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Pronunciamentos e viagens

Lula adota “modo campanha” enquanto sua popularidade derrete

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Além dos pronunciamentos, Lula está fazendo série de viagens pelo Brasil para tentar melhorar sua popularidade (Foto: EFE)

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Em meio à crise de popularidade entre seus eleitores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passa a adotar o "modo campanha eleitoral" em eventos públicos e discursos. Investindo em uma agenda com viagens pelo país para lançar iniciativas do governo, o petista tem adotado tom de comício em seus discursos e aparições públicas.

Para analistas, o tom eleitoral adotado pelo petista ficou evidente em pronunciamento realizado por Lula nesta segunda-feira (25). Em seu discurso em rede nacional, Lula exaltou dois programas de transferência de renda do governo, o Farmácia Popular e o Pé-de-Meia. Deixando a formalidade de lado, o que não é usual para pronunciamentos deste tipo, o mandatário apelou ainda para expressões coloquiais.

A fala de Lula durou pouco mais de dois minutos e deixou de lado o tom informativo para adotar um viés publicitário. Na avaliação do diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Calmon, a estratégia faz parte da nova comunicação do chefe do Executivo, que tem tentado reverter o derretimento de sua popularidade.

"O que temos visto, de maneira geral, é que o presidente tem focado mais seus pronunciamentos naquilo que afeta mais diretamente o bem-estar do seu eleitor. E nesse ponto, o foco tem sido em medidas que influenciam o poder de compra do consumidor ou facilitam o acesso a bens e serviços que o eleitor necessita. Em outras palavras, o foco é naquilo que afeta o bolso do eleitor", analisa o cientista político.

Deputados da oposição, porém, estão questionando se o pronunciamento de Lula nesta segunda configurou campanha eleitoral antecipada.

"Para quem viu a propaganda gratuita, o pleito eleitoral já começou para Lula e seu novo marqueteiro, antecipando claramente as eleições. Visando a igualdade de oportunidades para todos os futuros presidenciáveis, encaminhei ao Procurador-Geral Eleitoral uma representação para averiguação de propaganda eleitoral antecipada, conduta vedada e uso indevido dos meios de comunicação", disse o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO).

O Pé-de-Meia funciona como uma "poupança estudantil", em que os alunos recebem depósitos repassados pela União a partir de sua frequência escolar e comparecimento no Enem. O último pronunciamento de Lula foi realizado com a intenção de anunciar o início do pagamento do programa. Chamando atenção para a expressão "tudo de graça", Lula aproveitou o tempo em rede nacional para anunciar a gratuidade dos 41 medicamentos inclusos no Farmácia Popular.

O mandatário brasileiro tem sofrido perdas significativas em sua popularidade nos últimos meses. Levantamento conduzido pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e o instituto MDA, divulgado nesta terça-feira (25), também mostrou desaprovação de Lula maior que a aprovação. De acordo com a pesquisa, a avaliação negativa de Lula chegou a 44% e a positiva a 29%. Foi a primeira vez que a pesquisa conduzida pela CNT em colaboração com o instituto MDA apontou uma desaprovação maior que a aprovação neste terceiro mandato.

Nesta quarta-feira (26), mais notícias ruins chegaram ao Palácio do Planalto. Pesquisa Genial/Quaest, realizada em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás, mostrou que a avaliação positiva de Lula despencou nos últimos dois meses. Nos dois estados mais populosos do Nordeste, Bahia e Pernambuco, onde Lula venceu as eleições em 2022, a avaliação negativa do presidente chegou ao mesmo patamar da avaliação positiva, em torno de 50% do eleitorado. Nos demais estados, a desaprovação ultrapassa 60% (veja abaixo as metodologias das pesquisas citadas).

Dentro do Planalto, essas pesquisas são vistas como um alerta, sobretudo com as eleições presidenciais de 2026 já no horizonte.

Eventos de Lula também ganham viés de comício

Outra estratégia de Lula para tentar reverter a queda de sua popularidade é apostar em viagens pelo país. O petista retomou neste ano a agenda de visitas a cidades de diferentes estados, com a intenção de visitar obras e inaugurar iniciativas do governo. Em eventos cercados de aliados políticos e apoiadores, estas solenidades acabam ganhando um tom de comício eleitoral.

Nesta semana, o mandatário esteve em Pelotas, no Rio Grande do Sul, para participar da Cerimônia de Assinatura do Contrato de Navios da Transpetro pelo Programa de Renovação da Frota Naval do Sistema Petrobras. Ao lado de ministros e membros do governo gaúcho, Lula anunciou o contrato para construção de quatro navios, estimados em R$ 1,6 bilhão.

Poucos dias antes, o mandatário viajou para o Rio de Janeiro para participar do evento de aniversário do Partido dos Trabalhadores (PT). Para centenas de apoiadores, Lula fez um discurso inflamado e chegou a alfinetar ministros e opositores. Sem citar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nominalmente, o mandatário fez críticas ao seu antecessor e à sua gestão.

A pressão pela queda de sua popularidade, avalia Raquel Alves, analista política na BMJ Consultores Associados, também movimenta Lula e seu entorno por uma mudança de postura, já que a crise também impacta sua governabilidade na reta final deste mandato. Ela explica que o tom de "comício" que Lula tem adotado em suas recentes aparições públicas é ainda uma resposta adotada por políticos em momentos de crise e estagnação política.

Lula vai manter postura mais ativa, ainda que renda gafes

Conforme já havia adiantado a Gazeta do Povo, a mudança na comunicação de Lula implementada pelo novo ministro da Secretaria da Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, vai colocar o petista mais presente em discursos e declarações.

Com isso, ele está relegando a um papel secundário, pelo menos por ora, as questões de cunho político e partidário ou questões que despertam grande debate na sociedade por serem considerados parte da agenda identitária. Fontes próximas ao governo avaliam que Lula não deve ponderar nos discursos, mesmo com o risco de suas falas de improviso gerarem novas crises políticas.

Essa seria uma forma, avalia o Planalto, de o presidente “dominar o discurso” e não ser "pautado” pelo que é dito pela oposição. A estratégia, contudo, é vista com receio por especialistas. Ao longo deste terceiro mandato, Lula acumulou declarações polêmicas que geraram repercussões negativas com seu eleitorado e até mesmo em ruídos com outros países.

Metodologia das pesquisas citadas

Genial/Quaest: A pesquisa foi realizada em oito estados que representam 62% do eleitorado nacional (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás), com 9.182 entrevistados presencialmente entre os dias 19 e 23 de fevereiro. A margem de erro varia de 2 a 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

CNT/MDA: levantamento nacional com 2.002 pessoas realizado entre os dias 19 e 23 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

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