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Reforma Ministerial

Lula demite Nísia Trindade do Ministério da Saúde; Padilha é indicado ao cargo

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, ao lado de Lula e Padilha. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu, na tarde desta terça-feira (25), a ministra da Saúde, Nísia Trindade. A saída era dada como certa e marca a segunda troca feita pelo petista na Esplanada em 2025. A partir de 6 de março, a pasta será comandada pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, que é médico e ocupou o cargo durante o governo de Dilma Rousseff (PT).

Em nota, o Palácio do Planalto confirmou a demissão de Nísia e reforçou que Lula "agradeceu à ministra pelo trabalho e dedicação à frente do ministério".

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na tarde desta terça-feira, 25 de fevereiro, com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Na ocasião, comunicou a ela a substituição na titularidade da pasta, que passará a ser ocupada pelo atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a partir da posse marcada para a quinta-feira, dia 6 de março", diz o comunicado.

O governo ainda não anunciou quem será o substituto de Padilha na SRI, responsável pela articulação entre o Executivo e o Congresso. O processo de fritura de Nísia se intensificou após pesquisas indicarem a queda de popularidade de Lula em meio a uma série de crises alavancadas por falhas do governo.

Lula se reuniu com Nísia nesta tarde para falar sobre a exoneração. Logo após, o presidente recebeu Padilha no Planalto. Mais cedo, a ministra participou de um evento ao lado do mandatário para anunciar o acordo com o Instituto Butantan para a produção de 60 milhões de doses da vacina contra a dengue por ano.

Durante a cerimônia, Nísia foi aplaudida pela plateia mais de uma vez. Ela não mencionou a possível demissão. Lula não discursou e também silenciou ao ser questionado diretamente sobre o tema.

Após o anúncio, Padilha disse ter aceitado “muita honra essa nova missão” e destacou que o foco de sua gestão será “fortalecer o SUS”. Ele frisou que tem “profunda admiração e carinho” por Nísia. “Fortalecer o SUS continuará sendo a nossa grande causa, com atenção especial para a redução do tempo de espera de quem busca cuidado na rede de saúde. Esse é o comando que recebi do presidente Lula e ao qual vou me dedicar integralmente”, afirmou Padilha em nota divulgada no X.

O ministro disse que Nísia é um “símbolo de compromisso e seriedade à frente da Fiocruz e do Ministério da Saúde” e deixa um “legado de reconstrução do SUS, após anos de gestões negacionistas, que nos custaram centenas de milhares de vidas”.

Reforma ministerial e fritura

No último dia 21, a ministra afirmou que seguia “firme” com o trabalho e minimizou os rumores de demissão. “Continuo com a minha agenda, continuo com o meu trabalho. O presidente Lula afirmou na reunião com Portugal que ele não está colocando reforma ministerial na mesa, mas qualquer momento, como é natural nos governos, ele poderá fazer substituições”, disse Nísia em entrevista à rádio CBN Maringá.

O chefe de Executivo já avaliava uma reforma ministerial antes dos resultados negativos dos levantamentos, que reforçaram a necessidade de acomodar aliados na tentativa de reforçar a base de apoio. A crise do Pix deu o ponta pé inicial nas mudanças com a substituição de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira na Secretária de Comunicação Social (Secom) da Presidência, no início de janeiro.

Com orçamento de R$ 239,7 bilhões, o Ministério da Saúde é uma das pasta mais cobiçadas do Executivo. A percepção é de que Nísia não conseguiu entregar os projetos que seriam a vitrine da pasta no Lula 3. Desde o ano passado, Nísia Trindade vinha acumulando uma série de críticas a sua gestão na pasta da Saúde, como a explosão de casos de dengue e vacinas vencidas, além de desvios de emendas.

Houve atraso na compra e distribuição de vacinas contra a Covid-19 em 2024, o que foi negado pela ministra. O programa Mais Acesso a Especialistas também não saiu do papel. A iniciativa foi lançada em abril do ano passado, mas a primeira etapa só foi concluída em dezembro.

Além disso, a ministra precisou suspender uma nota técnica pró-aborto, alvo de forte repercussão negativa entre diversos setores da sociedade e pressão de parlamentares da oposição. O documento permitia a interrupção da gravidez a qualquer momento em caso de estupro.

Para substituir Padilha na SRI, o governo tenta buscar um nome equilibrado para manter uma boa relação com o Centrão. Os principais cotados são os deputados Isnaldo Bulhões (MDB-AL), Antônio Brito (PSD-BA) e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Crise na gestão de Nísia

A ineficácia das ações do governo para conter a explosão de casos de dengue no país pesou contra Nísia Trindade. O Brasil registrou 6.068 mortes por dengue em 2024, número que ultrapassou os óbitos causados pela Covid-19 no mesmo período, que somaram 5.959.

Além da ineficácia nas ações de combate à doença, não há vacinas suficientes para imunizar a população. O governo deixou vencer 58,7 milhões de vacinas desde o início do Lula 3. O desperdício representou um gasto de R$ 1,75 bilhão aos cofres públicos, ficando atrás apenas do acumulado no segundo mandato de Lula, quando o governo perdeu R$ 1,96 bilhão em imunizantes vencidos.

Durante a gestão de Nísia, também foram registrados problemas na distribuição de vacinas. Em abril de 2024, um abaixo-assinado reuniu mais de 2 mil assinaturas de médicos e representantes da sociedade civil para pedir a compra de imunizantes atualizados contra a Covid-19.

A aquisição e distribuição de vacinas era uma das bandeiras da campanha de Lula em 2022. O petista criticou em inúmeras ocasiões o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo atraso na compra de imunizantes durante a pandemia.

Problemas no repasse de emendas

Se não bastassem todas as crises no ministério, Nísia Trindade também teve que lidar com as notícias de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – presidida por ela entre 2017 e 2022 – teria utilizado verbas destinadas a programas da saúde indígena para custear viagens de um pesquisador.

O dinheiro, oriundo de um contrato firmado entre o Ministério da Saúde e a Fiocruzr para bancar viagens a Portugal, França e Estados Unidos.

A Fiocruz informou que as viagens do primeiro pesquisador foram para desenvolver atividades relacionadas à cooperação técnica com universidades dos países visitados por ele.

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