Para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso, os atos ocorridos no 8 de janeiro são uma mistura de "religião, ódio e falta de civilidade". A declaração foi feita em entrevista ao canal CNN Brasil e ocorre dias antes de um ato programado pelo governo, pelo Supremo Tribunal Federal pelo Congresso Nacional para lembrar os protestos nas sedes dos Três Poderes.
"Uma das coisas que mais me impressionou no relato dos seguranças, da Polícia Judicial, é que as pessoas misturaram ódio com religiosidade. Eles quebravam tudo com uma violência e depois rezavam. Essa foi uma novidade, uma patologia, no Brasil: a mistura de religião com ódio e agressividade, que evidentemente é uma contradição em termos", disse.
Mas a fala do ministro é genérica e não traz nenhuma evidência de que os manifestantes que rezaram foram os mesmos que cometeram atos de vandalismo, embora essa hipótese não possa ser descartada em casos específicos.
"A espiritualidade, que não é o mesmo que religião, é uma coisa pacífica, é uma coisa do bem, harmoniosa. E você estava vendo ali pessoas totalmente desencontradas, espiritualmente. Deus ali não estava presente, não estava ajudando", disse Barroso em entrevista ao canal CNN Brasil.
Barroso disse que o ódio foi disseminado a partir do 8 de janeiro e que afirmou que os demônios foram liberados naquele dia.
"O ódio se disseminou aliado à incivilidade. Eu acho que o maior legado desses últimos tempos é essa mistura: ódio, com religiosidade e falta de civilidade. Todo mundo se sente no direito de desrespeitar alguém que não gosta. Isso aconteceu com o ministro Alexandre (de Moraes), aconteceu comigo. É como se os demônios tivessem sido liberados. E por tanto, as pessoas agressivas, racistas, misóginas, homofóbicas, anti-ambientalistas, saíram à luz do dia empoderadas. Vai ser um processo complexo em fazer com que as pessoas recuperem a civilidade", afirmou o ministro.
O presidente da Corte também culpou a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e as Forças Armadas pela invasão ocorrida nos prédios.
“Houve uma imensa falha no serviço de inteligência, tanto da polícia quanto dos militares. Ou se não foi falha no serviço de inteligência, foi cumplicidade. O que seria pior ainda. Então houve falha no serviço de inteligência e houve falha das forças de segurança. A PM não estava na rua, nem chegou há tempo razoável. Nem o batalhão presidencial. Ali houve uma mistura de omissão, incompetência e cumplicidade”, disse.
O magistrado também alegou que houve um processo de politização das Forças Armadas, mas que já teria sido desfeito.
“Acho que houve um processo indevido de politização, já desfeito, diga-se de passagem, mas houve um momento muito difícil. Eu mesmo como presidente do TSE prestigiei as Forças Armadas, porque é uma instituição prestigiada da sociedade brasileira. Convidei-os para participar da Comissão de Transparência para dar transparência e para que ajudassem na segurança, mas, por orientação do comandante, do chefe, eles na verdade ficaram levantando suspeitas de criando suspeitos. Um comportamento muito decepcionante. Fiquei verdadeiramente mal, porém a verdade é que depois eles tiveram que fazer um relatório e dizer: ‘não achamos nada’”, finalizou.
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