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Eduardo Leite, João Doria e Arthur Virgílio no último debate das prévias do PSDB, na CNN.| Foto: Karla Vieira/Assessoria AVN

O PSDB escolherá neste domingo (21) quem será o candidato do partido à Presidência da República em 2022. A votação, além de definir o futuro da legenda, terá reflexos nas articulações para o lançamento de um candidato da terceira via que faça frente à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Disputam a indicação do PSDB os governadores João Doria (de São Paulo) e Eduardo Leite (do Rio Grande do Sul), que despontam como favoritos, e o ex-senador Arthur Virgílio (do Amazonas).

Para filiados com cargos eletivos e dirigentes partidários, a votação será em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Vereadores do PSDB e demais filiados votarão por meio de um aplicativo criado especialmente para as prévias. Ao todo, 44.700 tucanos estarão aptos a participar da escolha. Os votos serão recebidos entre 8h e 15h; e o resultado será anunciado ainda no domingo (veja abaixo mais informações sobre como funciona a votação e a contagem de votos).

Prévias deixaram divisões escancaradas no PSDB

O PSDB passa por um momento difícil de sua história, em que busca recuperar o protagonismo que teve dos anos 1990 até 2014. Nas eleições de 2018, com Geraldo Alckmin como candidato a presidente, o partido fez apenas 4,7% dos votos.

Naquele pleito, também ficou evidente que havia uma disputa interna, com trocas de farpas entre Doria e Alckmin, que agora está de saída do partido. Mais recentemente, Doria tentou expulsar o deputado Aécio Neves do PSDB, acentuando atritos com o diretório mineiro.

Essas divisões permanecem e, durante a campanha das prévias, foi possível observá-las em diversos momentos. O exemplo mais emblemático foi quando os diretórios do Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais e Ceará – apoiadores de Leite – acusaram a executiva de São Paulo de fraudar a votação das prévias ao cadastrar prefeitos e vice-prefeitos no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com data retroativa a 30 de maio, data limite de filiação para que membros do partido possam votar nas prévias. O diretório paulista rebateu, dizendo que eles estavam espalhando notícias falsas.

Ao fim, todos os tucanos paulistas que foram denunciados acabaram sendo excluídos da lista de votação. Mas o mesmo ocorreu com 34 filiados da Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, considerados inaptos pelo mesmo motivo, após denúncia do PSDB de São Paulo.

Os debates realizados pelos três pré-candidatos também expuseram essa divisão. Arthur Virgílio, em sua tentativa de unir o partido, colocou sal na ferida em algumas ocasiões, dizendo que as demais candidaturas precisavam parar com as “picuinhas” e com o “ciúme”. Ele também defende que o partido seja expurgado dos apoiadores de Bolsonaro, os parlamentares tucanos que geralmente votam alinhados ao governo federal.

A votação da PEC dos Precatórios – proposta para aumentar o teto de gastos em 2022 – foi lembrada por Virgílio e Doria durante um dos debates para pressionar o governador gaúcho, que teve apoiadores no Congresso que votaram a favor da medida. “Não deixe que lhe preguem na face a fama de bolsonarista, isso não é justo com você”, disse Virgílio a Leite. Doria, depois, salientou que, sob seu comando, a bancada paulista tucana votou contra a PEC.

Na quarta-feira (17), em debate na CNN Brasil, Virgílio voltou a defender uma “desbolsonarização” do PSDB, para que o partido possa se unir de vez. Ele também perguntou se seus dois concorrentes se comprometeriam a continuar no partido, mesmo perdendo as prévias. Pela mecânica do debate, apenas o gaúcho respondeu, afirmando que não deixará a sigla.

A pergunta, porém, expôs um desafio que o partido pode ter que enfrentar: se Doria vencer as prévias, uma debandada de parlamentares do partido não pode ser descartada. A hipótese já vem sendo especulada nos bastidores. Mas lideranças do partido estão evitando tocar no assunto.

O presidente do PSDB-RS, o deputado Lucas Redecker, disse que o pós-prévias “vai dizer muita coisa” e defendeu que o candidato presidencial precisa ter mais diálogo com a bancada tucana no Congresso. O presidente do PSDB de Minas, que também apoia Leite, o deputado Paulo Abi-Ackel, afirmou que qualquer avaliação sobre eventual dissidência tucana é “pura futurologia” neste momento.

Debate sobre a união da terceira via entre os tucanos

Nesse contexto, também há incertezas sobre o papel que os perdedores das prévias terão na campanha do candidato vencedor à Presidência. O senador José Aníbal acredita que é dever do vitorioso chamar os concorrentes para conversar, compartilhar e buscar uma ação conjunta. O presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, foi pela mesma linha, afirmando à Gazeta do Povo que, se Doria vencer, haverá espaço para os demais e que a primeira tarefa será “buscar construir a unidade” dentro do partido.

Aliás, “união” tem sido uma palavra muito usada por tucanos nos últimos dias. Tanto para amenizar a fragmentação perante à opinião pública quanto para criar um esforço genuíno de aproximação entre as diferentes alas do partido em prol de uma candidatura para presidente em 2022. O PSDB perde força na negociação da terceira via se sentar-se à mesa dividido.

Quanto a isso, as lideranças tucanas salientaram várias vezes que há interesse em conversar com outras siglas. Contudo, ainda é uma incógnita saber se o partido admitirá abrir mão de encabeçar uma chapa presidencial em nome de uma candidatura única de centro.

No debate da CNN, Doria disse que aceitaria compor uma chapa com candidato de outro partido que demonstre ter mais chances de vencer Lula e Bolsonaro. “Vamos sim nos sentar com quem vencer as prévias e com outros partidos, outros líderes, para dialogar sobre o Brasil”, afirmou. Leite já deu declarações semelhantes, mas disse que não será candidato a vice.

Mesmo estando dispostos ao diálogo, há divergências sobre o tema. Vinholi afirmou que, no momento em que o partido definiu o processo das prévias, também decidiu que teria candidatura própria nas eleições do ano que vem. Outros interlocutores são mais cautelosos, como Redecker, que disse que, embora acredite na capacidade de Leite e do partido de liderar uma campanha presidencial no ano que vem, não é possível sentar à mesa de negociação já impondo condições a outros partidos.

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, em entrevista ao jornal O Globo, afirmou que a possibilidade de o vencedor das prévias tucanas ser vice de uma chapa da terceira via "vai depender do grau, competência e qualidade do escolhido no domingo". "Só é protagonista quem tem capacidade de liderar", disse.

O partido, segundo Araújo, já está conversando mais de perto com o União Brasil (a fusão entre DEM e PSL) e com o MDB, mas também mantém diálogo com Podemos, Cidadania, PV e o Novo. Também considera a possibilidade de formar uma federação com alguns partidos. "O União Brasil talvez seja o player mais importante na consolidação de alianças que possam colocar um candidato no segundo turno com Lula ou Bolsonaro", afirmou Araújo a O Globo.

Avaliação das prévias é positiva

Enquanto essas incógnitas não se resolvem, o PSDB avalia positivamente o processo de prévias e o considera um exemplo para outras legendas do país. As percepções são de que o partido passa a envolver mais os seus filiados no processo de escolha do candidato a presidente, se diferenciando das demais siglas e tendo a possibilidade de fazer uma ampla discussão interna em todos os estados do país.

Apesar das recentes dúvidas lançadas sobre a segurança do aplicativo de votação, as lideranças com quem a Gazeta do Povo conversou creem que o processo será tranquilo e que não deve haver uma judicialização do resultado.

A sigla divulgou uma nota na noite de quarta-feira (17) informando que apresentou uma representação ao Ministério Público de São Paulo para que sejam apuradas as responsabilidades contra o vereador Emerson Aparecido Moraes, conhecido como Cabelinho. Ele publicou um vídeo nas redes sociais mostrando como burlar o aplicativo de votação das prévias. O PSDB garante que o sistema identificou e interceptou a falsa inscrição.

“O PSDB, juntamente com as empresas responsáveis pela segurança digital do aplicativo das prévias, identificou outras tentativas de fraude e adotará as medidas judiciais cabíveis contra os responsáveis pelas ações ilegais”, diz o comunicado.

O senador José Anibal salientou que técnicos vão acompanhar todo o processo. “Qualquer ocorrência será sanada. O partido vai agir com muita determinação e clareza para que [o processo] não seja corrompido por ação deletéria de hackers, e o resultado vai corresponder à vontade do enorme contingente que vai votar”, disse o senador, que é presidente da comissão das prévias.

Sobre as perspectivas para o PSDB em ano eleitoral, Aníbal completou: “Espero que o partido se recupere fortemente do que aconteceu em 2018, que volte a ter sintonia com o povo brasileiro e a confiança para eleger nosso candidato”.

Como funcionam as prévias do PSDB

A votação das prévias do PSDB para definir seu candidato à Presidência ocorrerá em 21 de novembro.

Quem está na disputa? Três concorrentes: os governadores de São Paulo, João Doria; e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e o ex-senador e ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto.

Qual é o dia da votação? 21 de novembro. Se houver segundo turno, ocorrerá em 28 de novembro.

Quem pode votar? Podem votar as pessoas que se filiaram ao partido até 31 de maio de 2021. Cerca de 44.700 filiados se cadastraram para participar

Como será a votação? O PSDB nacional disponibilizou um aplicativo de votação, no qual o filiado teve de se cadastrar – entre os dias 14 de outubro e 14 de novembro – para poder votar. Também haverá votação presencial em Brasília para detentores de cargos eletivos (com exceção de vereadores) e presidente e ex-presidentes da executiva do partido.

Como serão contados os votos? Haverá quatro grupos de votantes, todos com peso de 25% do total dos votos válidos. Esses grupos são: filiados; prefeitos e vice-prefeitos; vereadores e deputados estaduais (deputados representam 50% e vereadores outros 50%); e o último grupo é formado por governadores, vice-governadores, ex-presidentes e o atual presidente da Comissão Executiva Nacional do PSDB, senadores e deputados federais.

Vence a eleição o candidato que alcançar a maioria absoluta. Caso isso não ocorra, haverá segundo turno.

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