O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está tentando fechar uma parceria com a China para que uma empresa concorrente à Starlink, do empresário Elon Musk, utilize a base de lançamento de Alcântara (MA) para lançar satélites ao espaço.
As negociações, que já vêm ocorrendo desde a visita do ministro Juscelino Filho (Comunicações) à empresa chinesa SpaceSail no mês passado, devem ser fechadas durante a visita do presidente Xi Jinping ao Brasil após a cúpula do G20, no Rio de Janeiro, entre os dias 18 e 19.
“Estamos tentando avançar nessa parceria. Com Xi Jinping no Brasil, tentaremos tornar isso viável de alguma forma, na tentativa de conseguir que ele autorize”, disse Hermano Tercius, secretário de Telecomunicações do governo, em entrevista à Bloomberg News nesta semana.
Embora a SpaceSail ainda seja uma empresa novata no mercado de comunicação via satélite com o uso de equipamentos semelhantes à Starlink, a tentativa do governo brasileiro de aproximação e uso da base de lançamento pode gerar ruídos na relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos.
Isso porque Elon Musk é um forte aliado do presidente eleito Donald Trump, e se especula nos bastidores que assumirá alguma secretaria importante próxima do republicano na Casa Branca. A depender do grau de influência, o empresário pode tentar alguma orientação contrária ao Brasil na relação com os Estados Unidos.
Há, ainda, o agravante de que Musk foi o pivô de uma crise com o governo brasileiro ao questionar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar perfis e conteúdos do ar na rede social X, além de fechar o escritório de representação no Brasil em agosto.
A decisão fez o ministro Alexandre de Moraes bloquear o acesso à plataforma no país por mais de um mês e impor multas milionárias. A rede foi liberada pouco depois do primeiro turno das eleições municipais após Musk se comprometer a cumprir as decisões e pagar as penalidades – neste meio tempo, a Starlink chegou a ter as contas bloqueadas para honrar com as sanções judiciais.
Apesar disso, Hermano Tercius negou que as negociações com os chineses sejam uma espécie de retaliação a Musk e à Starlink. “Independentemente da questão que envolve o Starlink, é importante ter outra empresa para que haja concorrência, para que haja outra opção para os brasileiros”, pontuou.
Tercius afirmou que o uso de Alcântara pela SpaceSail ainda depende de uma autorização do governo chinês. Além dela, outra empresa também foi visitada pela comitiva de Juscelino Filho: a Galaxy Space, que também ainda não tem autorização para operar fora da China.
A base de Alcântara atrai as atenções de vários países do mundo e chegou a ser oferecida aos americanos durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sua localização oferece importantes vantagens econômicas e pode alavancar o desenvolvimento da SpaceSail.
A empresa chinesa já iniciou as operações com o lançamento de dois lotes de satélites, totalizando 36 unidades, e planeja colocar mais de 600 satélites em órbita até o fim do próximo ano. A título de comparação, a Starlink já tem mais de seis mil satélites que fornecem acesso à banda larga ao redor do mundo.
Segundo a Bloomberg News, outras gigantes do setor, como a SpaceX e a Blue Origin, também demonstraram interesse em utilizar a base de Alcântara. Contudo, o governo brasileiro ainda avalia qual será a melhor estratégia para aproveitar ao máximo esse ativo estratégico, tanto do ponto de vista econômico quanto geopolítico.
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