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Visto como um dos principais gargalos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a comunicação caminha para ser o primeiro alvo da reforma ministerial discutida dentro do Palácio do Planalto. O presidente pretende tirar Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação (Secom) e indicar o marqueteiro Sidônio Palmeira para o posto.
A primeira conversa entre Lula e Pimenta sobre as possíveis mudanças na Secom ocorreu ainda no começo de dezembro, antes de o presidente ser hospitalizado em São Paulo para fazer a cirurgia para conter uma hemorragia no crânio. A avaliação entre integrantes do Palácio do Planalto é de que a cirurgia do petista acabou atrasando as tratativas sobre a demissão.
Paulo Pimenta é uma das principais lideranças do PT e o governo discute internamente uma "saída honrosa" para o ministro. Uma das opções analisadas por lideranças petistas seria a transferência do chefe da Secom para a Secretaria-Geral da Presidência, atualmente comandada por Márcio Macêdo.
Macêdo também integra a cota do PT na Esplanada dos Ministérios, mas é alvo de ataques dentro do próprio partido e sua atuação na pasta já foi criticada publicamente pelo próprio Lula. Questionado sobre a possibilidade de demissão, o ministro da Secretaria-Geral disse que não sabia que "tinha inimigos" dentro do governo.
"Eu achava que não tinha inimigo. Depois, eu descobri que tem um monte. Eu acho que isso é do processo da política. Tem em todos nós. Tem gente que, com certeza, no seu trabalho, vai querer lhe desgastar", disse Macêdo.
Sem citar Paulo Pimenta, que é do Rio Grande do Sul, Macêdo disse que sua origem, de um estado do Nordeste, deve incomodar pessoas que são "do Sul" ou "de São Paulo" dentro do governo. "Eu sou do Brasil profundo. Eu não sou de São Paulo. Eu não sou, como a gente chama, do Sul, nem do Sudeste. Mas, eu sou ministro palaciano, ministro de confiança do presidente", completou Macêdo, que tem seu berço político no Sergipe.
Além da Secretaria-Geral, uma alternativa discutida para o futuro de Paulo Pimenta seria seu retorno à bancada do PT na Câmara. O atual ministro da Secom é deputado federal licenciado e é visto com um dos petistas mais ideológicos dentro do Congresso.
Marqueteiro começa transição na comunicação do governo
Sidônio Palmeira desembarcou em Brasília no começo da última semana e, desde então, começou a se reunir com lideranças do Planalto e discutir as possíveis mudanças na pasta. Apesar de não ter sido anunciado formalmente, o marqueteiro participou da confraternização de Lula com os ministros na última sexta-feira (20) no Palácio da Alvorada.
No encontro, Lula falou da necessidade de mudanças no governo, mas não citou especificamente quais serão as trocas na equipe. O petista citou que o ritmo de trabalho do governo deve continuar, mas que "coisas vão mudar" e "coisas estão faltando".
Sidônio Palmeira já conta com uma proximidade com o PT e foi o marqueteiro responsável pela campanha de Lula em 2022. O publicitário também já vinha prestando consultorias ao governo e foi responsável pela gravação do discurso de Natal do presidente que vai ao ar nesta segunda-feira (23).
O discurso está marcado para ir ao ar em cadeia nacional de rádio e TV às 20h30 e deve durar três minutos e 20 segundos. Palmeira também atuou na gravação divulgada por Lula para falar sobre a autonomia do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
A mensagem foi uma tentativa do governo de recuperar a confiança do mercado financeiro depois de semanas de tensão com o dólar chegando a picos acima de R$ 6. A peça foi publicada nas redes sociais do presidente.
Antes disso, o marqueteiro também discutiu com o Planalto qual seria a estratégia de comunicação na divulgação do pacote de corte de gastos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Desde o pronunciamento, feito em cadeia de rádio e TV pelo chefe da pasta econômica, o governo tem adotado a estratégia de evitar o termo “corte” e usado expressões como “contenção”, “economia”, “controle de gastos” ou “ajuste” para tratar sobre as medidas.
Reestruturação comunicação mira estratégia para 2026
Prestes a chegar à metade do mandato do governo Lula 3, a avaliação dentro do Palácio do Planalto é de que a comunicação é a principal falha da atual gestão. Esse ponto foi o mais criticado pelos próprios petistas durante seminário da sigla para discutir o futuro do partido no começo de dezembro.
O próprio Lula endossou e inflamou as queixas, num discurso que apontou sinais de insatisfação com o ministro da Secom. "Há um erro no governo na questão da comunicação, e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame de que a gente não está se comunicando bem", disse Lula.
Presente no evento, Paulo Pimenta tentou minimizar as críticas e que "algo precisa ser mudado". "Nós não estamos conseguindo colocar as coisas que nós estamos fazendo. E essa é uma das minhas preocupações. O partido também tem obrigação de divulgar as ações do governo", disse o ministro.
Uma das queixas de Lula diz respeito, por exemplo, ao fato de a Secom não ter concluído uma licitação para contratar empresas especializadas em comunicação digital. A licitação foi interrompida em julho deste ano, após o Tribunal de Contas da União (TCU) identificar suspeitas de vazamento do edital.
A expectativa do Executivo é gastar quase R$ 200 milhões por ano para fazer propaganda nas redes sociais. Essa medida é vista dentro do Planalto como uma das principais apostas para melhorar avaliação de Lula e do próprio governo - já de olho nas eleições de 2026.
"Nesses dois anos de governo, já fiz muito mais entrega de políticas públicas para a sociedade do que fiz nos oito anos anteriores [2003-2010]. Mas eu sinto que, cada vez eu viajo, converso, que atendo ministro, que nós não estamos entregando de forma adequada para que a sociedade tenha as informações daquilo que nós fizemos", admitiu Lula durante o seminário do PT.
O peso de Lula nas falhas de comunicação do governo
A avaliação feita por Lula sobre os erros de comunicação acontece após quase dois anos de uma série de falas do próprio petista e que provocaram desgaste para o governo. Em fevereiro deste ano, por exemplo, o presidente comparou as ações de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, que foi o extermínio de judeus pelo governo nazista de Adolf Hitler na Alemanha.
"O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula na ocasião. Na época, a declaração teve impacto negativo na popularidade de Lula, puxado principalmente pelo eleitorado evangélico.
Já no mês de julho, Lula lamentou o aumento na violência contra a mulher após jogos de futebol, mas mencionou que "se o cara é corintiano, tudo bem". A declaração gerou indignação entre ativistas dos direitos das mulheres e recebeu ampla cobertura negativa na mídia.