O presidente Jair Bolsonaro acertou os últimos detalhes de sua filiação ao PL com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. Entre os termos finais, a dissolução de um pré-acordo de apoio à candidatura do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), bem como a pacificação em outros três estados com algum foco de resistência à candidatura presidencial: Amazonas, Alagoas e Pernambuco.
Além de Bolsonaro e Costa Neto terem aparado "arestas" nesses quatro estados, o presidente da República também obteve do mandatário do PL o aceno favorável para fazer indicações de candidaturas para o Senado e até a determinados governos estaduais, como é o caso de São Paulo.
Com o apoio do chefe do Planalto, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, pode vir a ser lançado a governador de São Paulo, a despeito de algumas resistências dentro do partido. Alguns caciques do PL e também do PP — partido que tem o acordo para indicar o candidato à vice na chapa com Bolsonaro — entendem que o ministro não tem capital político para agregar mais votos além dos eleitores "raiz" do presidente, o que poderia colocar em xeque uma candidatura competitiva ao governo paulista.
O próprio Bolsonaro confirmou sua filiação e a definição dos termos finais de sua ida ao PL nesta quarta-feira (24). "[O partido] marcou [a filiação] para terça-feira (30). Tudo bem, acertamos São Paulo e o resto do Brasil. Está tudo certo para ser um casamento e sermos felizes para sempre", declarou no caminho a pé de volta ao Palácio do Planalto após participar de uma solenidade na Câmara dos Deputados em que recebeu a Medalha de Mérito Legislativo.
“Foi tudo conversado com o Valdemar, sem problema. É uma pessoa que é conhecida por honrar a palavra. Da minha parte também. E temos tudo para realmente ajudar na política brasileira”, completou Bolsonaro.
Como fica o cenário em São Paulo com a filiação de Bolsonaro ao PL
Além de Bolsonaro, o deputado Capitão Augusto (PL-SP), vice-líder do partido na Câmara, é outro a confirmar os acertos da filiação do presidente da República para a próxima terça-feira e a pacificação em São Paulo, inclusive para a abertura de diálogos em lançar Tarcísio de Freitas ao governo do estado.
"[A filiação] está mais do que definida, já era certa a vinda dele, faltavam só alguns assuntos acessórios. Havia quatro estados com alguns problemas de coligações ou pré-acordos, como São Paulo, mas nada que impeça a vinda do Bolsonaro e nada que impeça os acordos de serem revistos", diz o deputado à Gazeta do Povo. "São Paulo é o maior colégio eleitoral e temos o maior interesse em definir se lançamos o Tarcísio, outro candidato ou não, mas está nas mãos dele [Bolsonaro", acrescenta.
O cenário em São Paulo é sensível para o PL, uma vez que prefeitos e deputados estaduais da sigla mantêm apadrinhados políticos no governo de João Doria (PSDB). O desembarque do partido da base tucana nas eleições de 2022 causaria, portanto, uma ruptura na relação entre as legendas.
O cálculo político do PL sugere, contudo, que é mais vantajoso eleger um governador em São Paulo do que manter apenas indicados na administração paulista. "Não temos candidato a governador, vice, nem secretaria [no governo tucano]. Não tem por que realmente não rever isso aí [pré-acordo de apoiar a candidatura de Garcia]. Nos outros estados, o problema é menor ainda", pondera Capitão Augusto.
O vice-líder do PL reforça que o partido está aberto a discutir a candidatura do ministro da Infraestrutura e se diz particularmente entusiasmado com a ideia. "Estou na torcida para que [Tarcísio] vá de candidato a governador, mas não sei se é o desejo dele. Muito se fala dele vir para o Senado, o que é uma vitória certa, pode até se dar ao luxo de escolher três, quatro estados, mas isso é com o Bolsonaro e ele, que vão ter que discutir", destaca.
Capitão Augusto diz que o ministro da Infraestrutura é muito leal, mas ele entende que Bolsonaro não forçará uma candidatura do auxiliar caso não seja da vontade dele. "Bolsonaro não fará nada contra a vontade do ministro. Se não estiver com pique, não lança, mas vamos ver. Repito, a bola está com o palácio", destaca.
"Da nossa parte, Bolsonaro tem carta branca para o que falar. Não vamos perder a oportunidade de eleger 60 deputados, seis ou sete senadores, por causa de um pré-acordo em São Paulo com coligação que não temos nem a cabeça, nem a vice. Lá [situação no estado] não é e nem será fator impeditivo da filiação", complementa o deputado.
Que nomes o PL pode lançar ao Senado a pedido de Bolsonaro
Além de definir os impasses estaduais, Bolsonaro também obteve de Valdemar Costa Neto o "sinal verde" para lançar candidaturas ao Senado. Enquanto o desejo principal do mandatário do PL é fazer a maior bancada federal possível, Bolsonaro almeja elevar sua base aliada na "Casa revisora".
Como disse Bolsonaro, ele negociou São Paulo e o "resto do país". Isso inclui potenciais candidaturas a governos estaduais — como a do líder do PSL, Vitor Hugo (PSL-GO) em Goiás — e, sobretudo, ao Senado, onde deseja ter candidatos de norte a sul do país. Em Minas Gerais, o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), ex-ministro do Turismo, é um dos que será lançado ao Senado com o apoio de Bolsonaro.
O deputado se reuniu nesta quarta-feira (24) com Costa Neto para definir sua candidatura ao Senado. "A conversa já existe e a nossa construção, obviamente, é que essa candidatura possa ocupar uma vaga na chapa do governador [Romeu] Zema. Claro que é uma construção que ainda precisa ser consolidada, mas o governador é uma pessoa que tem sido muito bem alinhada com o governo federal", afirmou à Gazeta do Povo.
O ex-ministro do Turismo trata como "natural" sua candidatura ao Senado após ter sido eleito o deputado federal mais votado em Minas Gerais em 2018 e exercido o Ministério do Turismo. "Tive dois anos de ministério e entregamos, graças a Deus, bons resultados. Pessoas ali que estão há 10, 15 anos dizem ter sido uma das melhores gestões que passou na pasta. Eu me vejo maduro o suficiente e preparado para representar Minas Gerais no Senado. Possivelmente é o nosso caminho para 2022", destaca.
Em São Paulo, Bolsonaro demonstrou a Costa Neto o desejo em indicar Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, ao Senado. No Rio de Janeiro, um dos nomes estudados é o da youtuber Antônia Fontenelle, que esteve no Palácio do Planalto na última semana para discutir uma possível candidatura à Casa. No Espírito Santo, o ex-senador Magno Malta (PL), que, em 2018, chegou a ser cotado como vice de Bolsonaro, deve ser o candidato ao Senado.
No Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho e Emprego, Onyx Lorenzoni, pode ser lançado ao Senado pelo PL, embora ele almeje uma candidatura ao governo do estado. Em Santa Catarina, o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, pode ser o candidato de Bolsonaro. No Paraná, o deputado Giacobo (PL-PR), presidente do diretório paranaense da sigla, é um dos nomes cotados.
Em Goiás, Tarcísio de Freitas pode assumir a candidatura ao Senado caso não concorra em São Paulo. Em Mato Grosso, o partido deve lançar o senador Wellington Fagundes (PL-MT) à reeleição. Pelo Distrito Federal, a ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), pode vir ao Senado, embora o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Anderson Torres, também queira se filiar à legenda para se candidatar ao cargo. Em Mato Grosso do Sul, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, pode ser apoiada por Bolsonaro ao Senado, mas ela deve se filiar ao PP.
Nas regiões Norte e Nordeste, Bolsonaro e Costa Neto ainda definem as candidaturas ao Senado, mas algumas delas estão em discussão, a exemplo da candidatura em Pernambuco do ministro do Turismo, Gilson Machado, outro que pode se filiar ao PL. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, é mais um que está de malas prontas para o PL para a disputa do Senado ou do governo do Rio Grande do Norte. Na Bahia, o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos) pode ser apoiado ao Senado, mas pelo seu partido atual.
As negociações entre Bolsonaro e Costa Neto podem, inclusive, selar a pacificação em Amazonas, Alagoas e Pernambuco, estados onde há alguns ruídos. Entre elas, a possibilidade de uma chapa no estado pernambucano de Gilson Machado ao Senado com o prefeito de Jaboatão dos Guararapes (PE), Anderson Ferreira (PL), ao governo do estado. Outro cenário seria o ministro do Turismo sair candidato em Tocantins ou em Alagoas.
Já no reduto eleitoral do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), opositor de Bolsonaro, o presidente do diretório amazonense, Alfredo Nascimento, avisou que acompanhará a decisão nacional.
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