente depois que o governo brasileiro passou a endossar um plano de paz que vinha sendo costurado pela China, um dos países aliados de Putin no conflito. A avaliação dos aliados da Ucrânia foi de que a proposta costurada pelos chineses era pró-Rússia.
Antes de assumir publicamente que o Brasil "recebia positivamente" o acordo defendido por Pequim, Lula sugeriu que, para acabar com a guerra, a Ucrânia deveria ceder o território da Crimeia para a Rússia. Por outro lado, ele disse que as províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia no Leste do país, anexadas pelo presidente Vladimir Putin, deveriam ser devolvidas.
“Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo, tem que se repensar. O [presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky não pode querer tudo. A Otan não vai poder se estabelecer na fronteira [com a Rússia]", disse Lula em abril deste ano.
A Ucrânia, no entanto, rebateu a proposta de Lula. Zelensky indicou que não aceita decretar cessar-fogo nem iniciar o diálogo sem que os russos devolvam os territórios que anexaram ilegalmente. Além da Crimeia, anexada ao território russo em 2014, as tropas de Putin ocupam diversas regiões na Ucrânia.
"Congelar o conflito dá aos russos tempo para treinar e equipar as tropas. Enquanto isso, o mundo vai dizer que a guerra acabou, o conflito terá muito menos atenção, receberemos menos armas, haverá uma normalização", diz Andrii Zagorodniuk, ex-ministro da Defesa e atual assessor do governo da Ucrânia.
O que explica o rombo histórico das estatais no governo Lula
Governo Lula corre para tentar aprovar mercado de carbono antes da COP-29
Sleeping Giants e Felipe Neto beneficiados por dinheiro americano; assista ao Sem Rodeios
Flávio Dino manda retirar livros jurídicos de circulação por conteúdo homofóbico
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião