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O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) negou, nesta sexta (19), envolvimento no suposto esquema de desvio de cota parlamentar revelado mais cedo pela Polícia Federal durante o cumprimento de mandados da Operação Galho Fraco, que mirou também o colega Carlos Jordy (PL-RJ). Os mandados foram cumpridos no Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
Entre as apreensões, a polícia encontrou R$ 430 mil em espécie no apartamento em que Sóstenes mora em Brasília, e que ele justificou como dinheiro da venda de um imóvel, com origem lícita. E ainda acusou a investigação de “cortina de fumaça” da esquerda com vistas às eleições de 2026.
"Essa investigação é mais uma investigação para perseguir quem é da oposição. [...] Quem não deve, não teme. Eu não tenho nada a temer", disse em uma entrevista coletiva na Câmara dos Deputados no começo da tarde.
Mais cedo, Jordy também negou as acusações e se disse perseguido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No despacho tornado público no meio da manhã, o ministro Flávio Dino, que autorizou a operação, afirmou haver "indícios robustos" contra os dois parlamentares apontados em depoimentos de assessores e provas colhidas, e determinou a quebra do sigilo bancário deles entre os anos de 2018 e 2024.
"Sobre o valor encontrado em minha residência, trata-se de recurso lícito da venda de um imóvel de minha propriedade. Dinheiro de corrupção não aparece lacrado, identificado e recolhido oficialmente na sua residência. Quem quer viver de corrupção bota em outro lugar", disparou.
Ao se defender das acusações da investigação da Polícia Federal, Sóstenes Cavalcante desafiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e demais integrantes do governo a virem a público como ele para explicar a suspeita de envolvimento de aliados em outras apurações, como a CPMI do INSS.
"Desafio aqui o presidente Lula trazer o [filho] Lulinha o senador [Weverton Rocha] vice-líder do governo no Senado, botar o olhar nas câmeras e explicar ao povo brasileiro como eu estou fazendo", afirmou.
O filho de Lula, Fábio Luís Lula da Silva, apareceu em meio às investigações da nova fase da Operação Sem Desconto, que apura a fraude bilionária contra aposentados e pensionistas do INSS. Ele não é formalmente investigado, diferente de Rocha, que é apontado como aliado do chamado "careca do INSS".
Na véspera, parlamentares do Novo tentaram convocar Lulinha para prestar depoimento na CPMI instalada no Congresso, mas a base governista conseguiu barrar o pedido gerando críticas de "blindagem" do filho do presidente. No mesmo dia, Lula afirmou que não vai se opor a qualquer investigação a Lulinha.
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No despacho tornado público mais cedo, o ministro Flávio Dino cita que a Polícia Federal apurou a prática de lavagem de dinheiro através do fracionamento de valores até o limite de R$ 9.999, uso da cota parlamentar para o pagamento de despesas inexistentes ou irregulares, trechos de conversas pelo WhatsApp que sugerem pagamento “por fora” por parte dos investigados, indícios de utilização de empresas de fachada para a prestação de serviços pagos com os recursos parlamentares, etc.
“Elevada movimentações financeiras, de vários investigados, possivelmente ligados aos deputados federais citados, sem identificação da origem dos recursos”, pontuou.
A investigação aponta que os parlamentares teriam usado uma locadora de veículos para simular contratos falsos e desviar recursos públicos destinados ao exercício do mandato. A empresa teria servido como fachada, com o pagamento de R$ 214 mil por Sóstenes e R$ 192 mil por Carlos Jordy.
A principal evidência que chamou atenção da Justiça foi a desproporção entre os valores pagos e a capacidade operacional da locadora. A empresa possui apenas cinco veículos em sua frota, enquanto outras usadas pelos mesmos deputados no Rio de Janeiro mantêm frotas superiores a 20 automóveis.
A cota parlamentar é uma verba mensal destinada aos deputados federais para custear despesas relacionadas ao exercício do mandato, como passagens aéreas, combustível, alimentação e hospedagem. O uso indevido desses recursos públicos configura crime de peculato, com pena de reclusão de dois a doze anos.








