O ex-juiz Sergio Moro será candidato nas eleições de 2022 pelo Podemos e todos os sinais emitidos nos últimos dias confirmam isso. O partido divulgou convite para o ato de filiação de Moro, que acontecerá na próxima quarta-feira (10), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. O ex-juiz também intensificou, com o apoio da presidente do Podemos, Renata Abreu, o diálogo com possíveis aliados. Entre eles, o União Brasil, o partido que surge da fusão entre o PSL e o DEM.
Moro e o Podemos sabem que, sozinhos, não conseguirão emplacar uma candidatura politicamente viável que unifique a pulverizada terceira via. O cálculo feito pelo ex-juiz e por dirigentes de seu futuro partido é que, com o apoio do União Brasil, a "menina dos olhos" do atual quadro político-eleitoral, uma candidatura robusta pode sair do papel.
Para isso, Moro e Renata Abreu se aproximaram do vice-presidente nacional do PSL, o deputado federal Júnior Bozzella (SP), que é simpático à ideia de unir forças com o ex-ministro da Justiça. A estratégia dos três é aproximar Moro da classe política e de lideranças e representantes dos setores financeiro e produtivo. A ideia é que ele inicie o mais rápido possível uma rodada de reuniões, almoços e jantares intermediados por Renata e Bozzella.
O ex-juiz desembarcou em Brasília nesta quarta-feira (3) com esse intuito, conforme registrou o site O Antagonista. Uma das possíveis agendas é justamente um encontro reservado com parlamentares do PSL.
O que Moro tem feito para vencer resistências a seu nome
As conversas entre Moro e parlamentares com a intermediação de Bozzella e Renata amadureceram nas últimas semanas. O ex-juiz foi estimulado a ter essas conversas e explicar seu ponto de vista político após consultar congressistas do Podemos.
De Washington (EUA), onde mora atualmente, Moro fez ligações a deputados federais do PSL e do DEM indicados por Bozzella. A eles, o ex-juiz demonstrou interesse em participar das eleições de 2022. "Falei para ele da importância de fazermos uma união com o centro democrático, reformista, e aí eu citei o União Brasil", revela um deputado aliado do Podemos.
O incentivo dado por aliados a Moro deu certo. E alguns parlamentares de DEM e PSL aceitaram o convite do ex-juiz para um almoço. A expectativa é que participem congressistas de Podemos e do União Brasil.
A avaliação feita por parlamentares com quem Moro tem conversado e com outros convidados para os encontros é de que o ex-juiz tenta construir um relacionamento que o ajude a romper o isolamento político. "Moro é o nome que mais tem condições de fazer a ruptura da polarização [entre Lula e Jair Bolsonaro], mas ele ainda precisa quebrar essa rejeição que a classe política tem contra ele", diz um deputado do União Brasil.
Os deputados que conversaram com Moro dizem ainda que ele tem demonstrado um perfil conciliador e de centro-direita. "Ele sabe que precisa de alianças para ganhar a eleição e para governar", afirma um parlamentar que conversou com o ex-juiz. "Eu senti que ele quer participar das eleições com um perfil que dá segurança jurídica a todos os investidores, de defesa à imprensa livre, à democracia e às reformas econômicas, mas sem as ideologias dos extremos", acrescenta o deputado.
Como estão as conversas entre Moro e o mercado financeiro
A agenda com parlamentares do Congresso não é a única prevista por Moro. O ex-juiz também poderá se reunir com representantes do setor financeiro. Há negociações para que se reúna, por exemplo, com o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney. Júnior Bozzella e Renata Abreu tem procurado aproximar seu pré-candidato de dirigentes do setor e banqueiros.
O "cortejo" ao setor financeiro é um processo de praxe entre todos os candidatos em qualquer campanha eleitoral. As próprias instituições financeiras costumam sondar os candidatos e financiar pesquisas eleitorais para ter um panorama do cenário político-eleitoral a fim de orientar seus clientes e investidores.
Aliados de Moro confirmam as articulações para aproximar Moro do setor financeiro e avaliam que os próprios bancos estão interessados em ouvi-lo após sondagens eleitorais.
Além do setor financeiro, Moro também planeja se encontrar com representantes do agronegócio. Um interlocutor afirma que cooperativas agrícolas e algumas entidades ligadas à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) manifestaram o interesse em se aproximar do ex-juiz e e conhecer suas propostas para 2022.
"A pauta dele [Moro] agora é a economia", diz um interlocutor do ex-juiz. A ideia de buscar um diálogo até mesmo dentro de setores em que Bolsonaro tem um apoio mais consolidado, como o agronegócio, faz parte da estratégia da agenda econômica. "Neste momento, precisamos apresentar uma boa política econômica. O foco da campanha deve ser tirar o povo da pobreza extrema", afirma um deputado do Podemos.
O que leva os partidos a acreditarem que o ex-juiz pode liderar a 3.ª via
A avaliação feita no Podemos é que, se bem sucedida, a aproximação de Moro com a classe política e o setor econômico pode ser o início de um processo amplo de articulação que o credencie como o candidato mais forte da terceira via.
Caso consiga romper a rejeição no meio político e convencer agentes dos setores financeiro e produtivo de seu projeto eleitoral, os partidos entendem que Moro terá tudo para aliar o discurso econômico ao da segurança pública e combate à corrupção. E, assim, tornar sua candidatura mais atrativa entre eleitores e políticos.
"Moro tem tudo para ter os ingredientes que encantam na eleição. Ao mesmo tempo que é equilibrado, é um cara que é caçador de corrupto", diz um deputado que foi contatado pelo ex-juiz. "Se juntar uma equação política razoável de economistas, empresários e partidos, ele vai reunir essa condição de encantamento social em um discurso forte que vai juntar a segurança pública e o combate à corrupção com o enfrentamento da fome e pobreza."
Para parlamentares aliados de Moro, a junção desses fatores pode inibir outros nomes a manterem sua candidatura e, assim, favorecer a construção de um centro aglutinado em torno da candidatura do ex-juiz. Alguns acreditam na possibilidade de uma composição com o PSDB, sobretudo caso o governador gaúcho Eduardo Leite ganhe as prévias tucanas. Mas veem com incertezas as chances de o ex-juiz se coligar com o PSD, que lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ao Planalto.
Entretanto, alguns mais céticos do Podemos e do União Brasil questionam a viabilidade da candidatura de Moro. Eles entendem que o presidente nacional do DEM, ACM Neto, possa tentar influenciar as articulações em andamento em favor de uma aliança do União Brasil com o tucano Eduardo Leite na disputa presidencial. ACM Neto já classificou o governador do Rio Grande do Sul como "mais agregador".
Já deputados do PSL mais próximos de Júnior Bozzella entendem que as conversas com Moro fluem com o aval do presidente nacional do PSL e do futuro União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE). "O comando nacional do partido [União Brasil] é nosso, e o Bozzella é o homem de confiança do Bivar. As conversas não estariam no estágio atual sem o aval da presidência", sustenta um parlamentar.
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