Após eleger mais prefeitos do que o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) trabalha para se tornar uma alternativa à sigla encabeçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os socialistas elegeram 311 prefeitos e 3.593 vereadores, enquanto os petistas elegeram 248 prefeitos e 3.130 vereadores pelo país.
Apesar de estar junto ao PT no âmbito nacional e municipal, o PSB discute nos bastidores alternativas para superar o aliado e tomar a dianteira no espectro de esquerda nos próximos anos. A avaliação é de que, quando ocorrer a saída de Lula da vida política, a esquerda terá um vácuo de representatividade.
Além disso, a dificuldade do PT em renovar seus quadros é vista pelos socialistas como uma oportunidade para emplacar novas lideranças, como o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e a deputada federal Tabata Amaral (PSB), ex-candidata à prefeitura de São Paulo.
A eleição municipal em Pernambuco, um dos principais redutos de Lula no Nordeste, foi um exemplo do avanço dos socialistas frente aos petistas. Além do Recife, a legenda de Campos conquistou 31 prefeituras neste primeiro turno. Já o PT elegeu apenas seis prefeitos.
Com o avanço do centro e da direita em São Paulo, ambas as siglas elegeram poucos gestores municipais, mas o PSB conquistou nove prefeituras, enquanto o PT elegeu três.
Por outro lado, os petistas tiveram mais votos para prefeito do que os socialistas, recebendo 8,7 milhões de votos contra 6,4 milhões do PSB. A legenda de Lula também teve vantagem sobre o PSB na votação total para vereador, conquistando 7,3 milhões de votos contra 6,6 milhões dos socialistas.
Diminuição da base petista pode explicar crescimento do PSB
Para o cientista político Antônio Flávio Testa, o crescimento da sigla reflete um descontentamento com o PT, que enfrenta divisões internas e uma perda gradual de sua base histórica. A aliança com figuras de peso, como Geraldo Alckmin e Márcio França, tem sido um fator relevante no aumento da presença do PSB em várias regiões, principalmente no Nordeste, onde João Campos se consolida como uma nova liderança da sigla.
“O PSB cresceu, sim. Em muitos locais, é possível que parte do PSDB tenha migrado para a sigla com a chegada de Alckmin. No Nordeste, partidos de extrema-esquerda perderam força, e muitos políticos optaram pelo PSB. O PT tende a perder ainda mais espaço; seu desgaste é muito grande. Com a possibilidade de Boulos vencer, o PSol deve ampliar seu espectro político radical e atrair petistas insatisfeitos. O PSB, como alternativa de esquerda, pode se tornar uma força nacional”, afirma Testa.
Segundo ele, o enfraquecimento do PT não é apenas externo, mas também interno, o que torna a sigla menos atraente para alianças e novos quadros de esquerda. “O PT é um partido que não cumpre acordos e tem rachas profundos. Tudo gira em torno de Lula, que perde cada vez mais espaço. A aliança com o PSB foi mais benéfica para esta sigla, pois o discurso e as práticas políticas radicais desidratam o PT”, analisa o cientista político.
No que diz respeito ao futuro do PSB, Testa avalia que a liderança de João Campos e o apoio de figuras de expressão nacional e internacional, como Alckmin, favorecem a sigla: “João Campos é herdeiro do clã Arraes e tem futuro como liderança nordestina. Alckmin, por sua vez, traz apoio internacional. A liderança de Tabata Amaral, no entanto, está atrelada a figuras como Márcio França, que é um cacique político de destaque e montou sua base política na aliança com o PSB”, explica.
Pragmatismo do PSB é ativo contra o PT
O pragmatismo do PSB em dialogar com o empresariado e demais forças políticas é avaliado por analistas como uma vantagem da sigla sobre o PT. Para o cientista político Paulo Kramer, professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), a adoção de um discurso mais moderado e pró-mercado pode impulsionar o PSB em locais onde o PT não é bem-visto.
“O PSB, com figuras como João Campos no Nordeste e Márcio França em São Paulo, se destaca ao se posicionar como uma esquerda mais democrática e menos radical. É uma esquerda que abre mão das fantasias de poder à la Cuba e Venezuela e que respeita o jogo da competição entre partidos de diferentes ideologias”, analisa Kramer.
Ele observa que o PSB, apesar de se fortalecer, precisa expandir sua influência além do Nordeste, onde figuras como João Campos e a família Campos são fundamentais. “Para se apoderar da herança de Lula, o PSB precisa sair do ‘gueto’ regional e se estabelecer nacionalmente”, comenta Kramer.
Outro fator que dificulta a ascensão do PT, segundo Kramer, é a falta de renovação interna e o domínio centralizado de suas lideranças.
“O PT tem um problema de renovação de quadros, e a democracia interna é um desafio. Com o controle dos fundos partidários e eleitorais, muitos líderes não querem abrir espaço para novas lideranças, preferindo distribuir os recursos conforme os interesses dos grupos dominantes,” explica Kramer, sugerindo que o PSB, ao manter sua estrutura mais aberta e flexível, pode continuar a ganhar espaço na política nacional.
Lulismo acaba sendo maior do que petismo
A aposta do mundo político acerca do crescimento de outras legendas de esquerda também reside no fato de que o lulismo, o apelo a Lula, é maior do que o petismo. Com uma futura aposentadoria do atual mandatário, a expectativa é de que a sigla não tenha o mesmo prestígio entre o eleitorado de esquerda, que enxerga legendas como Psol, Rede e o próprio PSB como alternativas.
Desde sua fundação, em 1980, o PT sempre teve Lula como figura central. Quatro décadas depois, o partido permanece fortemente dependente de seu líder, agora com 78 anos. Essa dependência dificultou o surgimento de novos nomes petistas “naturais” no cenário nacional, o que poderá ser uma lacuna para o partido quando Lula não estiver mais em condições de disputar eleições.
A popularidade pessoal de Lula ultrapassa a adesão ao PT entre os eleitores, criando um "lulismo" mais forte do que o "petismo" e estimulando um crescente sentimento antipetista. Esse sentimento se intensificou com eventos como o escândalo do mensalão, as manifestações de rua em 2013, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a operação Lava Jato.
Esse contexto já gera tensões internas no partido, especialmente em relação à sucessão da deputada Gleisi Hoffmann (PR) na presidência do PT em 2025. A disputa expõe um racha entre a velha guarda, que apoia Edinho Silva, prefeito de Araraquara (SP), e grupos mais à esquerda, que preferem José Guimarães (CE), atual líder da bancada na Câmara.
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