Flavio Rocha, da Riachuelo, se lançou candidato a presidente por considerar que o Brasil necessita de um conservadorismo nos costumes e um forte liberalismo econômico, e não enxergava nenhum candidato com esse perfil. Não escondi que o empresário, de fato, concentrava tais características e talvez fosse o melhor nome disponível.
Mas como sua candidatura não decolou, ainda que ele tenha ajudado a pautar o debate, os liberais-conservadores “órfãos” migraram em peso para o nome de Bolsonaro, inclusive eu. A prioridade era impedir a volta da extrema-esquerda, e ainda havia a chance de um governo efetivamente liberal na economia, se Paulo Guedes fosse mesmo indicado ministro e gozasse de ampla margem de manobra.
A dúvida era legítima. Afinal, Bolsonaro tem um passado mais estatizante. As dúvidas, porém, foram se dissipando à medida que Bolsonaro escolhia sua equipe e delegava poder de decisão a Guedes. Com isso, vai ficando mais claro os contornos de um futuro governo realmente liberal na área econômica, e firme no resgate de valores tradicionais quando o tema é moral.
É justamente por isso que Rocha publicou um texto hoje na Folha, bastante animado com o que vem por aí, e chegando a comparar Bolsonaro com Thatcher, um exagero, sem dúvida, mas que transmite a essência da mensagem de guinada à direita esperada pelo empresário, com combate duro aos sindicalistas. Diz um trecho do texto:
Em outra parte, Rocha faz o elo com a grande estadista britânica: “Com Bolsonaro, temos a nossa Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica que nos anos 80 dobrou os fortes sindicatos do país e colocou de joelhos o obsoleto Estado do bem-estar social, que apenas sobrecarregava a classe que realmente trabalhava”.
Sendo um pouco mais cético, prefiro esperar para ver se Bolsonaro vai mesmo merecer tal nobre comparação. Afinal, é preciso entregar os resultados, como fez a dama de ferro. Mas entendo o ponto do empresário: o futuro presidente tem todos os quesitos para se tornar o estadista brasileiro que derrubou de vez o modelo fracassado que dominou nossa política e economia por décadas desde a redemocratização.
O fim do Ministério do Trabalho, a equipe econômica escolhida, o ministro do Meio Ambiente proveniente do movimento Endireita Brasil, o ministro da Educação sendo um respeitado intelectual conservador, tudo aponta para um governo que vai, de fato, deixar para trás esse ranço vermelho responsável por nosso atraso.
Há, sim, como já constatei em outros textos, motivos de sobra para otimismo e ânimo. O que se viu até aqui é alvissareiro. Flavio Rocha, ao ter puxado o debate para esse lado, também tem motivo de sobra para se sentir orgulhoso. Foi um dos empresários corajosos que contribuíram para essa mudança no clima intelectual do país, preparando o terreno para a chegada da direita ao poder com uma agenda reformista liberal na área econômica e conservadora na área cultural. Vamos em frente!
Rodrigo Constantino