O procurador-geral da República, Paulo Gonet, entrou com um recurso nesta segunda-feira (5) para derrubar a decisão do ministro Dias Toffoli que suspendeu o pagamento da multa de R$ 10,3 bilhões do acordo de leniência da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Gonet busca manter o acordo e suas cláusulas, contestando a decisão do magistrado.
No recurso a que o jornal O Globo teve acesso e que foi confirmado à Gazeta do Povo pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Gonet solicitou a Toffoli a redistribuição do caso para outro ministro do Supremo, a reconsideração da liminar ou o envio da controvérsia para o plenário. Uma ação movida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), originalmente sem relação com a J&F, motivou a contestação do acordo.
O processo visava garantir à defesa do presidente o acesso a dados do acordo de leniência da Odebrecht e aos arquivos da Operação Spoofing, que investigou a invasão de celulares de autoridades ligadas à antiga força-tarefa da Operação Lava Jato, como o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR) e o ex-procurador Deltan Dallagnol.
A Gazeta do Povo entrou em contato com o STF para ter uma posição do ministro Dias Toffoli sobre o recurso encaminhado por Gonet e aguarda retorno.
Segundo a PGR, as informações correm em sigilo e os detalhes não puderam ser confirmados à reportagem.
No entanto, segundo o despacho obtido pela GloboNews, Gonet argumenta que as circunstâncias que levaram à suspensão do pagamento da multa bilionária da Odebrecht são diferentes dos que beneficiaram a J&F, a começar pelos agentes públicos que realizaram as tratativas.
“O acordo de leniência celebrado pela J&F Investimentos S.A. não foi pactuado com agentes públicos responsáveis pela condução da Operação Lava Jato e seus desdobramentos. O acordo de leniência em apreço nestes autos foi estabelecido com o 12º Ofício Criminal (Combate à Corrupção) da Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF), no contexto da força-tarefa das Operações Greenfield, Sépsis e Cui Bono e Operação Carne Franca, que não se confundem com a força-tarefa da Operação Lava Jato e não são decorrentes dela”, escreveu Gonet no documento.
O procurador-geral enfatizou que “não houve participação do Juízo da 13ª Vara Federal Criminal” do Paraná – tocada por Moro na época – envolvido diretamente na Operação Spoofing. O acordo de leniência da JF, salienta Gonet, foi homologado pela 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal.
Isso, anota ele, “contrasta com o que envolveu o acordo de leniência da Odebrecht, [...] celebrado com a Procuradoria da República do Paraná”. “As situações são essencialmente diferentes em aspectos essenciais para o exame do pedido de extensão formulado”, completou salientando que ambos os grupos atuam em segmentos econômicos distintos e “estão envolvidas em casos e processos que não se confundem”.
A falta de um posicionamento de Gonet em contestar a decisão abriu caminho para que Toffoli também suspendesse os pagamentos bilionários previstos no acordo de leniência da Odebrecht, na semana passada. O recurso de Gonet tem implicações tanto para a J&F quanto para a empreiteira, uma vez que a decisão de uma foi estendida para a outra.
As decisões de Toffoli vêm sendo criticadas por oposicionistas e entidades, como a Transparência Internacional no Brasil. A ong foi incisiva na contestação ao magistrado e acabou sendo alvo de um pedido de investigação sobre a participação na criação de uma fundação para gerir R$ 2,3 bilhões do acordo de leniência da J&F para ações anticorrupção.
A Transparência Internacional rebateu as acusações e afirmou que nunca teve acesso a estes recursos.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião