Os presidentes dos partidos que apoiaram a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro – PL, PP e Republicanos – estão trabalhando juntos nos bastidores para fixar uma mínima coordenação entre os pré-candidatos da direita à Presidência da República. Ao mesmo tempo, tentam atuar na perspectiva de unidade nas eleições de 2026. Essa movimentação está sendo observada de perto pelo PSD, enquanto União Brasil, PSDB e Podemos mantêm distância neste momento.
Os três caciques partidários envolvidos no ordenamento rumo à desejada candidatura unificada ao Planalto – Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP) e Marcos Pereira (Republicanos) – já estão reforçando a defesa de uma agenda conservadora nos costumes e liberal na economia como o ponto de partida da plataforma comum. Além disso, eles administram a influência de Bolsonaro, tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), agora no estratégico papel de apoiador.
Nesse pacto, sem alarde, a "fila" de pré-candidatos montada pelo trio tem a seguinte ordem preliminar: os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Júnior (PSD-PR) e a senadora Tereza Cristina (PP-MS), sem qualquer chance no momento para se considerar outros nomes.
A escolha final vai depender das condições objetivas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser reeleito ou de fazer o seu sucessor, sobretudo no contexto econômico. Quanto melhor ela for, a avaliação é de que maior poderá ser o risco de derrota para os desafiantes da direita.
Para analistas e parlamentares consultados pela Gazeta do Povo, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina é a opção com menos incertezas diante dos cenários e do cálculo político, por ser uma parlamentar com ainda sete anos de mandato e associada ao agronegócio, setor que tem registrado atritos com o governo. Quanto a Tarcísio, o governador de SP tende a buscar a reeleição. Zema e Ratinho Jr., por sua vez, têm eleição virtualmente certa para o Senado em 2026, último ano das suas segundas gestões.
Com a declaração de Tarcísio de que não será candidato a presidente em 2026 e que apoiará o nome indicado por Bolsonaro, a senadora sul-mato-grossense se consolida como a presidenciável mais óbvia no momento para representar a direita. Questionada pela imprensa de seu estado sobre a chance de disputar a Presidência, Tereza Cristina disse que “ser presidente é coisa que todo mundo pode sonhar”. “Se o meu nome estiver incluído lá na frente, seria uma honra. Mas ainda é muito cedo”, disse.
Ainda tentam ser incluídos mais adiante na lista de apostas da oposição os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), como o representante da direita tradicional, e Eduardo Leite (PSDB-RS), como a alternativa de diálogo entre diferentes correntes, ainda insistindo na chamada terceira via, amplamente derrotada nos últimos pleitos. Quanto ao tucano gaúcho, a aposta é no discurso de centro para construir uma coalizão de centro-direita, mas esbarra na força do Bolsonaro. Além disso, o PSDB ainda está em fase de reconstrução interna, o que dificulta qualquer posicionamento agora.
Apesar de mencionado nas pesquisas de opinião, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) deverá ficar fora da disputa e apoiar a candidatura da direita amplificada.
Eleições municipais indicarão as tendências para disputa nacional
O arranjo inicial desse campo político está sob a liderança de Ciro Nogueira (PP), e as candidaturas em potencial já foram identificadas. Elas seguirão um calendário progressivo, começando pelas eleições municipais de 2024, que servirão de base para os próximos passos, dentro da chamada formação de palanques locais. Nogueira aposta que o PT não conquistará nenhuma prefeitura de capital ou de cidade de destaque no interior. Ele acredita que Bolsonaro liderará o processo em 2026, definindo o nome de consenso do campo da direita para disputar a Presidência.
Costa Neto, por sua vez, persegue a meta de emplacar mil prefeitos em 2024, consolidando para o PL o slogan de “maior partido do Brasil”. Já Marcos Pereira espera bons resultados fazendo o difícil equilíbrio entre conquistar votos com verbas do governo petista, do qual está formalmente representado pelo ministro dos Portos e Aeroportos, o deputado Sílvio Costa Filho (PE), e ainda reafirmar a sua independência em votações no Congresso e o seu conservadorismo programático.
A direita espera que Bolsonaro desempenhe papel significativo como cabo eleitoral, especialmente para o PL. Mesmo com a entrada do PP e dos Republicanos no governo Lula tendo implicações para o próximo ano, os presidentes dessas legendas tentam conter o desgaste com os eleitores, estabelecendo “barreiras” em relação ao governo.
O cientista político Ismael Almeida percebe em recentes declarações dos presidentes dos partidos um endosso a essa lista e enxerga 2024 como um referendo a ela. “Mais do que nunca, as eleições do próximo ano vão servir de termômetro bem calibrado para medir o clima no eleitorado. Além disso, é possível que não vejamos dessa vez alianças esdrúxulas que ocorrem normalmente nos pleitos municipais”, avalia.
Almeida lembra que bastou uma mera conjectura de união entre PL e PT para fechar chapas em municípios para Costa Neto ser instado a se posicionar radicalmente contra esse eventual acordo. "Ele foi enfático e descartou por completo tal possibilidade. A oposição é para valer", afirma.
Marcos Queiroz, analista político da consultoria Arko Advice, ressalva que a costura política tocada por PL e por alas importantes de PP e Republicanos, com apoio de líderes ideologicamente mais coesos, ainda não conquistou plena adesão das parcelas desses dois partidos que aderiram ao ministério de Lula. Esses grupos, considerados pragmáticos, esperam obter vantagens eleitoreiras com o ingresso no governo, a exemplo dos deputados ligados ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), responsável pela indicação do atual ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA).
O deputado Maurício Marcon (Podemos-RS) considera uma evolução do quadro partidário quando dirigentes percebem a consolidação de um eleitorado manifestamente de direita. “O Valdemar [Costa Neto] sabe que temos cerca de um terço dos eleitores explicitamente conservadores e acerta ao tentar firmar o PL como opção preferencial de voto para eles”, destaca. Tal percepção parece também orientar ações dos presidentes de PP e Republicanos. Assim, o plano de voo comum desses partidos não deverá mudar, mas está condicionado à conjuntura política e econômica, bem como aos humores e às preferências do eleitorado que serão indicados pelas pesquisas de opinião.
Tarcísio lidera nas pesquisas, mas deverá buscar a reeleição
O cientista político André Felipe Rosa lembra que os levantamentos atuais confirmam Tarcísio de Freitas na dianteira das apostas da direita para 2026 em decorrência de características políticas que o eleitor considera para dimensionar a preferência do voto. “Atributos pessoais do candidato, tais como a simpatia e o bom senso, são relevantes nessa avaliação inaugural”, disse.
De toda forma, o governador de SP tem sido orientado a não repetir o erro de antecessores que buscaram a Presidência, abdicando de reeleição dada como certa. Por outro lado, Rosa acrescenta que Zema já teve de enfrentar a ofensiva governista contra a sua imagem, sobretudo com uma abordagem negativa das suas declarações sobre a reforma tributária, interpretadas como um suposto ataque ao Nordeste.
“Apesar de ainda ser cedo para analisar o quadro de 2026, observamos movimentações. Com o PT defendendo a reeleição de Lula e Bolsonaro inelegível, a direita já tem um grande desafio: se unir em torno de um nome forte o suficiente para enfrentar o atual presidente”, diz a advogada Letícia Barros, vice-presidente do movimento Lola Brasil, que promove líderes femininas comprometidas com o liberalismo econômico.
Para ela, Tarcísio e Zema estão se consolidando como as principais opções em um contexto polarizado sobre o qual paira a incógnita do governo Lula.
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