No momento em que o Brasil vive o ápice de mortes pela Covid-19, com mais de 2 mil óbitos diários, o país também registra os piores índices de isolamento social desde o início da pandemia. Segundo dados do “Mapa Brasileiro da Covid”, os números mostram uma média nacional de isolamento de apenas 33,8% na primeira semana de março, entre os dias 1 e 6. O mapeamento é realizado pela empresa Incognia (antiga In Loco), especializada em tecnologia de localização por meio de sinais de rede e sensores de celulares.
Esse é o pior índice desde 11 de março de 2020, dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que a Covid-19 era uma pandemia. Os números atuais são comparáveis ao período pré-pandemia, entre final de fevereiro e início de março, quando ainda não estavam em vigor medidas de isolamento e o país começava a registrar os primeiros casos da doença.
Logo depois, à medida que a pandemia começava a atingir o país inteiro, os índices de isolamento social aumentaram para atingir patamares que dificilmente foram repetidos na maior parte de 2020. No dia 22 de março de 2020 por exemplo, há quase um ano, o índice de isolamento social chegou a 62% no país.
Segundo os gráficos que analisam dados diários sobre a circulação de pessoas, janeiro deste ano terminou com uma média de isolamento de 40,7% no país, chegando a 41,55% na última semana.
Já no mês seguinte, em fevereiro, o isolamento caiu para 38,1%, sendo de 35,9% na última semana. Agora em março, o índice médio está ainda mais baixo, em 33,8%, apesar do recrudescimento da pandemia em todo o país. O patamar atual é pior até mesmo que durante o carnaval, tradicional período de viagens no país, quando o isolamento ficou em 38,7%. Na ocasião, governadores e prefeitos de várias regiões do Brasil determinaram o fim do ponto facultativo – o que, na prática, acabou com o feriado de carnaval. O objetivo era reduzir a circulação das pessoas e descolamentos.
Estados com maior e menor isolamento social
O Mapa Brasileiro da Covid mostra que, no dia 9 de março, a maior parte dos estados brasileiros apresentou um índice de isolamento abaixo dos 40%. Apenas três deles ficaram acima desta marca, Ceará (42,2%), Amazonas (40,5%) e Acre (40,4%). Vale lembrar que os amazonenses enfrentaram recentemente uma das mais graves crises durante a pandemia, com hospitais lotados e pessoas morrendo por falta de oxigênio.
Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, com 30,7% e 31,2%, respectivamente, apresentaram os números mais baixos. Em Mato Grosso do Sul, a ocupação de leitos de UTI para Covid-19 chegou a 100% na macrorregião da capital, Campo Grande, de acordo com dados do governo estadual no dia 8 de março. Já o governo do Mato Grosso informou que a taxa de ocupação das UTIs no estado atingiu 97,09% nesta terça-feira (9).
Mesmo em regiões que adoraram medidas mais rígidas de restrição, como São Paulo, os números referentes ao isolamento são baixos. Dados do dia 9 de março deste ano mostram que São Paulo teve uma das piores médias de isolamento de todo o país, com 32,2%.
Na última semana, o estado voltou à fase vermelha, a mais crítica da quarentena, e suspendeu todas as atividades não essenciais, como comércio e restaurantes ao menos até o dia 19 de março.
O Mapa da Covid aponta que desde que o período mais restritivo entrou em vigor em todo o estado, no dia 3 de março, os índices de isolamento despencaram, mostrando que mesmo com grande parte das atividades suspensas, as pessoas continuaram circulando. No dia 1 de janeiro de 2020, esta taxa chegava a 49,3%. Passados dois meses, esse número caiu para 30,5% no dia 1 de março.
Saúde em colapso
A queda dos índices de isolamento social no país ocorre ao mesmo tempo em que o sistema de saúde de grande parte do Brasil caminha para o colapso, com filas de pacientes à espera de leitos de enfermaria e UTI para tratamento da Covid-19, seja em unidades públicas ou particulares.
Segundo dados divulgados no dia 9 de março pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a ocupação de leitos para tratamento da Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS) está em situação extremamente crítica em 25 capitais e 20 estados brasileiros, sendo 13 deles com porcentuais acima dos 90%. A ocupação é maior em Rondônia, Acre, Tocantins, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal.
Já nas capitais, as regiões mais críticas são: Campo Grande (106%); Porto Alegre (102%); Porto Velho (100%); Rio Branco (99%); Teresina (98%); Goiânia (98%); Florianópolis (97%); Brasília (97%); Curitiba (96%); Cuiabá (96%); Natal (96%); Fortaleza (96%); Palmas (95%); São Luís (94%); Rio de Janeiro (93%); Macapá (90%); Manaus (87%); João Pessoa (87%); Aracajú (86%); Salvador (85%); Belo Horizonte (85%); Recife (85%); São Paulo (82%); Boa Vista (80%) e Vitória (80%).
Seguindo padrão determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as taxas de ocupação são classificadas em zona de alerta crítico quando iguais ou superiores a 80%, em zona de alerta intermediária quando iguais ou superiores a 60% e inferiores a 80%, e fora de zona de alerta (verde) quando inferiores a 60%.
“Mesmo no período entre a segunda metade de julho e o mês de agosto, quando foram registrados os maiores números de casos e óbitos [na primeira onda da pandemia], não tivemos um cenário como o atual, com a maioria dos estados e Distrito Federal na zona de alerta crítica”, diz o levantamento.
No documento, os pesquisadores da Fiocruz reforçam ainda a importância das medidas básicas para conter a disseminação do vírus. “Considerando o quadro atual e a situação extremamente crítica no que se refere às taxas de ocupação de leitos UTI Covid-19, que apontam para a sobrecarga e mesmo colapso de sistemas de saúde, os pesquisadores reforçam a necessidade de ampliar e fortalecer as medidas não farmacológicas envolvendo distanciamento físico e social, uso de máscaras e higienização das mãos”, diz.
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