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A presidente nacional do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), negou que a articulação para sua sucessão no comando do partido seja um ponto de divergência entre ela e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A manifestação ocorreu após o jornal O Globo divulgar, nesta sexta-feira (18), que lideranças do PT consideram que Gleisi estaria atuando em favor de um nome do Nordeste para assumir o partido.
A inciativa teria o objetivo de enfraquecer a candidatura do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, aliado do ministro e favorito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa. Ela nega qualquer oposição a Edinho e diz gostar de Haddad, apesar das divergências.
“O que eu fiz não foi incentivar a candidatura do Nordeste, foi reconhecer a legitimidade, porque vieram falar comigo que achavam que o Nordeste, por ter o resultado eleitoral que tem, gostaria também de ser considerado nessa questão da sucessão”, disse Gleisi em entrevista ao jornal O Globo.
A parlamentar afirmou que a questão regional não é determinante, mas tem um peso e não pode ser desmerecida. Ele apontou que o partido enfrentará um momento “muito desafiador com a reeleição do presidente Lula”, por isso o novo dirigente da sigla deverá conversar com todos as alas para construir um ambiente de unidade.
Gleisi ressaltou que não faz oposição a Haddad e que seus embates com o ministro são pontuais. “Não sou oposição ao Haddad, gosto do Haddad. Considero o Haddad um excelente quadro… Agora tenho divergências em alguns pontos. Mas essas divergências não podem ser colocadas como se eu fosse inimiga do Haddad”, reforçou a deputada.
PT no pós-Lula
Para a deputada, Haddad deveria ser o candidato do PT ao Senado por São Paulo em 2026. “Seria um excelente nome”, avaliou. Em agosto do ano passado, o partido divulgou uma resolução, na qual declara apoio à reeleição de Lula em 2026.
“As eleições municipais de 2024 demarcam um momento estratégico para a construção de uma sólida aliança popular e democrática que promova a recondução do Governo Lula em 2026”, diz um trecho do documento.
O presidente terá 81 anos no próximo pleito, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de sua candidatura. Com isso, além da discussão sobre um novo dirigente, o partido também deve avaliar cenários para o pós-Lula.
Com Edinho no comando, teoricamente, Haddad poderia se consolidar como a principal liderança do PT, caso o presidente decida não disputar as próximas eleições. Para Gleisi, esse debate não é um problema, já que Lula é o candidato do partido para 2026.
A deputada considera que Haddad pode ser uma alternativa para 2030. “E nós temos que ver as lideranças que se consolidam. O Haddad é uma alternativa que pode ser candidato em 2030, mas eu acho que tudo tem que ser discutido pós-26”, afirmou Gleisi.
Gleisi x Haddad
As divergências entre Gleisi e Haddad, principalmente no campo econômico, não são uma novidade dentro do PT. Em janeiro deste ano, ela criticou o ministro por defender o debate sobre a sucessão de Lula.
Na ocasião, o ministro disse que a reeleição do presidente é um consenso, mas apontou que o partido deveria começar a se preparar para a transição do pós-Lula. Gleisi classificou como “extemporânea” a fala de Haddad.
A deputada também disse que o partido tem o “direito” e “até um dever” de criticar decisões que acredita serem equivocadas na economia, mas negou qualquer indireta ao colega petista. Pouco antes das declarações, o PT havia divulgado um documento citando “austericídio fiscal”, termo utilizado pela legenda para se referir ao "suicídio econômico por políticas de cortes de gastos".
“Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula! E o Haddad é um austericida'", afirmou o ministro, sem citar Gleisi, quando questionado sobre documento publicado pelo partido.
Em dezembro de 2023, Gleisi defendeu um déficit de 1% a 2% nas contas públicas durante a conferência do PT, além de investimentos em infraestrutura e programas sociais para manter a economia aquecida. Já Haddad manteve posição sobre a necessidade do déficit zero, previsto no arcabouço fiscal, para equilibrar as contas públicas.
"As coisas não são automáticas. Nos oito anos de governo do presidente Lula, tivemos superávit primário de 2%. A economia cresceu 4%. Não é verdade que o déficit faz [a economia] crescer. De dez anos para cá, a gente R$ 1,7 trilhão de déficit. E a economia não cresceu. Não existe essa correspondência, não é assim que funciona a economia", disse o ministro durante o evento.
"A gente tem divergências e é normal a gente expor nossa visão e nossa forma de ver. Acho que Haddad está fazendo o papel dele como ministro da Fazenda. Ele tem a visão dele e nós temos uma visão um tanto quanto divergente, que foi exposta de maneira muito tranquila e respeito", disse a presidente do PT à época.