A possibilidade de uma candidatura única da chamada "terceira via" passa a ser real após o resultado das prévias do PSDB, que definiu o governador de São Paulo, João Doria, como o candidato que representará o partido na corrida eleitoral de 2022. Contudo, será difícil a construção de um único nome como alternativa ao presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) ou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Após a vitória nas prévias, Doria sinalizou estar disposto a dialogar com o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), outro pré-candidato, a ponto de dizer que uma aliança é possível. Porém, o tucano também acenou para senadora Simone Tebet (MDB-MS), igualmente pré-candidata na corrida eleitoral.
Os mais próximos da pré-campanha de Moro acreditam que seja mais fácil discutir uma candidatura única com Doria do que seria caso o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), tivesse vencido as prévias. Entretanto, esses interlocutores acham difícil fazer Doria recuar de sua pré-candidatura. Acham até que o gesto feito ao MDB seja, na verdade, uma forma de pressionar a cúpula emedebista para cumprir recentes acordos feitos com o governo de São Paulo e, dessa forma, apoiar os tucanos nas eleições presidenciais em 2022.
As pré-candidaturas de Moro, Doria e Tebet também têm estimulado o presidente do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE), a bancar que o União Brasil — partido que se originará da fusão com o DEM — terá candidato próprio, que pode ser ele próprio ou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Orbitam ao redor dessas quatro pré-candidaturas outras três: a do Novo, que lançou o empresário e cientista político Luiz Felipe d'Avila; a do PSD, partido presidido por Gilberto Kassab, que aposta no presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG); e o Cidadania, que tem o senador Alessandro Vieira (SE) como nome a ser lançado.
Quais os impactos do resultado das prévias do PSDB na terceira via
Com pelo menos essas sete pré-candidaturas existentes, ter um nome único da centro-direita na terceira via parece um cenário até improvável. Mas as leituras feitas nas cúpulas de PSDB, Podemos e União Brasil — que ainda aguarda ser homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — é de que a missão é "apenas" difícil.
No tucanato, por exemplo, o gesto feito por Doria em tentar uma pacificação interna foi elogiado. O governador de São Paulo usou seu perfil no Twitter para dizer que "não há derrotado" nas prévias. Alguns integrantes do PSDB entendem, contudo, que ele não vai conseguir decolar sua candidatura e será pressionado a apoiar Moro, que, segundo as pesquisas eleitorais, tem maior intenção de votos.
Os tucanos sabem que Doria vai se posicionar como presidente pelos próximos meses e testar seu nome nas pesquisas agora como único candidato do PSDB. Mas alguns na cúpula acham que ele não vai conseguir superar Moro, que aparece com uma margem entre 8% e 11% dos votos, segundo diferentes pesquisas. A margem de Doria varia entre 2% e 5%.
"O PSDB vai começar a se dividir se o Doria não decolar. E aí, ele será pressionado. Muitos no partido não vão querer morrer na praia abraçados com ele", pondera um tucano à Gazeta do Povo. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, alertou no sábado (27) que o vencedor das prévias teria que "começar a aparar arestas", antevendo que qualquer disputa deixaria "feridas abertas".
O presidente do diretório mineiro do PSDB, deputado federal Paulo Abi-Ackel, que apoiou a candidatura de Eduardo Leite, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que não vai deixar o partido e ponderou que Doria terá como desafio demonstrar ter "condições de liderar uma candidatura viável na terceira via" nos próximos meses.
Nas cúpulas de Podemos e União Brasil, ambos os partidos admitem conversas para que ambos estejam juntos em uma chapa em 2022, ou seja, com Moro como candidato à Presidência da República e o vice alguém indicado pelo partido originário da fusão entre PSL e DEM. A avaliação feita por interlocutores de ambos os lados é de que uma aliança poderia fortalecer o ex-juiz da Operação Lava Jato, diminuir as chances do PSDB e induzir Doria a apoiá-lo.
O que diz Doria e quais suas estratégias para se viabilizar na terceira via
Cinte do desafio em pacificar o partido e impulsionar sua candidatura, Doria conta com o apoio do MDB como um trunfo. No tucanato, a aproximação feita à senadora Simone Tebet foi vista como uma forma de cobrar a fatura do partido, que ainda tem alguns de seus quadros na base do governo federal.
Em maio, Doria exonerou o então secretário de Agricultura e Abastecimento, Gustavo Junqueira, um quadro político de sua "cota pessoal" e nomeou no lugar o líder do MDB na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Itamar Borges. Tucanos afirmam que a troca visou obter apoio do partido em 2022.
Além do acordo com o MDB, Doria acredita que a relação entre o presidente nacional emedebista, o deputado federal Baleia Rossi (SP), e Rodrigo Maia (Sem partido-RJ), ex-presidente da Câmara, pode ajudá-lo a se cacifar contra Moro na terceira via. Atual secretário de Projetos e Ações Estratégicas do governo paulista, Maia nunca foi entusiasta de uma candidatura do ex-juiz da Lava Jato.
O discurso de Doria à imprensa, entretanto, vai na linha de buscar um diálogo com Moro. "É possível [uma aliança com o ex-juiz]. Eu tenho boas relações com Sergio Moro e tenho respeito por ele, não haveria nenhuma razão para não manter relações com alguém que ajudou o Brasil, com alguém que contribuiu com a Lava Jato", disse à CNN Brasil neste domingo (28).
O governador paulista também citou que pretende manter relações com Rodrigo Pacheco e Simone Tebet, a quem classificou como uma "brilhante senadora". Ao site Poder 360, ele manteve sua promessa de buscar uma vice mulher para as eleições e voltou a elogiar a pré-candidata. "Ela sempre foi competente, séria, dedicada como mulher, mãe, política, senadora. [Tenho] enorme respeito pela senadora e pelo MDB, que é parte de nossa base aliada em São Paulo", disse.
Doria disse que conversou com alguns pré-candidatos e destacou que as conversas devem continuar nas próximas semanas. "Temos que estar juntos para termos projetos para os brasileiros. Não vejo condições de um projeto do PSDB, mas um projeto de Brasil. Temos que ter humildade, capacidade, bom diálogo e propostas claras e objetivas", declarou à CNN Brasil.
O governador de São Paulo ponderou, contudo, que as pesquisas eleitorais não podem ser as principais balizadoras de um candidato único da terceira via. "A pesquisa não é único elemento necessário. Ela é parte integrante, mas tem que ter uma composição de forças para que este candidato ou candidata possa representar uma capacidade de enfrentamento a Lula e Bolsonaro", disse à emissora.
Como Podemos e União Brasil esperam atrair o PSDB para a coligação
Um dos pré-candidatos com quem Doria conversou após sua vitória nas prévias do PSDB foi Sérgio Moro. Ao fim de setembro, os dois se reuniram em um jantar junto de Mandetta para discutir o cenário eleitoral. Desde então, os três mantêm um diálogo próximo e cordial a ponto de o tucano não ter descartado abdicar de sua candidatura caso isso evitasse a pulverização de candidaturas na terceira via.
O contato mantido entre os dois é elogiado na cúpula do Podemos e no PSL e DEM. A possibilidade de o vice de Moro ser indicado pelo futuro União Brasil é provável. As conversas evoluíram nos últimos dias e isso tem animado alguns dos principais articuladores e apoiadores da campanha do ex-juiz. Mas todos os caciques sabem que só isso não será o suficiente para atrair o PSDB à coligação.
Igualmente cientes da aposta de Doria em cobrar a fatura do MDB, caciques de Podemos e União Brasil iniciaram na última semana uma aproximação junto a Baleia Rossi. O presidente emedebista conversou com alguns nomes responsáveis pela coordenação de Moro sobre a ideia de construir um palanque para o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), em conjunto com Moro.
A possibilidade de apoio a Garcia à sucessão de Doria no governo paulista poderia, portanto, criar um cenário de alinhamento entre Doria e Moro com o apoio e a bênção do MDB. A divisão interna do partido presidido por Rossi ainda gera, entretanto, incertezas. Afinal, nem todos os emedebistas guardam simpatia por Moro devido aos anos em que foi juiz da Lava Jato.
Todo esse processo de diálogo não será rápido. Os caciques de Podemos e União Brasil vão esperar as próximas duas ou três semanas para analisar como traciona a campanha de Doria. Até lá, lideranças do PSL vão tentar convencer o presidente nacional do DEM, ACM Neto, pré-candidato ao governo da Bahia, a abraçar a ideia de uma coalizão com a pré-candidatura tucana.
Em maio, ACM Neto rompeu com Doria após o tucano filiar Garcia, até então vice-governador pelo DEM. À época, chegou a dizer que o partido não apoiaria o projeto tucano às eleições de 2022. Um dos desafios do União Brasil para uma candidatura única passa, portanto, pela pacificação da relação entre a cúpula demista e o governador paulista. "O Moro vai continuar crescendo e a gente pode ter dificuldade de avançar com Doria por causa dessa questão da briga dele com ACM. Mas temos algumas semanas pela frente para sentar e conversar", diz um integrante da cúpula do PSL.
Como Doria e Moro podem influenciar as demais pré-candidaturas
A disputa entre Doria e Moro nos bastidores para capitanear a terceira via pode causar um impacto natural de absorção de outras pré-candidaturas de centro-direita. À medida em que ambos se fortalecem e começam a montagem de suas chapas com partidos como MDB e União Brasil, uma tendência natural pode ser a exclusão de outras campanhas.
Integrantes do Novo, por exemplo, admitem que seu pré-candidato, Luiz Felipe d'Avila, pode ser lançado apenas como um balão de ensaio para marcar o posicionamento do partido perante seus eleitores e não ter sua candidatura registrada junto ao TSE para compor com Moro.
"Se o Moro se viabilizar e manter [sua candidatura], é possível que o Novo acompanhe", sustenta uma liderança do partido. A situação do Cidadania é semelhante. Moro sondou o líder do partido na Câmara, deputado Alex Manente (SP), mas a cúpula da legenda é mais simpática à ideia de apoiar Doria.
Em contrapartida ao Novo e Cidadania, a pré-candidatura de Pacheco pelo PSD é mais difícil de não seguir adiante. O presidente do Senado é outro que colocou seu nome à mesa para a disputa e é visto na política como um balão de ensaio, mas que pode não estar junto da terceira via, e sim do PT.
O PSD tem sondado a possibilidade de ocupar a chapa de Lula como vice. Nesse cenário, Pacheco poderia ser o vice, bem como Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo. A indefinição sobre o apoio ou não ao PT foi, inclusive, um dos motivos que levou o apresentador José Luiz Datena a adiar sua filiação ao partido.
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