O presidente Jair Bolsonaro não é o único que usa as redes sociais como plataforma estratégica de comunicação social. Seus ministros também, e isso pode dizer muito sobre a permanência ou saída de alguns deles na reforma ministerial que virá em 2021 para tentar assegurar a vitória do governo nas eleições da presidência da Câmara e do Senado, bem como para preparar o terreno para as eleições de 2022.
Um monitoramento feito pela Quaest Consultoria & Pesquisa, empresa especializada em análises e pesquisas de Big Data, aponta que os ministros da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, da Família, Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, são os três mais populares do governo nas redes sociais. O prestígio do trio nas mídias sociais e, também, claro, junto a Bolsonaro, tornam-os imunes à reforma ministerial que virá. O mesmo, contudo, não pode ser dito de outros.
Com exclusividade à Gazeta do Povo, a Quaest abriu seu ranking dos 12 ministros mais populares, segundo o monitoramento em suas respectivas redes sociais que dá origem ao chamado Índice de Popularidade Digital (IPD). Freitas lidera o levantamento com uma média de 71,22 pontos entre janeiro e novembro de 2020, seguido de Damares, com 56,26 pontos, e Heleno, com 45,8 pontos. Todos eles estão em um patamar acima da média dos ministros, que é de 28,9 pontos.
Ainda acima da média, mas fora do pódio, aparecem os ministros: da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, com 32,45 pontos; do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com 30,08 pontos; da Cidadania, Onyx Lorenzoni, com 29,75 pontos; e da Agricultura, Tereza Cristina, com 29,25 pontos.
Apesar de ser um pilar do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, aparece na lanterna do ranking, com 11,29 pontos, devido à sua baixa atividade nas redes sociais. A mesma lógica da pontuação de Guedes se aplica ao ministro das Comunicações, Fábio Faria, com um score médio de 15,46 pontos. Ele passou a ser mais atuante apenas após sua posse, em junho.
Da mesma forma que a pouca atividade dos ministros nas redes sociais implica em uma baixa colocação no ranking, a ausência em algumas redes os exclui do levantamento. Ministros que não estão em redes suficientes para entrarem no cálculo metodológico ficaram de fora.
Veja o ranking de popularidade dos ministros
Nome | IPD* |
Tarcísio de Freitas | 71,22 |
Damares Alves | 56,26 |
Augusto Heleno | 45,8 |
Marcos Pontes | 32,45 |
Ricardo Salles | 30,08 |
Onyx Lorenzoni | 29,75 |
Tereza Cristina | 29,25 |
Fabio Faria | 15,46 |
Marcelo Álvaro Antônio | 15,03 |
Gilson Machado | 13,02 |
André Mendonça | 11,47 |
Paulo Guedes | 11,29 |
Média ministros | 28,9 |
(*) Média entre janeiro e novembro de 2020 |
Bolsonaristas empurram popularidade dos ministros
A Gazeta do Povo apresentou o ranking dos ministros mais populares nas redes sociais a interlocutores do Palácio do Planalto. E a análise é de que os três melhores colocados, de fato, estarão com assento garantido na Esplanada dos Ministérios em 2021.
A leitura feita sobre Tarcísio de Freitas é de que suas atividades técnicas, de apresentação de entregas de obras, ajudam a consolidar sua boa colocação. Quanto a Damares e Heleno, há o entendimento de que seus perfis mais ideológicos e conservadores acabam por impulsioná-los.
A leitura feita por essas fontes palacianas não está equivocada, destaca Jonatas Varella, cientista político e analista de dados da Quaest. “Tarcísio é o ministro mais popular muito em questão de ser aquele que mais consegue alimentar a base bolsonarista, que dá a ela a munição para defender Bolsonaro e o governo”, destaca.
“Já Damares, com sua pauta essencialmente ideológica, e Heleno, com seus embates com opositores, acabam pautando questões ideológicas”, acrescenta.
O elevado IPD sobretudo dos três ministros sugere que é a base apoiadora de Bolsonaro nas redes a principal responsável por impulsionar a popularidade nas mídias. No sentido contrário, o desinteresse dela também desidrata o indicador.
“São os bolsonaristas que mais puxam as curtidas, compartilhamentos e demais interações. Porque a pauta ideológica ganha força, aumenta a popularidade e tende a engajar os eleitores de Bolsonaro mais do que as pautas técnicas”, diz Varella.
A alta aprovação popular de Freitas, por exemplo, não se deve somente a suas postagens mais técnicas. Em novembro, quando ele atingiu 82,05 pontos — o mais alto índice entre os ministros desde o início do governo —, o ministro da Infraestrutura rebateu um comentário irônico do presidenciável do PT nas eleições de 2018, Fernando Haddad, no Twitter. “O Tarcísio também pauta questões ideológicas como essa”, destaca o analista da Quaest.
O ministro da Infraestrutura lidera o ranking mensal desde junho, a uma média de 80,25 pontos nesse período. Em maio, o líder no mês foi Heleno. Naquele mês, por mais de uma vez, ele confrontou o presidenciável do PDT nas eleições de 2018, Ciro Gomes, mas foi sua publicação com tom crítico ao pedido de apreensão do celular de Bolsonaro que estremeceu as redes sociais.
Postagens de cunho ideológico e de embate são, em grande maioria, a tônica que explica a popularidade dos ministros. Com Damares, não é diferente, afirma Varella.
“Os dois principais posts dela em novembro são, primeiro, o de um embate com o [youtuber] Felipe Neto, sobre uma notícia de ele ter sido indiciado por corrupção de menores, e outro de uma foto do Bolsonaro com crianças por perto, exaltando esse perfil de um cara de família, do povo”, diz. “Ou seja, ambos não vêm associados ao trabalho dela, mas, sim, às suas opiniões e sua ideologia”, acrescenta.
Ministros mais populares têm mais força para permanecer
Ser mais ou menos popular nas redes sociais pode não significar muito em uma decisão de Bolsonaro mantê-lo ou não. “As redes sociais não são determinantes, ela apenas aponta um panorama e pode indicar tendências”, reconhece Varella.
O analista de dados da Quaest cita como exemplo Guedes, que tem baixa popularidade nas mídias, e Sergio Moro e Abraham Weintraub, ex-ministros da Justiça e Educação, respectivamente, que tinham alta aprovação nas redes, mas foram exonerados.
Apesar disso, Varella entende que há uma soma de fatores que podem dar às mídias sociais algum um grau de importância na tomada de decisão política de Bolsonaro. “Um ministro forte e popular nas redes tem, sim, prestígio com a base bolsonarista e isso o fortalece junto ao presidente, Mas, por outro lado, suas ações políticas também vão definir seu gozo com o Congresso, que é igualmente importante. É uma soma das duas coisas”, analisa.
Pela temperatura política e das redes sociais, um dos ministros mais cotados para sair na reforma ministerial é Onyx Lorenzoni, do Ministério da Cidadania.
De três interlocutores ouvidos pela Gazeta do Povo, um diz que ele “pode ser que saia”. Outro diz que “com certeza” vai sair. E o outro afirma que “deve sair”. A situação dele, explicam, já era de indefinição antes da proximidade com as eleições no Congresso. “Já tem um tempo que ele balança no cargo”, explica uma das fontes.
A situação de Lorenzoni é ainda mais crítica pelo ministério que ocupa. A Cidadania, que operacionalizou junto à Caixa Econômica Federal o auxílio emergencial e cuida dos programas sociais do governo, executou só em 2020 R$ 330,65 bilhões por causa da pandemia. Em 2021, quando as políticas assistenciais continuarão em destaque, o Centrão já deixou claro ao governo seu interesse pela pasta.
Além do alinhamento de forças no Congresso entre Bolsonaro e o Centrão, joga contra Lorenzoni sua desidratação nas redes sociais. Apesar de figurar com um IPD acima da média dos ministros no acumulado do ano, ele vem perdendo popularidade nas mídias.
Em setembro, quando estava em alta no auxílio emergencial, atingiu o pico de sua popularidade, em 49,5 pontos, mas principalmente por ter usado as mídias para dizer que havia contraído a Covid-19 e fez a propaganda do “kit Covid”. Nos meses seguintes, contudo, sua pontuação despencou, chegando a 21,34 pontos em outubro.
A desidratação de Lorenzoni junto à base bolsonarista nas redes sociais é, para Varella, algo que pode ajudar Bolsonaro em sua decisão de demitir o ministro da Cidadania. “A sobrevida de Onyx se deu, prioritariamente, em pautas ideológicas e no auxílio emergencial. Nos últimos meses, vemos que nem a base bolsonarista o mantém em evidência”, analisa.
Ministérios da Saúde e Educação estão na mira da reforma
Da mesma forma que o apoio popular nas redes pode ajudar alguns ministros, sua baixa atividade e até inatividade em alguns canais pode enfraquecê-los. Com baixo — ou sem — apoio popular da base bolsonarista, ministros como o da Saúde, Eduardo Pazuello, e da Educação, Milton Ribeiro, serão alvos fáceis na reforma ministerial.
É dito nos bastidores que o PP, partido do líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), deseja indicar um sucessor no Ministério da Saúde tão logo a dinâmica da gestão esteja no “modo automático” e uma troca no comando não prejudique o plano nacional de imunização.
O mesmo vale para o Ministério da Educação, sobretudo em um momento em que a regulamentação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) voltou ao debate. Em dezembro, a Câmara aprovou o texto sem as emendas que destinariam recursos do fundo para escolas confessionais, comunitárias, filantrópicas e do Sistema S. O Centrão e o Novo ainda tentaram restaurar parte das regras para reincorporar o repasse, mas foram voto vencido.
Nos bastidores, o governo articula a edição de uma Medida Provisória (MP) para resgatar esses pontos. Dentro desse debate, lideranças partidárias do Centrão e o governo discutem a necessidade de uma atuação mais forte do Ministério da Educação no Congresso. Para isso, a demissão de Ribeiro não está descartada.
Os interlocutores do Planalto procurados pela Gazeta do Povo assumem que trocas nos ministérios da Saúde e Educação podem ocorrer. “Até porque entrou com uma missão transitória, Pazuello deve sair”, diz uma fonte.
“O Milton nós sabemos pouca coisa. Todo dia ele vai [para o Ministério], pendura o terno dele, trabalha, pega o terno e vai embora. Ninguém sabe o que ele faz, apenas que comparece. Mas é pouco, não tem visibilidade. Olha o que aconteceu com o Fundeb”, critica um assessor. “É possível que ele [Ribeiro] seja outro a sair”, acrescenta.
A Secretaria de Governo é outro ministério que pode entrar na reforma, segundo as fontes. O titular da pasta, Luiz Eduardo Ramos, o articulador político, pode ceder o posto para algum aliado do Congresso e assumir a Secretaria-Geral no lugar de Jorge Oliveira, que assumirá o posto de indicação pessoal do presidente da República no Tribunal de Contas da União (TCU) em 2021. É algo discutido dentro do Planalto, mas seus interlocutores negam.
Reforma ministerial é chance para alinhar forças políticas para 2022
Além de Damares, os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, considerados da “ala ideológica”, devem manter seu posto em 2021. Salles é um dos mais pressionados, mas, até segunda ordem, permanece no cargo, mesmo com a perda de força da rede bolsonarista nas mídias sociais nos últimos dois meses.
O mesmo vale para o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. “Apesar de ‘meia Esplanada' [dos Ministérios] desejar o Salles fora, e o Centrão querer o Bento fora, os dois devem ficar”, diz um interlocutor palaciano.
O cientista político Gianluca Benvenutti, especialista em poder Legislativo da BMJ Consultores Associados, acredita que cada caso será analisado com muito critério por Bolsonaro. “Aprendemos olhando as trocas no Ministério da Saúde que o Bolsonaro não gosta de ministros que apareçam. Para ele, é mais importante ter alguém que consiga controlar do que alguém do Centrão. Então, quem sai e quem entra será um cálculo político muito analisado por ele”, avalia.
Apesar disso, Benvenutti não tem a menor dúvida de que a reforma ministerial acontecerá. Ele cita que 2021 é um ano pré-eleitoral, quando o Orçamento é muito disputado por prefeitos em busca de projetos de política pública.
E considerando que Bolsonaro avalia se filiar a um partido do Centrão, distribuir cargos no primeiro escalão pode ajudá-lo a ampliar sua força nos municípios de olho nas eleições de 2022. “Tivemos um crescimento dos partidos do Blocão nessas eleições municipais. Então, esses partidos vão lutar por recursos e cargos nos ministérios mais requisitados, com mais Orçamento, e Bolsonaro também pode se aproveitar disso”, diz.
Metodologia do ranking
O Índice de Popularidade Digital (IPD) é uma ferramenta de inteligência artificial que avalia a popularidade na internet a partir de cinco fontes de dados diferentes. Para cada ministro analisado, a Quaest extrai métricas diferentes de três redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter). A partir disso, essas métricas são posteriormente agregadas em seis “dimensões analíticas”:
- Presença digital: mensura o número de redes sociais ativas;
- Fama: mensura o público total nas redes sociais e sua capacidade de crescimento dela;
- Engajamento: mensura o volume de reações e comentários ponderados por número de postagem nas redes sociais;
- Mobilização: mensura o total de compartilhamentos de conteúdos nas redes sociais;
- Valência: mensura a proporção proporção de reações positivas por reações negativas no Facebook;
A partir de um “modelo de aprendizado de máquina”, explica a Quaest, a empresa determina os pesos de cada métrica e de cada dimensão, de onde se calcula o IPD. Ao final, os ministros são comparados e posicionados em uma escala de 0 a 100, onde 100 indica o máximo de popularidade no meio digital.
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