Além da estratégia de aumentar sua bancada de deputados e senadores no Congresso Nacional, o Partido Liberal (PL) também conta com o crescimento de siglas de direita e centro-direita para alavancar seus projetos políticos para 2026. Entre eles estão a eleição para a presidência da Câmara e do Senado, em 2027, e a aprovação de um projeto que concede a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Atualmente, as bancadas do Republicanos, Progressistas e União Brasil têm ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas também possuem parlamentares que se alinham ideologicamente ao ex-mandatário.
Em reserva, um parlamentar do PL comentou à Gazeta do Povo que não seria prudente concentrar toda a oposição em um único partido, já que as bancadas partidárias possuem importância dentro do jogo legislativo. Um exemplo é o próprio Colégio de Líderes, instância que reúne os líderes partidários para decidir sobre votações, agenda legislativa e demais assuntos no cotidiano do Congresso.
Outra parlamentar, do "núcleo duro" do PL, que também preferiu não ser identificado na reportagem, salientou que o eventual impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) só poderá ser aprovado se a sigla de Bolsonaro tiver o apoio de integrantes de outros partidos.
No Senado, por exemplo, a bancada do Republicanos já atua como linha auxiliar da oposição, tendo senadores mais próximos de Bolsonaro. Segundo dados do site Placar do Congresso, idealizado pelo deputado federal Mauricio Marcon (Podemos-RS) com base em dados oficiais das votações da Câmara e do Senado, os senadores Cleitinho (MG), Damares Alves (DF) e Hamilton Mourão (RS) possuem aproximadamente 90% de oposicionismo ao governo Lula. O senador Mecias de Jesus (RR) atingiu 80% no mesmo índice.
Ainda de acordo com o levantamento, dos 44 deputados em exercício do Republicanos, oito possuem índice de oposicionismo maior que 50%. No caso do União Brasil, dos 58 deputados, esse número chega a 20.
Esses números não representam necessariamente um alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas indicam uma tendência de discordância com relação ao atual governo, bem como um posicionamento mais à direita.
Para o cientista político Antônio Henrique Lucena, professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), a diversificação das forças políticas de direita pode auxiliar a oposição a ter mais poder de articulação dentro do Legislativo.
“Na medida em que você tem mais aliados, também joga com o mecanismo de barganha legislativa, de troca de apoio. Então, você pode, de certa maneira, criar pontos de veto. Ou seja, você pode ter essas pessoas que, nesse processo de diálogo, podem barganhar para impedir algum avanço de alguma legislação que não seja do interesse desse movimento”, disse Lucena.
PL desiste de candidaturas em capitais para apoiar aliados
Em gesto a governadores aliados de Bolsonaro, o PL apoiará candidatos a seis prefeituras de capitais: São Paulo (SP), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Rio Branco (AC), Florianópolis (SC) e Campo Grande (MS). A sigla optou por não lançar candidaturas próprias em quatro dessas capitais, alinhando-se a nomes apoiados por governadores que apoiaram Bolsonaro em 2022, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Junior (PSD-PR), Cláudio Castro (PL-RJ), Gladson Cameli (PP-AC), Jorginho Mello (PL-SC) e Eduardo Riedel (PSDB-MS).
Em São Paulo, o PL decidiu apoiar Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito e aliado de Tarcísio de Freitas, em vez de lançar o deputado federal Ricardo Salles, que tinha a preferência de Bolsonaro. Atualmente, há a possibilidade de Salles deixar o PL e retornar para o Novo.
No Mato Grosso do Sul, o cenário em Campo Grande é marcado por tensões internas. O deputado Marcos Pollon, inicialmente cotado para a candidatura, foi substituído por Beto Pereira (PSDB), que criticou Bolsonaro no passado e apoiou Simone Tebet em 2022. A mudança gerou desconforto entre apoiadores de Bolsonaro e representa a sétima alteração de apoio do PL na capital.
A situação em Curitiba permanece indefinida, com especulações de que o PL possa indicar um vice-prefeito. O atual vice, Eduardo Pimentel (PSD), aliado de Ratinho Jr., enfrenta desafios para obter o suporte de Bolsonaro devido a conflitos anteriores com o prefeito Rafael Greca (PSD).
Em Florianópolis, o partido decidiu apoiar o prefeito Topázio Neto (PSD) e a vereadora Maryanne Mattos (PL) como vice, com o respaldo do governador Jorginho Mello.
Já em Goiânia, Manaus e Cuiabá, o PL planeja lançar candidaturas próprias e não deve apoiar governadores que não estiveram alinhados com Bolsonaro nas eleições passadas.
Sistema político brasileiro força partidos a construir alianças
O atual sistema político brasileiro também é avaliado como um fator determinante para que siglas em ascensão, como o PL, construam alianças com demais legendas. Para o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a falta de consistência ideológica dos partidos acaba sendo um desafio para a consolidação dessas alianças.
“O PL procura ampliar o seu arco de alianças porque a dinâmica do presidencialismo multipartidário brasileiro exige invariavelmente a formação de coalizões, sejam coalizões eleitorais, sejam coalizões de governo. Se tratando especificamente dessa busca por formar uma frente de direita, a gente sabe que isso tem limitações bastante objetivas por conta do baixo conteúdo programático e da baixa consistência ideológica dos partidos políticos brasileiros”, disse Gomes.
Por outro lado, o cientista político ressalta que a mudança no cenário eleitoral registrada desde 2018 desperta na classe política o interesse em participar da mudança. Ou seja, com a ascensão da direita, políticos tradicionais vão buscar “surfar na onda” de Bolsonaro.
“Os políticos são atores racionais e autointeressados, maximizadores de benefícios e redutores de custos. Assim como houve aqueles políticos que surfaram na onda do Bolsonaro em 2018, você vai encontrar também, à medida que o governo tem uma performance econômica sofrível, uma revigoração daquelas pautas que tornaram possível a chegada de Bolsonaro ao poder”, acrescentou Gomes.
Ao avaliar o cenário, o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, afirma ser mais difícil para a direita ter um partido hegemônico, o que implica na fragmentação da força política em demais legendas.
“Existe uma direita liberal e outra mais conservadora na questão de costumes. Nesse cenário, fica mais difícil ter um partido hegemônico. É uma situação diferente da esquerda, que, ao seguir uma linha marxista-leninista, tenta criar um centro político orientador. Para a direita, esse raciocínio não funciona. Ela é mais fragmentada”, disse Cerqueira.
PL acumulou derrotas importantes no Senado
O desejo do PL de aumentar a própria bancada, bem como de eleger aliados em outras bancadas, segue na esteira de derrotas importantes para a oposição desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 2023, o partido não conseguiu emplacar o senador Rogério Marinho (PL-RN) na presidência do Senado, sendo derrotado por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que teve apoio do atual governo.
A aprovação do texto base da Reforma Tributária é outro exemplo. Na época, a oposição não conseguiu barrar o projeto nas duas casas legislativas. Por último, em dezembro, também não teve êxito na tentativa de barrar o nome do então ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino para o STF.
“O Bolsonaro deve fazer de 20 a 30 senadores, já contando com os eleitos. Em quase todos os estados, ele deve fazer um, e em quatro ou cinco estados ele deve fazer dois. Pode ser que tenha um estado ou outro que ele não faça um, mas na maioria ele deve fazer no mínimo um. Na minha opinião, iremos eleger 30 a 35 senadores. Digamos que façamos esse número. Ainda teremos os votos de fora do PL, como a Damares, a Tereza Cristina, de partidos que votam com o Bolsonaro, que são mais uns 10 senadores. Então, poderemos ter uns 45 senadores”, disse Valdemar Costa Neto, presidente do PL, à Gazeta do Povo no início do ano.
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