Um levantamento divulgado neste final de semana aponta que a Operação Lava Jato, que completa 10 anos neste mês desde a primeira fase em março de 2014, acabou por pressão de políticos brasileiros para 42% dos entrevistados. A pesquisa foi realizada pela Quaest e mostra que 50% deles acreditam que as investigações fizeram mais bem do que mal para o país.
A Quaest ouviu 2 mil pessoas presencialmente entre os idas 25 e 27 de fevereiro em 120 cidades brasileiras. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%.
Segundo o instituto, além da pressão de políticos para barrar a operação, também houve exagero por parte dos investigadores e juízes envolvidos (25%), e que já não havia mais corrupção no governo em 2021 para se continuar investigando (8%).
Felipe Nunes, diretor da Quaest, explica que essa diferença entre os que têm uma visão mais positiva da Lava Jato e os que vem uma ação mais deliberada é um reflexo da polarização política brasileira, principalmente entre os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Dez anos depois, me parece que os eleitores brasileiros têm uma visão bem racional sobre o que foi a Operação Lava Jato. [...] O eleitorado lulista é mais dividido em relação à Lava Jato, e o eleitorado bolsonarista tem uma visão bem mais clara e positiva em relação ao que aconteceu”, disse em entrevista à GloboNews neste domingo (3).
A pesquisa da Quaest apontou que a Lava Jato fez mais bem para o país para 50% dos entrevistados, que ajudou a combater a corrupção (49%), e que investigou principalmente o PT (28%). Para outros 23%, a operação olhou todos os partidos igualmente, enquanto que 22% acreditam que nenhuma legenda foi efetivamente investigada.
Na afirmação de que a operação mirou mais ao PT, 43% dos entrevistados acreditam que Lula é culpado pelos crimes atribuídos a ele, mas a mesma quantidade tem uma opinião contrária – de que ele é inocente.
“A operação como um todo, a intenção da operação, a ideia de se combater a corrupção na política é, por si só, uma ideia bem vista na sociedade, mesmo que as pessoas reconheçam que é difícil e que os políticos façam de tudo para que isso não chegue neles”, completou Nunes.
A Operação Lava Jato foi um marco na história da justiça brasileira desde que teve a primeira fase deflagrada em 17 de março de 2014 pela Polícia Federal – foram 80 até o final. O início das investigações se deu a partir de um caso de lavagem de dinheiro em um posto de combustíveis, que se desdobrou em um amplo esquema criminoso envolvendo fraude, corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras.
O alcance da operação se estendeu para além da Petrobras, atingindo outras estatais e empresas privadas, além de políticos, empresários e executivos de estatais.
Entre os casos mais emblemáticos da Lava Jato está a condenação do presidente Lula em primeira instância por corrupção no caso do triplex de Guarujá pelo então juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba. A prisão ocorreu em abril de 2018 após condenação em segunda instância.
Após mais de um ano – 580 dias –, Lula foi solto em novembro de 2019, em decorrência de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que revogou a possibilidade de prisão de condenados em segunda instância.
A força-tarefa da Lava Jato, sediada em Curitiba, encerrou suas atividades em fevereiro de 2021, após a publicação de uma portaria da Procuradoria-Geral da República em dezembro de 2020. Posteriormente, cinco integrantes passaram a integrar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), dando continuidade aos trabalhos até agosto de 2022.
Em agosto de 2022, o ministro Fachin, relator de casos da Lava Jato no STF, divulgou um balanço das ações da força-tarefa. Os dados revelaram que ao longo da operação, o STF realizou 221 mandados de busca e apreensão, 12 prisões preventivas, duas prisões temporárias, 29 denúncias, envolvendo 102 acusados, resultando em quatro condenações.
Já a força-tarefa do Paraná, que liderou as investigações, realizou 1.450 mandados de busca e apreensão, 132 prisões preventivas, 163 prisões temporárias, 130 denúncias, envolvendo 533 acusados, e resultando em 278 condenações.
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