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A imposição de uma tarifa extra de 50% dos Estados Unidos sobre todas as exportações brasileiras provocou reação imediata do Senado. Nesta quarta-feira (9), o presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Nelsinho Trad (PSD-MS), anunciou que articula uma missão oficial a Washington como resposta institucional à medida anunciada pelo presidente americano Donald Trump.
O tarifaço foi formalizado junto com uma carta enviada a Lula, na qual Trump classificou o julgamento de Jair Bolsonaro como uma “caça às bruxas” e vinculou a sanção tarifária a críticas de autoridades brasileiras contra o Judiciário e plataformas digitais dos EUA. O governo norte-americano também abriu uma investigação contra o Brasil com base na Seção 301 do Trade Act — dispositivo utilizado para impor sanções comerciais por supostas práticas desleais.
“São mais de 200 anos de relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos. Temos que buscar a pacificação desse entendimento para que o nosso comércio não seja prejudicado”, defendeu Nelsinho Trad. Segundo ele, a comissão acompanha a pauta tarifária desde o início do atual governo e optou pela diplomacia como caminho para preservar os interesses brasileiros.
A iniciativa de enviar parlamentares a Washington partiu de uma conversa entre Trad e o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, que propôs a construção de um canal direto entre os Legislativos dos dois países. A viagem deve ocorrer em setembro e conta com o apoio do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Críticas e reciprocidade
A medida, considerada inédita nas relações comerciais entre os dois países, foi duramente criticada por parlamentares da base governista, que classificaram o anúncio como um ataque à soberania nacional. Já os senadores da oposição responsabilizaram o atual governo, sua política externa e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo agravamento da crise diplomática.
Em abril deste ano, o Senado aprovou o projeto que gerou a Lei da Reciprocidade, prevendo medidas a serem adotadas pelo Poder Executivo em resposta a barreiras comerciais impostas unilateralmente por outros países a produtos brasileiros. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Renan Calheiros, lembrou da nova lei ao reagir ao anúncio de Donald Trump.
"O Brasil já dispõe de uma lei para retaliar protecionismos e terrorismos comerciais. A CAE puxou o tema e deu ao país, em apenas 48 horas, o meio legal para responder proporcionalmente às ameaças externas. Soberania não se negocia", diz Calheiros.
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Exportadores em alerta
A medida de Trump acendeu o sinal de alerta em setores-chave do agronegócio nacional. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) classificou a tarifa como um entrave ao comércio global, com potencial de comprometer o abastecimento e a segurança alimentar mundial.
Mato Grosso do Sul, estado representado por Nelsinho Trad, é um dos maiores exportadores de carne bovina do Brasil. Em 2024, superou a marca de 1 milhão de toneladas produzidas, e no primeiro semestre de 2025, a carne bovina respondeu por 14,37% das exportações do estado, segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).
Além da articulação internacional, a CRE mantém um grupo técnico interno dedicado à agenda de exportações e defesa comercial. Trad afirma que o colegiado busca uma resposta “com equilíbrio, estratégia e responsabilidade”, reforçando o papel do Senado como interlocutor nas crises diplomáticas com impacto econômico direto.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também demonstrou "preocupação" com a taxação dos EUA. Segundo a FPA, "a nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras".
"Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações", reforça a Frente.
Veja a nota da Comissão de Relações Exteriores:
Nota da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal
Brasília, 9 de julho de 2025
A Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal reafirma seu compromisso com a diplomacia parlamentar e o diálogo entre instituições. O Legislativo brasileiro tem papel relevante na construção de relações exteriores estáveis, responsáveis e coerentes com os princípios da soberania, do multilateralismo e da cooperação.
Mantemos uma interlocução franca e respeitosa com a representação diplomática dos Estados Unidos no Brasil, cujo encarregado de negócios esteve recentemente no Senado e propôs, inclusive, a realização de uma missão parlamentar a Washington como instrumento legítimo de coordenação entre os dois países.
Entendemos que medidas comerciais devem ser tratadas com responsabilidade e dentro dos marcos do direito internacional.
A Comissão de Relações Exteriores seguirá atuando com equilíbrio para manter canais abertos com todos os parceiros estratégicos, ao mesmo tempo em que contribui para a ampliação da rede brasileira de alianças e acordos internacionais.
Senador Nelsinho Trad - Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal









