A negociação entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e bancada do PT para o apoio ao nome de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Casa abriu um novo racha entre os deputados petistas. O embate envolve a promessa feita por Lira de apoiar um nome do partido para uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
Dos nove ministros que integram o TCU, três são de indicação da Câmara dos Deputados, três ficam com o Senado e os demais são indicações do Presidente da República. Os ministros Aroldo Cedraz e Augusto Nardes deverão se aposentar em 2026 e 2027, respectivamente, quando atingem a idade de 75 anos.
Ambas as vagas são de indicações dos deputados e entraram no balcão de negociações entre Lira e o PT na busca pela sucessão da Câmara. “Não tem a vaga. Se houver, o PT solicitou, sim, a indicação da bancada deles. Eles reclamam politicamente que nunca tiveram um representante no TCU", admitiu Lira em entrevista à Folha de S. Paulo.
Essa promessa de apoio feita por Lira abriu no PT uma disputa interna para o nome que será indicado. Entre os principais cotados estão os deputados Gleisi Hoffmann (PR), atual presidente da sigla, e Odair Cunha (MG), líder da bancada na Câmara. Apesar do acordo feito com o atual presidente da Câmara, o nome que for escolhido precisará passar pelo crivo da maioria do plenário.
Racha interno no PT começou já no apoio a Hugo Motta
Petistas admitem reservadamente que a disputa interna entre os dois parlamentares do PT começou antes mesmo de o apoio da bancada ao nome de Hugo Motta ser formalizado. Dos 68 deputados do partido, ao menos 20 eram contrários ao nome indicado por Arthur Lira para o comando da Câmara.
“Nós tivemos um processo de debate interno na bancada [do PT], que não foi só de dois dias, se constrói um processo de alguns meses de diálogo aberto, franco, sincero, sobre o funcionamento da Casa, sobre os espaços de representação, sobre o papel da bancada do Partido dos Trabalhadores", minimizou Odair Cunha.
O encontro que formalizou o aval ao nome de Motta foi justamente comando por Odair Cunha e Gleisi Hoffmann e aconteceu sem a presença dos petistas contrários. Dentro do partido, uma ala acredita que a indicação de Gleisi para o TCU teria mais dificuldades para ser aprovada e dependeria de uma articulação direta por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Por outro lado, o deputado Odair Cunha já é visto internamente como um nome com mais trânsito entre os deputados do Centrão, justamente pelo papel de líder da bancada. Ele, no entanto, não conta com uma proximidade com o presidente Lula.
Além desses nomes, outros integrantes também são especulados dentro do partido, como o líder do governo, José Guimarães (CE), o deputado Reginaldo Lopes (MG) e os ministros do governo, como Luiz Marinho (Trabalho) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário). Os dois chefes de pasta são deputados e estão licenciados do cargo desde o início do governo.
Indicação para o TCU é vista como "prêmio" para os deputados
Internamente, os líderes do PT admitem que o nome que for escolhido precisa ter a viabilidade de ser aprovado em plenário. Em 2005, o partido indicou José Pimentel (CE), mas foi derrotado. No ano seguinte, Paulo Delgado (MG) também teve a indicação rejeitada.
Preterido na disputa pela sucessão na Câmara, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), lembrou dessas derrotas e afirmou que a negociação do PT com Arthur Lira seria como “vender terreno na lua” - ou seja, ilusório. Apesar disso, a bancada petista optou por embarcar na candidatura apoiada por Lira.
Ao jornal O Globo, Cunha admitiu a negociação com Lira pela vaga no TCU, mas alegou que a opção pela candidatura de Hugo Motta teve como objetivo manter a "governabilidade e a estabilidade institucional com uma disputa menos acirrada na Casa". "O TCU foi colocado no bojo desse conjunto de preocupações, intenções, que a bancada sente-se no direito de reivindicar. O TCU não foi um elemento central da decisão", disse o líder do PT.
Na justificativa, Odair Cunha alegou que o acordo respeita o tamanho da bancada do PT. "O que o PT reivindica é que seu tamanho e seu espaço sejam respeitados. Que nós não sejamos vítimas de um processo de blocagem contra o PT. Porque se as forças se unem contra o PT, pode reduzir o papel e a importância do partido", afirmou ao O Globo.
A vaga para o TCU costuma ser negociada nas disputas da Câmara e do Senado e é vista como um prêmio aos parlamentares em troca de apoio. Em 2021, por exemplo, o então senador Antônio Anastasia (MG), do PSD, foi indicado pelo Senado na articulação para eleger Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para o comando da Casa.
Na Câmara, a última indicação feita pelos deputados foi em 2022, quando Jonathan de Jesus, do Republicanos, foi aprovado com o apoio do PT. Agora, petistas admitem que pretendem cobrar o apoio para o nome que for escolhido pelo Partido dos Trabalhadores na eventual gestão de Hugo Motta no comando da Casa.
Além de um salário de R$ 40 mil, o ministro do TCU tem como prerrogativa avaliar a prestação de contas dos presidentes da República. Em 2015, a Corte reprovou as contas de Dilma Rousseff (PT) no caso das "pedaladas fiscais", o que posteriormente embasou o pedido de impeachment da petista.
Os ministros do TCU também fiscalizam contratos de obras e atuam nos processos de privatização. A Corte ainda é responsável por mediar acordos em renegociações de contratos entre empresas e o poder público.
STF abre brecha para anulação de milhares de condenações por improbidade administrativa
“PL da Censura” repaginado: o projeto do PT para regular as redes sociais; acompanhe o Entrelinhas
Musk promete “máxima transparência” à frente de departamento no governo Trump
“ADPF das Favelas” caminha para o fim, mas deixa precedentes graves de ativismo judicial pelo STF
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião