Depois da tentativa frustrada de criar um "clube da paz" para buscar um acordo na guerra da Rússia contra a Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende agora investir na pauta ambiental como forma de ganhar protagonismo internacional. A mudança de estratégia veio depois que o petista passou a ser criticado tanto internamente como no exterior por declarações que relativizaram a invasão da Rússia na Ucrânia.
Nesta quarta-feira (2), por exemplo, Lula voltou a culpar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) por não evitar a guerra entre os dois países. O petista disse também que o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não abrem mão do conflito e tentam "ganhar" a guerra enquanto “pessoas estão morrendo”.
Mas ele não menciona que foi a Rússia quem invadiu um vizinho pacífico, em uma tentativa de bajular Putin para obter vantagens como a compra de óleo diesel a preços mais baixos.
Para os aliados do PT, Lula deve fazer da agenda ambiental um dos pilares do governo como forma de buscar protagonismo no cenário internacional. Como a Gazeta do Povo mostrou, o presidente brasileiro calcula que pode ter ganhos eleitorais com a COP30 e quer tornar Belém a sede da “Copa do Mundo ambiental”.
Mas ao apoiar a Rússia, Lula vem encontrando portas fechadas entre as potências do Ocidente e já vem sendo substituído por outros líderes mundiais na posição de "campeão" da defesa do meio ambiente e do combate à mudança climática. Ele vem perdendo espaço, por exemplo, para a premiê de Barbados (no Caribe), Mia Mottley.
Em sua estratégia voltada para o meio ambiente, Lula desembarca na semana que vem na capital do Pará para a chamada Cúpula da Amazônia. O encontro, que vai reunir representantes de 15 países, será o primeiro evento teste na capital da COP 30, que será realizada em novembro de 2025. Para tentar repercutir a agenda, Lula se reuniu nesta semana com diversos correspondentes de veículos de imprensa internacionais para um café no Palácio do Planalto.
“Acho que o mundo precisa olhar para essa reunião como o marco mais importante já feito para discutir a questão do clima. Porque eu já participei de várias reuniões, muitas vezes se fala, fala, fala, fala, aprova-se um documento e esse documento não faz nada”, disse o presidente aos jornalistas.
Além de Lula, participarão os presidentes da Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. O governo convidou ainda a França, por causa das florestas na Guiana Francesa, além de Alemanha e Noruega, na condição de principais doadoras do Fundo Amazônia. Lula chamou também três países que detêm florestas tropicais: República Democrática do Congo, República do Congo e Indonésia.
Primeiros meses do governo Lula foram marcados por derrotas na pauta ambiental
Apesar das sinalizações de Lula, o primeiro semestre do governo petista foi marcado por uma série de derrotas na pauta ambiental. Das quatro principais derrotas do Executivo dentro do Congresso neste ano, três tiveram ligação com o ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva.
Em 24 de maio, os deputados aprovaram uma medida provisória sobre a regularização ambiental, editada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que afrouxa as regras sobre licenciamento ambiental. Lula vetou a proposta, mas caso não costure um acordo com os parlamentares, o veto pode ser derrubado pelo Congresso Nacional.
Além disso, a Câmara aprovou o chamado PL do marco temporal, que determina que somente poderão ser demarcadas as terras ocupadas por povos indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. A aprovação ocorreu mesmo com articulação por parte da liderança do governo. O texto ainda precisa passar pelo Senado.
Em outra frente, a Câmara e o Senado esvaziaram o ministério comandado por Marina Silva durante a votação da medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios. Paralelamente, na queda de braço entre a Petrobras e o Ibama, Lula disse achar “difícil” que a exploração de petróleo próximo à foz do Rio Amazonas causasse problemas ambientais na região. A exploração conta com forte oposição por parte dos ambientalistas.
Lula desistiu de clube da paz para tratar do conflito na Ucrânia
Ignorado pelos seus pares internacionais diante da estratégia de tentar intermediar um acordo entre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, Lula abandonou a proposta de criar um clube da paz. Recentemente, por exemplo, o petista indicou recentemente que não ''quer se meter'' no conflito.
"E é por isso que não quero me meter na questão da guerra da Rússia e da Ucrânia. Porque a minha guerra é aqui: é contra a fome, é contra a pobreza, é contra o desemprego, é contra a desindustrialização. Por que vou me preocupar com a briga dos outros? Eu vou me preocupar com a minha briga", disse o petista durante um evento no Planalto.
Durante visita à China em abril, Lula chegou a ser questionado pela imprensa local sobre qual seria seu plano sobre o clube da paz e revelou que não tinha nenhuma estratégia para viabilizar o projeto.
Aliados de Lula admitem reservadamente que a mudança de rota é um acerto de Lula depois de ele ter investido "tanta energia em um tema complexo e distante do Brasil" como a guerra na Ucrânia. Consequência, ele acabou tendo sua imagem associada a mais um tirano, o líder russo Vladimir Putin.
Para essa ala do governo, Lula deve concentrar esforços em assuntos que o Brasil tem maior potencial de liderança, como a agenda ambiental e da segurança alimentar.
Com o recuo de Lula, o Brasil pretende enviar o assessor especial da Presidência, o ex-chanceler Celso Amorim, para participar de uma reunião, na Arábia Saudita, para discutir a guerra. Representantes de cerca de 30 países estarão presentes, incluindo Índia, Indonésia, Egito, Chile e Zâmbia, nos dias 5 e 6 de agosto. A expectativa é de que as discussões sobre o tema fiquem concentradas apenas no campo da diplomacia brasileira.
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