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Fraudes no INSS

PF aponta cinco repasses de R$ 300 mil do Careca do INSS a empresa de amiga de Lulinha

PF investiga mensagens suspeitas de Carlos Antunes, o Careca do INSS e amiga do filho do presidente Lula (Foto: Carlos Moura / Agência Senado)

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A Polícia Federal investiga cinco pagamentos de R$ 300 mil feitos pelo empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, à empresa de Roberta Luchsinger, amiga de Fábio Luís da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação aparece em uma decisão do ministro do STF André Mendonça que autorizou a mais nova fase da operação Sem Desconto, lançada pela PF nesta quinta-feira.

Nos diálogos analisados pelos investigadores, o empresário afirma que o destinatário dos valores seria “o filho do rapaz”, sem especificar a quem se referia. O nome de Fábio Luis da Silva não aparece no documento e ele não é formalmente investigado. O filho do presidente e Roberta são amigos, segundo afirmou em outubro à reportagem a defesa de Lulinha. A defesa de Roberta diz que ela "jamais teve qualquer relação com descontos do INSS".

Em uma das mensagens trocadas entre Roberta e Antunes, a empresária tenta tranquilizar o careca do INSS dizendo: "na época do Fábio falaram de Friboi, de um monte de coisa o (sic) maior… igual agora com você". A decisão de Mendonça não espeficica se o Fábio referido é o filho do presidente.

Em 4 de dezembro, a CPMI do INSS chegou a votar um requerimento de convocação de Fábio para apurar um possível envolvimento dele no esquema, mas parlamentares governistas conseguiram barrar o pedido. Após a operação desta quinta-feira, parlamentares do Novo, membros da CPMI, apresentaram um novo pedido de convocação de Lulinha.

Segundo um relatório da Polícia Federal mencionado na decisão, uma consultoria ligada ao Careca do INSS transferiu ao menos R$ 1,5 milhão à empresa de Roberta Luchsinger, herdeira de um banqueiro e pessoa próxima ao PT, em cinco repasses sucessivos de R$ 300 mil.

Roberta Luchsinger foi alvo de busca e apreensão e passou a usar tornozeleira eletrônica na nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada nesta quinta-feira (18). De acordo com a Polícia Federal, o Careca do INSS orientou um funcionário a realizar os pagamentos à empresa da empresária, vinculando os valores a um terceiro identificado apenas como “o filho do rapaz”.

Em outros trechos citados no relatório, referente a mensagens trocadas em 29 de abril de 2025, Roberta escreve ao empresário: “E só para vc saber, acharam um envelope com nome do nosso amigo no dia da busca e apreensão”. Na sequência, segundo a PF, Antônio Camilo responde demonstrando preocupação: “PUTZ”.

Ainda no mesmo dia, Roberta envia outra mensagem ao Careca do INSS com a orientação: “E Antônio, some com esses telefones. Joga fora”.

Dias depois, em 5 de maio de 2025, Roberta encaminha o ao empresário mencionado um nome Fábio relacionado à Friboi. Em 2015, Fábio Luís da Silva processou políticos por relacionarem sem provas seu nome à empresa Friboi.

Para os investigadores, a menção a "Fábio" ilustra como os supostos líderes do esquema continuaram a se comunicar e a planejar a continuidade dos ilícitos mesmo após a deflagração da operação policial.

Em nota enviada ao jornal Estado de São Paulo, a defesa de Roberta Roberta Luchsinger disse que a empresária “jamais teve qualquer relação com descontos do INSS” e afirmou que ela foi procurada por Antônio Camilo para atuar na regulação de empresas de canabidiol.

“Cumpre esclarecer que os negócios se mantiveram apenas em tratativas iniciais e não chegaram a prosperar. Cumpre esclarecer, ainda, que mencionadas tratativas se deram em momento anterior às revelações dos desvios de descontos do INSS e da participação de Antônio Carlos Camilo Antunes nas investigações”, afirmou.

PF apura acusação sobre “mesada” feita por ex-assessor

Apesar de não constar na decisão de Mendonça, o ex-assessor do Careca, Edson Claro, alegou à PF que teria recebido pagamentos mensais próximos de R$ 300 mil, descritos como uma espécie de “mesada”. A denúncia foi publicada originalmente pelo portal Poder360 com base em informações da testemunha à PF e que foram levadas aos integrantes da CPMI.

O montante total movimentado poderia alcançar R$ 25 milhões. Ainda segundo o depoimento, o filho do presidente Lula e o “Careca do INSS” teriam realizado viagens juntos a Portugal — uma delas, segundo o depoente, teria sido um voo de Guarulhos a Lisboa, em novembro de 2024.  

De acordo com os registros do voo Latam JJ–8148, publicados pelo portal Metrópoles, Camilo Antunes viajou na poltrona 3A, enquanto Lulinha ocupou o assento 6J — ambos localizados na primeira classe e posicionados na janela da aeronave.

Edson Claro também relatou à PF que os repasses estariam relacionados às atividades da World Cannabis, que tinha planos de atuação no mercado de cannabis medicinal, especialmente em Portugal.

Relação com lobista levou Lulinha a ser citado nas investigações do INSS

As primeiras menções ao nome de Lulinha no âmbito das investigações surgiram a partir de sua relação com Roberta Luchsinger. O vínculo entre os dois apareceu nos relatórios da Polícia Federal no momento em que as investigações avançaram sobre o círculo de relações pessoais e profissionais de Camilo Antunes.

Antes da nova fase da Operação Sem Desconto, os investigadores já haviam notado contato entre os dois, o que levou parlamentares da CPMI do INSS a questionarem um possível envolvimento do filho de Lula.

No contexto do escândalo INSS, Roberta passou a ser citada por sua atuação junto à DuoSystem, empresa investigada por fornecer a infraestrutura tecnológica que permitia descontos em folha de aposentados e pensionistas. Documentos indicam que ela também atuou ao lado de Camilo Antunes em agendas de lobby no Ministério da Saúde, defendendo interesses empresariais distintos, mas frequentando os mesmos espaços institucionais.

Conversas apreendidas pela Polícia Federal e contratos de consultoria firmados por Roberta com empresas ligadas ao “Careca do INSS” levantaram suspeitas sobre possível tráfico de influência — acusações que ela nega. Foi nesse contexto que encontros e contatos dela com Lulinha passaram a constar nos relatórios de investigação, sem que fosse atribuída participação direta do filho do presidente nas fraudes.

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