O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou leis para criar o "Dia Nacional da Pastora Evangélica e do Pastor Evangélico", a ser comemorado no segundo domingo de junho, e reconhecer as expressões artísticas cristãs como parte da cultura brasileira. As iniciativas foram vistas por analistas políticos como uma nova tentativa do governo de se aproximar de parlamentares e eleitores evangélicos. Mas, segundo analistas ouvidos pela reportagem, isso não será suficiente para garantir apoio do segmento a Lula.
Na opinião do deputado Marco Feliciano (PL-SP), pastor evangélico e presidente da Assembléia de Deus Catedral do Avivamento, se a estratégia do Planalto ao sancionar leis religiosas às vésperas das eleições municipais era conquistar votos, ela foi em vão.
Para Feliciano, "nada do que Lula faça no tocante à comunidade evangélica nos aproximará dele. Para a grande e esmagadora maioria de nós [evangélicos], as ideologias dele e do seu partido [PT] são nefastas".
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que também é representante da bancada evangélica na Câmara e ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica na Casa, compartilha da opinião de Feliciano. Ele diz duvidar que, ao acenar com leis religiosas, o Partido dos Trabalhadores conquiste votos deste eleitorado nos municípios.
O "Dia Nacional da Pastora Evangélica e do Pastor Evangélico" foi sancionado na última segunda-feira (19) com o objetivo de reconhecer e valorizar o trabalho e a contribuição de lideranças religiosas evangélicas no Brasil, segundo o texto da lei. O governo afirmou que sua sanção (aprovação pelo presidente após tramitação no Congresso) também reforça a importância da diversidade religiosa no país, caracterizada pela pluralidade e respeito às manifestações religiosas e culturais
A Lei 4.168/21, que reconhece as expressões artísticas cristãs como parte da cultura brasileira, foi aprovada por deputados e senadores e sancionada pelo presidente Lula. Evangélicos são cristãos protestantes que professam a fé no Evangelho de Cristo, nos moldes bíblicos da fé reformada.
As dificuldades de Lula para conquistar o eleitorado evangélico
As dificuldades do presidente Lula para conquistar o eleitorado evangélico não são novas. Desde a campanha de 2022, quando concorreu com Jair Bolsonaro à Presidência da República, o petista enfrenta resistência desse segmento, principalmente nas chamadas questões de costumes, como a descriminalização das drogas e do aborto. Ambos são temas de forte exclusão entre os evangélicos, alimentando o distanciamento entre o governo e essa base conservadora.
Antes da sanção do "Dia Nacional da Pastora Evangélica e do Pastor Evangélico", o Partido dos Trabalhadores vinha investindo em outras frentes para tentar dialogar com este segmento religioso, considerado mais alinhado à direita e a Bolsonaro.
No primeiro semestre deste ano, por exemplo, o Planalto investiu numa campanha publicitária, batizada de “Fé no Brasil”, para tentar abrandar a imagem do governo junto aos cristãos, em especial os evangélicos.
Paralelamente, o PT divulgou uma cartilha em agosto deste ano. Ela orientava candidatos e aliados do partido sobre como abordar esse público nas eleições municipais, tentando assim evitar estigmas e preconceitos que poderiam afastar os evangélicos do PT.
Apesar de iniciativas, popularidade de Lula é baixa entre evangélicos
Mesmo com as tentativas de atrair a simpatia e confiança dos evangélicos, Lula e o PT não têm se saído bem, como aponta pesquisa recente que avaliou a popularidade do governo.
De acordo com dados da última pesquisa divulgada pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) no último dia 12 de setembro, 42% dos evangélicos consideram o governo Lula como ruim ou péssimo.
A pesquisa foi realizada entre os dias 5 e 9 de setembro, e entrevistou dois mil brasileiros com mais de 16 anos. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Para analistas, o PT dificilmente conquistará público evangélico com medidas religiosas em 2024
Na avaliação do professor de Ciências Políticas Waldir Pucci, da Universidade de Brasília (UnB), as tentativas de Lula de atrair os evangélicos têm mais relevância para as eleições gerais de 2026 do que para o pleito municipal de outubro.
“Temos que lembrar que a eleição municipal, tirando as grandes capitais, não reflete, em grande medida, as decisões ou ações oriundas de Brasília. Esse gesto é muito mais para as eleições de 2026 do que para as atuais. A cartilha do PT está dentro do cenário municipal, que conta com mais de 5.000 cidades, e onde o eleitor olha mais a questão local", lembra Pucci.
Para a cientista política Priscila Lapa, que atua no Sebrae, além de encontrar dificuldades para conquistar votos dos evangélicos, principalmente nas eleições municipais que se aproximam, Lula enfrenta um dilema ao tentar se aproximar desse público. Isso porque qualquer movimento mais forte dele em direção a pautas conservadoras pode incomodar sua base progressista.
"Ele [Lula] fica um pouco entre a cruz e a espada, literalmente, porque se ele faz movimentos mais concretos de avanço nessa agenda com um olhar mais conservador, levando em conta pautas de costumes como os direitos reprodutivos e a regulamentação do uso de drogas, ele pode sim ter uma perda no campo progressista, que pode não ser compensada por possíveis ganhos no público mais conservador", pontua a analista.
Segundo Priscila, essa postura pode evitar conflitos imediatos, mas traz questionamentos sobre os próximos passos do governo: "É evidente que ele [Lula] será cobrado por isso no futuro, porque não há uma intersecção histórica entre os valores do público evangélico e as pautas do PT".
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