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PSD Lula Alexandre Silveira
Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e o presidente Lula| Foto: Ricardo Stuckert / PR

O PSD, partido comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, se consolidou após o segundo turno deste domingo (27) como o maior vencedor da disputa municipal, levando 887 prefeituras. Isso fará com que a sigla sofra maior assédio de governistas por apoio político ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição em 2026. Mas o fortalecimento do PSD também pressiona Kassab a tomar um caminho mais independente do governo do PT.

Esse cenário foi provocado não apenas pelo avanço do PSD sobre as prefeituras, mas especialmente pelo desempenho abaixo do esperado do PT nas eleições municipais deste ano. O PT de Lula vai comandar apenas 252 cidades, sendo apenas uma capital: Fortaleza.

"Eu diria que o PT é o campeão nacional das eleições presidenciais. Mas, desde 2016, entrou no Z4 das eleições municipais. Não saiu ainda dessa posição de fim da tabela", disse o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, após um encontro com Lula nesta segunda-feira (28) no Palácio da Alvorada.

Nos cálculos dos governistas, o partido de Kassab deve ser o principal beneficiado pelos acenos de Lula na busca por governabilidade e na tentativa de viabilizar sua reeleição. Hoje o PSD conta com três ministros na Esplanada: Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e André de Paula (Pesca). O partido pode até ampliar esse espaço em uma possível reforma ministerial no ano que vem.

Em contrapartida à participação no governo, o PSD integra a base de Lula no Congresso entregando votos, principalmente na pauta econômica e fiscal. Além disso, o senador Otto Alencar (PSD-BA) assumiu recentemente a liderança do governo no Senado após um afastamento médico do senador Jaques Wagner (PT-BA).

Apesar disso, Kassab tem defendido a posição de independência da sigla e mantém planos de concorrer como vice na chapa de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa pela reeleição ao governo de São Paulo em 2026. O presidente do PSD, por exemplo, tem defendido que o governador paulista "se fortaleça" para 2030.  

"Ele [Tarcísio] tem dito que fica muito honrado com a lembrança, e não exclui nada, mas tudo leva a crer que vai optar pelo projeto do estado. Se ele perder a eleição presidencial em 2026, São Paulo perde também um grande governador. Ele pode chegar com mais musculatura em 2030, após oito anos de realizações e entregas no estado", defendeu Kassab recentemente em entrevista ao jornal O Globo.

Além dessa movimentação de Kassab, o PSD conta ainda com nomes que fazem oposição diretamente ao presidente Lula, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior, e os prefeitos Topazio Neto (Florianópolis) e Eduardo Pimentel (Curitiba). A dupla de prefeitos, inclusive, foi eleita com vices do PL de Jair Bolsonaro. 

Lula pode fazer dança das cadeiras na Esplanada dos Ministérios 

Neste cenário, lideranças do PSD no Congresso avaliam que ainda é cedo para se prever alianças para 2026. Contudo, pelo perfil do partido, essas lideranças acreditam que o mais provável é que os diretórios estaduais sejam liberados para compor alianças de acordo com os seus interesses. 

Pensando em aumentar o palanque de Lula nas próximas eleições, integrantes do Palácio do Planalto não descartam a possibilidade de que haja uma reforma ministerial em 2025. Esse tema, no entanto, vem sendo tratado sob reserva entre os integrantes do governo e só deve ganhar tração após o balanço interno que Lula pretende fazer junto ao PT sobre os resultados das urnas na disputa municipal.

As possíveis trocas ministeriais já são, inclusive, discutidas pelos governistas e devem contemplar os principais membros do PSD dentro do Executivo. Atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem seu nome cotado para assumir a pasta das Relações Institucionais, comandada hoje por Alexandre Padilha e responsável pela articulação política junto ao Congresso.

Silveira ganhou notoriedade no governo Lula e costuma ser o ministro mais lembrado pelo petista nas conversas sobre a avaliação da sua gestão. "É um dos ministros mais atuantes da minha equipe, um incansável no seu trabalho. O Alexandre é capaz de tomar café em São Paulo, estar ao meio-dia em Minas Gerais, jantar no Rio de Janeiro e dormir no Rio Grande do Norte. Com ele não tem preguiça”, disse Lula recentemente durante sua passagem por Minas Gerais. 

Além disso, a avaliação é de que Silveira, tradicional político de Minas Gerais, se fortaleceu ainda mais após a vitória de Fuad (PSD) Noman na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte. O ministro de Minas e Energia, inclusive, destacou a importância do resultado para a composição do palanque de Lula no estado mineiro.

“Quem ganha em Minas, ganha no Brasil. A vitória do Fuad é uma sinalização para 2026, quando o presidente Lula fará uma frente ampla em Minas Gerais e ganhará as eleições. O presidente Lula é uma necessidade do Brasil e só terá condição de entregar seu legado em 2030. Vamos trabalhar para construir esse palanque forte para Lula em Minas”, afirmou Silveira, que coordenou a campanha de Lula no estado em 2022. 

Com uma eventual ida de Silveira para a articulação política, o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também passou a ser cotado para assumir o ministério de Minas e Energia. Aliados de Pacheco dizem que a relação com Lula vem se estreitando nos últimos meses, mas que o mineiro ainda não definiu o que pretende fazer após deixar o comando do Senado em fevereiro do ano que vem.

Sucessão da Câmara entra nos cálculos do Planalto e do PSD

Outro ponto visto com atenção pelo Palácio do Planalto e por integrantes do próprio PSD diz respeito à sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara no ano que vem. O partido de Kassab trabalha com a candidatura do deputado Antônio Brito e as articulações do presidente da sigla devem ser intensificadas com o fim das eleições municipais.

Lira declarou apoio formal a Hugo Motta (Republicanos-PB) nesta terça-feira (29). Ele já havia procurado Kassab para que o seu partido retirasse sua candidatura. O presidente do PSD, no entanto, manteve o nome de Brito na corrida e indicou que o PT de Lula será o "fiel da balança" na disputa.

“Eu acredito que o PT, por exemplo, em algum momento vai se definir corretamente e estão jogando para frente essa decisão. E vão ter que fazer uma aposta se vão ficar com o Hugo Motta, que tem como um ativo importante a excelente relação com Ciro Nogueira, que é o principal líder da oposição, com Eduardo Cunha, com Arthur Lira, ou o Elmar [Nascimento] ou o Brito do outro lado”, disse Kassab em entrevista à CNN Brasil.

Líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), fechou uma aliança com Antônio Brito para fazer frente ao nome de Hugo Motta. A expectativa agora é que Kassab comece a articular junto aos demais partidos um movimento para tentar esvaziar o candidato apoiado por Lira.

Lira, por sua vez, retirou o projeto de lei que poderia dar anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023 da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que o analisaria nesta semana, e o levou para uma comissão mista que ainda será criada. Analistas interpretaram o movimento como um possível pedido tácito de apoio ao governo para Hugo Motta. Isso porque o projeto da anistia é precioso para a direita e pode ter sua tramitação atrasada com o movimento.

O PT tem postergado uma definição sobre o seu apoio e, formalmente, o presidente Lula tem afirmado que não vai se envolver na disputa. O petista, no entanto, posou para fotos ao lado de Brito e Elmar durante sua passagem por Belém há duas semanas.

Deputados do PSD ouvidos pela reportagem avaliam reservadamente que um eventual embarque do PT na candidatura de Brito poderia ampliar o apoio da sigla ao governo petista. Esses parlamentares lembram, inclusive, que Brito se engajou pessoalmente na eleição em Camaçari, terceira maior cidade da Bahia e onde o PT venceu o segundo turno com a candidatura de Luiz Caetano.

“Temos outros partidos aliados e estamos agora em tratativas com o PT. Eu conversei com o presidente Lula em agosto, depois disso eu encontrei com ele, mas não tratamos sobre a sucessão. Até vi declarações que o presidente não irá tratar do assunto da sucessão”, afirmou Antônio Brito.

Já uma decisão de Lula em favor do candidato de Lira, Hugo Motta, pode junto com o sucesso do PSD na eleição municipal, aumentar a pressão de alas do partido para que Kassab adote uma linha mais independente do governo para o pleito de 2026.

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