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X divulga “ordem ilegal” de Moraes exigindo bloqueio de conta de cantor gospel do Brasil
O ministro do STF Alexandre de Moraes e o dono do X, Elon Musk.| Foto: EFE/Joédson Alves/Tolga Akmen/Pool

Na quarta-feira (18), a rede social X surpreendeu usuários e autoridades ao conseguir reverter sua suspensão no Brasil, mesmo sob um bloqueio executado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) após ordem judicial do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A estratégia da empresa para burlar o bloqueio envolveu o uso de uma rede de distribuição de conteúdo (CDN) chamada Cloudflare para complicar o trabalho da Anatel de manter a plataforma fora do ar no país.

O uso do serviço de "proxy reverso" da Cloudflare dificultou as tentativas de bloqueio por parte das autoridades brasileiras, tornando o acesso à plataforma disponível no país, ainda que de forma limitada. Essa tecnologia, que permite que os IPs do servidor do X sejam mascarados e dinamicamente alterados, tornou inviável o bloqueio tradicional.

Havia o risco de que serviços importantes como o de bancos ficassem fora do ar no Brasil caso o bloqueio de IPs fosse feito da forma tradicional. A Anatel, no entanto, conseguiu estabelecer uma colaboração com a Cloudflare, que vai isolar os IPs relacionados ao X para impedir que outros serviços sejam afetados.

Isso não significa, contudo, que Musk não possa arranjar outros subterfúgios. O especialista em redes e cibersegurança Filipe Augusto da Luz Lemos, professor pesquisador por cortesia da Universidade de Syracuse, em Nova York, explica que, embora a Cloudflare seja o maior serviço de CDN do mundo, há muitos outros disponíveis, alguns deles com presença no Brasil.

Caso algum serviço do tipo estivesse disposto a comprar a briga de Musk contra Moraes, o estado brasileiro depararia com um dilema, já que o bloqueio de uma CDN poderia supor a interrupção de serviços importantes para a população.

Lemos cita empresas como Google, Amazon AWS, Microsoft, Huge Networks, Fastly, Key CDN e Akamai, que fornecem serviços parecidos com o da Cloudflare.

"São alguns exemplos de serviços que ele poderia utilizar, mas poderia acabar sempre dando na mesma [que no caso da Cloudflare]. O grande ponto é que, se ele achar uma empresa que não tem representação legal no Brasil e tem comprometimento maior pela liberdade de expressão, o bloqueio começa a ficar mais difícil", explica.

"Ele pode escolher um serviço de CDN que seja internacional e que não tenha representação legal no Brasil, que dificulte [o bloqueio]. Nesse caso, como vão fazer? Vão bloquear o serviço inteiro? Como é um serviço compartilhado de IPs, não tem como", acrescenta.

Entenda o "jeitinho" do X com a Cloudflare que complicou a vida da Anatel

A colaboração da Anatel com a Cloudflare foi necessária para minimizar os riscos de um efeito cascata, já que uma medida de bloqueio total da Cloudflare poderia derrubar não apenas o X, mas também outros serviços que utilizam a mesma infraestrutura, incluindo bancos e sites do governo.

Apesar da colaboração, há alguns riscos: a Anatel já pediu aos provedores de internet que tomem cuidado para evitar efeitos colaterais durante o cumprimento da ordem de bloqueio.

No fim de agosto, para impedir que os usuários acessassem o X, a Anatel havia ordenado o bloqueio dos endereços IP (números que identificam dispositivos na internet) que o X usava para funcionar no Brasil.

No início, esses IPs pertenciam ao próprio X, o que facilitava o bloqueio. As operadoras de internet podiam facilmente impedir o acesso, bloqueando esses números específicos. No entanto, o X passou na quarta-feira a usar os serviços da Cloudflare, uma empresa americana que oferece uma CDN (Content Delivery Network, ou Rede de Distribuição de Conteúdo).

A CDN funciona como uma espécie de "intermediário" que ajuda a distribuir o conteúdo da internet de forma rápida e segura. Em vez de o X usar seus próprios IPs fixos, ele passou a usar os IPs da Cloudflare, que mudam constantemente.

Assim, o conteúdo do X chega aos usuários no Brasil sem passar diretamente pelos IPs bloqueados, tornando o acesso ao site possível novamente. Ao usar essa rede global, o X esconde seus IPs reais, dificultando o bloqueio feito pela Anatel.

Lemos explica que a Cloudflare é utilizada por diversas grandes empresas, e mais da metade do tráfego de internet do Brasil passa por ela. Por isso, é difícil bloqueá-la sem um efeito dominó com possíveis consequências para a própria segurança dos usuários. Uma das principais razões do uso dos serviços da Cloudflare é a proteção contra ataques cibernéticos.

Apesar da colaboração entre o estado brasileiro e a Cloudflare que praticamente derruba o subterfúgio encontrado pelo X, Elon Musk poderia continuar buscando novos meios de burlar as ordens judiciais, recorrendo a outras provedoras de infraestrutura digital. A migração para novos serviços de distribuição de conteúdo dificilmente significaria o restabelecimento completo do X no Brasil, mas poderia criar uma dor de cabeça para STF e Anatel, a depender do nível de disposição dessas outras empresas para atender a seus pedidos.

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