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Oposição quer CPI para investigar milícia digital do governo Lula
Lula em reunião com influenciadores digitais no Palácio do Planalto em fevereiro de 2023| Foto: Ricardo Stuckert / PR

Parlamentares da oposição se articulam em várias frentes para pedir a investigação da estrutura que teria sido montada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tentar influenciar o debate nas redes sociais favoravelmente à gestão petista. Entre as ações estão a coleta de assinaturas para uma CPI, uma representação ao Tribunal de Contas da União (TCU), e ainda o pedido para que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), inclua os envolvidos no inquérito das milícias digitais.

Com relação à primeira ação, o deputado Filipe Barros (PL-PR), líder da oposição na Câmara dos Deputados, afirmou, nesta quarta-feira (12), que está coletando assinaturas para abrir uma CPI com o objetivo de investigar a criação do que a oposição tem chamado de "milícia digital" no governo Lula. De acordo com o parlamentar, o objetivo dela seria perseguir a imprensa, os parlamentares da oposição e os cidadãos que criticam a gestão de Lula nas redes sociais. A declaração foi dada durante entrevista coletiva que reuniu deputados e senadores da oposição.

De acordo com os parlamentares presentes, até o momento já foram coletadas cerca de 60 assinaturas para a abertura da CPI. Além disso, eles afirmaram que a oposição tomará todas as medidas cabíveis em relação às denúncias, como a convocação dos envolvidos para prestar esclarecimentos ao Congresso.

Já o senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, entrou com uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU), na terça-feira (12), para solicitar a apuração sobre as suspeitas que envolvem o Palácio do Planalto, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), agências de publicidade contratadas pelo governo e influenciadores digitais.

A representação de Marinho e a coleta de assinaturas para abertura de CPI foram feitas em resposta a uma série de reportagens que estão sendo publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo desde a segunda-feira (10). Conforme a apuração do jornal, o governo teria criado um grupo com a finalidade de influenciar e direcionar o debate nas redes sociais, divulgando suas medidas e atacando parlamentares da oposição, bem como veículos de imprensa que publiquem reportagens críticas ao governo.

Na coletiva, a deputada Bia Kicis ainda afirmou que a oposição também solicitou ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que inclua as pessoas citadas nas denúncias feitas pelo Estadão no inquérito das milícias digitais. “Nós não concordamos com o inquérito, mas concordamos menos ainda que só um espectro político seja investigado e perseguido”, afirmou.

O ex-presidente Jair Bolsonaro também comentou as acusações em seu perfil no X. Ele disse que após a décima prorrogação do inquérito das milícias digitais, aberto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, e que se arrasta desde julho de 2021, nada é feito contra a esquerda. O ex-presidente ainda afirmou que está ansioso pela “investigação da milícia digital do PT, revelada por eles mesmos todos os dias”.

Gabinete teria sido criado para divulgar governo e perseguir oposição

A suposta "milícia digiltal" criada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agiria por meio da Secom, em articulação com o Palácio do Planalto, lideranças governistas no Congresso e influenciadores digitais. Os principais articuladores da estratégia estariam em uma equipe autodenominada “gabinete da ousadia”, composta por especialistas em redes sociais, que atuou pelo PT na campanha digital de Lula nas eleições de 2022, ainda de acordo com o Estadão. Mesmo com o fim das eleições, o grupo foi mantido e seus integrantes se comunicam por um grupo homônimo no WhatsApp.

A denominação "gabinete da ousadia” seria uma referência à estrutura atribuída à gestão de Jair Bolsonaro (PL) e que foi chamada de "gabinete do ódio" pela esquerda.

Na representação enviada ao Tribunal de Contas da União, o senador Rogério Marinho afirmou que o gabinete “funcionaria com o aporte de recursos públicos e privados e teria a missão de criar, divulgar e organizar movimentos de propagação de notícias falsas e disparos em redes sociais contra adversários políticos do Governo Lula e instituições diversas”.

Em seu perfil no X, o líder da oposição no Senado disse que há suspeitas de aparelhamento do Estado e culto à personalidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O presidente fala muito em combater fake news, mas os fatos indicam que é o PT quem promove fake news e ataques a adversários políticos. Afinal, é o PT que lançou uma megalicitação para contratar serviços digitais e produzir relatórios sobre todos os cidadãos brasileiros, um risco à integridade e à democracia”, escreveu.

As denúncias começaram a ser apuradas após as declarações do deputado petista Jilmar Tatto (PT-SP) que, durante um evento interno do PT, teria afirmado que eram feitas reuniões diárias para pautar os temas e as abordagens sobre o governo para divulgação nas redes sociais. Ele também teria dito que, quando necessário, influenciadores digitais eram acionados para auxiliar na estratégia.

Após a divulgação das acusações, a Secom emitiu nota na qual afirma que não é verdade que mantenha uma versão petista do "gabinete do ódio". A Secretaria afirmou que o jornal O Estado de S. Paulo "faz uma abordagem sensacionalista e enviesada que distorce os fatos" e que a reportagem "tenta, por meio de ilações, criminalizar ações de gestão e serve ao único propósito de dar munição à oposição".

Já Paulo Pimenta (PT), que foi ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) até o mês de maio, participou de audiência pública na Câmara dos Deputados, na terça-feira (11), mas se recusou a responder às perguntas sobre as denúncias.

A deputada Bia Kicis (PL-DF), da oposição, afirmou nunca houve gabinete do ódio ou articulação no governo Bolsonaro para manipular o debate público. O filho do ex-presidente e vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL), também criticou a comparação com a gestão anterior.

Estratégia incluiria reuniões diárias e acionamento de influenciadores

As declarações atribuídas ao deputado Jilmar Tatto (PT-SP), que também ocupa o cargo de secretário nacional de Comunicação do partido, em dezembro do ano passado, foram o ponto de partida para as denúncias. Durante o evento, Tatto teria afirmado que “para fazer disputa política com nossos adversários” seria necessária uma comunicação com “metodologia”, “ciência”, “expertise” e que esse trabalho “não é de graça”.

O deputado ainda teria relatado que, diariamente, por volta das 8h30, eram realizadas reuniões com integrantes da Secom, do PT nacional, das lideranças do partido no Congresso e da equipe do “gabinete da ousadia” para definir as estratégias digitais. Os participantes debatiam os temas e as abordagens para que as publicações tivessem o maior alcance possível nas redes em que o PT e o governo atuam. Para tanto, também avaliavam possíveis acionamentos de influenciadores digitais.

Tatto também mencionou que em determinadas situações a estratégia inclui referências e ataques à família Bolsonaro e respostas a reportagens da mídia profissional. “A gente faz o monitoramento de rede. Se a gente sentir que é necessário responder, a gente responde”, concluiu.

O petista disse já ter feito reuniões com influenciadores para buscar manter um canal de comunicação. A ideia é que eles abracem a estratégia digital do governo e, portanto, divulguem os temas considerados mais relevantes.

Em relação à imprensa, Tatto explicou que “basta que as reportagens exponham erros ou omissões do governo, que os influenciadores entram em ação para atacar os emissores”.

Em sua nota, a Secom reconheceu que realiza reuniões eventuais entre seus funcionários e as áreas de comunicação das lideranças governistas na Câmara e no Senado, com o objetivo de "fazer fluir as informações da gestão, incluindo novos lançamentos e entregas". O órgão nega que influenciadores participem das reuniões ou que haja discussões sobre “ataques a críticos e desqualificação da imprensa”.

A estratégia do gabinete do governo ainda envolveria a propagação de mensagens favorecendo Lula e seus aliados em grupos de WhatsApp. Influenciadores aliados ao governo também teriam suas publicações promovidas. Por outro lado, informações que atacam e deslegitimam adversários do lulismo, como Jair Bolsonaro, seus familiares e apoiadores, também seriam divulgadas, de acordo com a apuração do jornal O Estado de S. Paulo.

Os debates e a troca de informações nos grupos seriam controlados por coordenadores. Além de moderar comentários, eles convocariam mutirões para fazer denúncias contra “desinformação” por exemplo. Ainda há mensagens dizendo em quais informações e em quem devem acreditar.

Outra vertente operacional seria a dos influenciadores digitais que atuam publicando vídeos e posts pró-governo, e atacando os adversários de Lula. De acordo com as denúncias, Thiago dos Reis é um deles.

Desde 2019, o influenciador atua, conforme ele próprio explica em seus vídeos, com o objetivo de "defender a democracia". Para tanto, em seus vídeos e publicações defende Lula, aliados e o governo, e ataca abertamente quaisquer ações da oposição, principalmente da família Bolsonaro. Reis possui perfis no Youtube, Instagram e Facebook, nos quais tem 1 bilhão de visualizações.

Em vídeo no qual responde às acusações de que integraria o “gabinete da ousadia”, o que ele nega de forma enfática, afirma que mora fora do Brasil há anos e que nunca recebeu dinheiro do governo para realizar seu trabalho. Ele também nega que tenha propagado fake news em seu canal e explica o conteúdo dos vídeos pelos quais teria sido acusado de desinformação.

A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com o influenciador Thiago dos Reis, mas, até a publicação do texto, não recebeu resposta. A assessoria de comunicação do PT afirmou que não iria se manifestar, pois não havia denúncias contra o partido. O deputado Jilmar Tatto também foi procurado e preferiu não se manifestar.

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