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Governo Lula

Sem tempo e sem popularidade, governo Lula foca em ações visando as eleições de 2026

Em meio a queda na popularidade e perspectiva de desaceleração do PIB, governo Lula abriu exceção à regra do saque-aniversário do FGTS.
Em meio a queda na popularidade e perspectiva de desaceleração do PIB, governo Lula abriu exceção à regra do saque-aniversário do FGTS. (Foto: André Borges/EFE)

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Faltando menos de 10 meses para o fim do ano, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem um curto prazo para mostrar soluções para seus problemas de governabilidade com o Congresso Nacional em meio à queda de popularidade do petista e às pendencias do orçamento federal ainda em 2025. Apesar do prazo apertado, analistas ouvidos pela reportagem apontam que o Palácio do Planalto indica apostar em ações populista para reverter a situação. Do outro lado, governistas argumentam que Lula possui tempo para reverter sua crescente impopularidade, já que as eleições ocorrem apenas em outubro de 2026. 

Com a popularidade em queda, o governo Lula tem apostado em uma série de medidas sociais para tentar mudar o cenário de desgate frente à população e, com isso, fica claro o olhar para as eleições presidenciais do próximo ano, quando Lula ou o indicado dele irão tentar fazer com que o Partido dos Trabalhadores (PT) permaneça à frente do Palácio do Planato. Entre as principais ações anunciadas pela gestão petista estão a flexibilização do saque-aniversário do FGTS, a ampliação do programa Farmácia Popular, a reformulação do vale-gás, o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda e o Programa Pé-de-Meia.

Na quarta-feira (26), por exemplo, Lula foi até uma agência da Caixa Econômica Federal para divulgar o início dos depósitos do programa Pé-de-Meia, que prevê aportes mensais a estudantes do ensino médio público e também um depósito anual para os alunos que foram aprovados no ano letivo anterior.  

Apesar do potencial impacto positivo que essas iniciativas podem ter, o cientista político Antônio Henrique Lucena, professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), alerta para as dificuldades que o governo deve enfrentar na implementação dessas políticas, sobretudo em um contexto de inflação elevada e restrições fiscais.

"O governo Lula tem um problema de comunicação muito sério. Nesse ponto, o governo é um desastre", avalia Lucena. Segundo ele, as novas medidas refletem um esforço do Planalto para recuperar apoio popular, mas há obstáculos consideráveis. "Todas essas iniciativas buscam melhorar a imagem do governo, mas a questão econômica segue como um desafio central", pontua.

Uma das principais apostas do governo é a flexibilização do saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que deve beneficiar cerca de 12 milhões de trabalhadores e injetar R$ 12 bilhões na economia. No entanto, especialistas alertam que essa medida pode ter efeitos limitados no longo prazo, já que se trata de uma liberação pontual de recursos.

Outra frente de atuação é o fortalecimento do programa Farmácia Popular, que teve a lista de medicamentos gratuitos ampliada para contemplar todos os 41 produtos distribuídos pelo programa. Para Lucena, essa é uma decisão estratégica, uma vez que saúde e educação são pautas centrais para um governo de centro-esquerda. "O Planalto quer ter uma comunicação melhor dos seus êxitos, e como a saúde tem um grande apelo popular, essa ampliação pode gerar retorno positivo", analisa.

O governo também busca viabilizar uma reformulação do vale-gás, permitindo que os repasses sejam feitos diretamente pela Caixa Econômica Federal com recursos da exploração do pré-sal. A proposta pode facilitar a ampliação do benefício para mais famílias de baixa renda, mas enfrenta desafios fiscais. "Estamos em um cenário de contenção de gastos, e isso pode dificultar a execução dessas medidas", ressalta Lucena.

Além disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a anunciar em novembro do ano passado a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Mas, em janeiro deste ano, Haddad informu que a isenção do IR para rendimentos de até R$ 5 mil foi adiada para 2026 ou depois. À época, o ministro disse que a orientação de Lula foi manter a isenção do Imposto de Renda para rendas de até dois salários mínimos em 2025.

No entanto, o impacto da medida sobre a popularidade do governo ainda é incerto, especialmente em um momento em que a inflação continua sendo uma preocupação para os brasileiros. "Inflação é uma coisa que derruba o presidente aqui no Brasil. Derruba, eu me refiro a não ter uma reeleição ou a não conseguir eleger um sucessor", observa o cientista político.

Lucena destaca que, além dos desafios econômicos, a baixa popularidade do governo encarece o apoio político no Congresso, tornando a governabilidade mais difícil. "Quando os presidentes estão com baixa popularidade, o custo do apoio parlamentar fica muito maior", explica. Ele ressalta que a aprovação do orçamento e a negociação de novas emendas serão desafios cruciais para o governo nos próximos meses.

Diante desse cenário, o cientista político avalia que, embora as medidas sociais possam trazer algum alívio e melhorar a imagem do governo, é improvável que alterem drasticamente o quadro atual. "Pode haver algum impacto positivo, mas dificilmente será suficiente para reverter completamente a crise de popularidade do governo, especialmente em um momento de inflação pressionada e demanda aquecida", salienta.

Pesquisas recentes mostram desaprovação do governo

Pesquisas divulgadas na quarta-feira (26) indicaram que o presidente pode estar em um ponto sem retorno. De acordo com a sondagem publicada pela Genial/Quaest*, Lula tem percentuais de desaprovação maiores que os de aprovação em 8 estados brasileiros: Bahia, Goiás, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A desaprovação nesses três últimos estados, principais colégios eleitorais do país, já supera os 60% de reprovação. 

O levantamento feito CNT/MDA** apontou que, no país, a reprovação a Lula chega a 44%. Outros 29% veem que a gestão é positiva e 26% consideram a atuação do petista regular. Aprovação do desempenho pessoal do presidente caiu dez pontos percentuais, passando de 50% para 40%.

"O governo está numa situação muito ruim porque todas as pesquisas, mesmo aquelas que costumam ser mais favoráveis, mostram uma queda acentuada de popularidade e uma perda consistente da base eleitoral", explica o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte. Ele aponta que a crise econômica e a dificuldade do governo em se comunicar com a população têm sido determinantes para esse desgaste.

Apesar de o presidente afirmar, em 19 de fevereiro, que não leva pesquisas a sério, o descontentamento de deputados federais com a política econômica promovida por Haddad é mais um desafio para o governo em meio às tentativas de aproximação.

Segundo um levantamento divulgado pelo Ranking dos Políticos, 46,4% dos deputados federais consideram o trabalho de Haddad “ruim” ou “péssimo”. A gestão de Haddad é considerada “ótima” ou “boa” por 30% dos deputados e “regular” por 23,6%.

Na visão de um deputado do Centrão que falou com a reportagem, mas pediu para não ser identificado, o governo ainda possui uma janela de oportunidade para reverter a percepção negativa da população e do Congresso. No entanto, ele alerta que tudo isso dependerá da real melhora na economia, como a redução da inflação sobre os alimentos. Nos últimos 12 meses até janeiro, a categoria de bebidas e alimentos ficou, em média, 7,25% mais cara, superando a inflação geral de 4,56%.

Liberação de emendas traz alívio ao governo Lula, mas relação com Congresso ainda carece de diálogo

Com o orçamento de 2025 ainda na fila para ser aprovado pelo governo, a homologação do acordo sobre as emendas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), ocorrida nesta quarta-feira (26), é vista por governistas como um sinal de alívio na tensionada relação com o Congresso. No entanto, o deputado federal do Centrão também avaliou que Lula precisa tornar o Palácio do Planalto “menos petista” e abrir espaços para que os partidos que compõem a base possam participar mais.

A leitura do mesmo parlamentar é que o problema do Congresso com o governo não se resume apenas à distribuição de cargos e lotações em ministérios, mas também envolve o diálogo do dia a dia entre o presidente da República e os parlamentares. A reclamação por parte do congressista acerca da indisponibilidade de Lula não é nova. Para muitos, os aliados mais próximos do presidente, como a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, dificultam o diálogo entre os dois Poderes ao cercar o presidente de forma ostensiva.

Apesar da opinião do deputado - que também é externada com frequência por outros parlamentares -, o governo Lula decidiu seguir o caminho oposto. A ex-ministra Nísia Trindade foi demitida do Ministério da Saúde e deu lugar ao petista Alexandre Padilha, que antes ocupava a pasta das Relações Institucionais. Com isso, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, foi anunciada nesta sexta-feira (28) como a nova titular do ministério antes chefiado por Padilha, alvo constante de críticas na antiga função. Gleisi será responsável pelo diálogo do governo com congressitas, outros políticos, os demais Poderes da República e com a sociedade.

Segundo o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, as emendas parlamentares continuam sendo um dos principais instrumentos do governo para garantir apoio no Congresso. No entanto, essa estratégia enfrenta limites e desafios adicionais neste momento. Ele avalia que o governo precisará ir além da simples liberação de recursos para consolidar apoio no Legislativo.

Além disso, a fragmentação do Centrão e a resistência de parte da base aliada em temas fiscais adicionam obstáculos à governabilidade. "O governo precisará construir articulações políticas mais consistentes para garantir apoio em votações estratégicas", afirma o cientista político.

Metodologia

*A pesquisa Genial/Quaest foi feita com 6.630 brasileiros, de 16 anos ou mais, entre os dias 19 e 23 de fevereiro, nos seguintes estados: Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A margem de erro é de 3 pontos em 7 estados, com a exceção de SP, em que é de 2 pontos para mais ou menos.

**A pesquisa CNT/MDA foi realizada entre os dias 19 e 23 de fevereiro e ouviu 2.002 pessoas nos formatos presencial e domiciliar. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

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